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Desmatamento ilegal cresce em Rondônia

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: KÁTIA BRASIL
20 de Out de 2003

Entre 2001 e 2002, Estado foi devastado em uma área de 234.269,74 ha a mais do que o autorizado pelo Ibama

Desmatamento e queimada de floresta em estrada próxima a acampamento de trabalhadores sem terra em Jacinópolis, em Rondônia
A pressão da migração de trabalhadores sem terra e a expansão das frentes de exploração ilegal de madeira transformaram a região ao sul de Porto Velho, em Rondônia, numa nova Paragominas, a cidade do oeste do Pará que contribui, desde os anos 90, com as maiores taxas de desmatamento na Amazônia Legal.
A afirmação é da ONG ambientalista internacional Greenpeace, de especialistas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) ouvidos pela Agência Folha.
Segundo o Greenpeace, Rondônia é o terceiro Estado que mais desmatou no biênio 2001-2002, atrás de Mato Grosso e do Pará, após cruzamento de dados do Ibama e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Em 2001, o Ibama autorizou o desmate de 12.230,26 hectares em Rondônia, mas imagens de satélite do Inpe apontaram um total desmatado de 246.500 ha no biênio 2001-2002. Ou seja, há uma diferença de 234.269,74 ha.
No Pará, o desmate ilegal, segundo essa estimativa do Greenpeace, atingiu 659.517,46 ha, em Mato Grosso, 566.189,43 ha, e no Amazonas, 56.875,50 ha.
"O que acontece em Rondônia é a aplicação da receita para a destruição de florestas como aconteceu em Paragominas. Tem madeireiros sem estrutura nenhuma, outros que tentam se legalizar nem que seja para conseguir um papel e outros que nem isso. É um verdadeiro garimpo florestal", afirmou Nilo D'Ávila, coordenador de projetos da ONG Greenpeace na Amazônia.
Os caminhões com carrocerias abarrotadas de madeiras em toras que trafegam pela precária BR 364 (Porto Velho/Cuiabá), conforme a Agência Folha presenciou na semana retrasada, apontam para uma realidade terrestre ainda mais desenfreada do que registrada nas imagens do Landsat, o satélite usado pelo Inpe para coletar as cenas da floresta.

Outra Paragominas
Segundo o coordenador do Departamento de Ecologia do Inpa Philip Martin Fearnside, 56, especialista em impacto de desmatamentos e ocupação humana, a diferença entre Paragominas e Rondônia é que a venda da madeira substituiu até os financiamentos do governo no financiamento para o desmatamento.
"A madeira nessa região [Rondônia] é muito importante porque paga o sistema de pistoleiros e desmatamentos e substituiu os financiamentos governamentais. A situação está sem controle. O governo, faz anos, não defende a parte ambiental, procura cada vez mais liberar áreas para o desmatamento, confrontando com as leis federais. É preciso que o governo federal assuma essa responsabilidade", afirmou Fearnside.
A ação de devastação nas florestas que cercam as áreas críticas do sul de Porto Velho, como as cidades de Ariquemes, Buritis (nessa localidade há três anos não existe autorização legal de desmate), Nova Mamoré e Campo Novo de Rondônia, é arregimentada nos acampamentos de sem-terra, onde o governo não tem acesso.
Ali, os sem-terra abrem a floresta para os tratores dos pequenos madeireiros e para os grandes empreendedores, que perderam suas licenças ambientais, mas precisam continuar no mercado da madeira. Em todas as margens das estradas a imagem é a mesma: áreas degradadas e toras à espera de transporte, conforme a Agência Folha verificou.

Corrupção
Na região sul de Rondônia, os madeireiros trabalham noite adentro, chegando a derrubar 80 árvores por dia. O preço médio por m³ na extração chega a R$ 150, o que possibilita R$ 50 mil de faturamento. O negócio é muito mais rentável quando a madeira chega às serrarias com preços de R$ 80 a R$ 800 o m³.
Quatro fiscais do Ibama foram afastados sob acusação de corrupção. Na região foram encontradas 32 serrarias fantasmas, abertas com apoio dos fiscais. Um deles, já exonerado do serviço público, ajudou os madeireiros a invadir a reserva indígena urueu-uau-uau, que se sobrepõe com outro ponto de pressão, o Parque Nacional de Pacaás Novos.
"Era uma quadrilha que funcionava com apoio dos funcionários do Ibama", afirma Osvaldo Pitalluga, gerente-executivo do Ibama em Rondônia.
Mais de 80 madeireiras foram multadas em R$ 3 milhões, mas o escritório do instituto em Ariquemes está quase inoperante, devido ao afastamento dos funcionários. "Apesar das nossas dificuldades, nós estamos agindo", disse Pitalluga.
Segundo Fearnside, os impactos dos desmatamentos sobre a floresta amazônica são o esgotamento dos recursos naturais da floresta usados pelas populações, degradação dos solos e rios, desvalorização da biodiversidade, emissão de gases como carbono e metano, que aumentam o efeito estufa [fenômeno que causa aumento da temperatura do planeta], além de impactos na ciclagem das águas nas regiões Sul e Sudeste do país. "A Amazônia tem um potencial imenso de recursos que pode mudar a situação econômica. O que está se perdendo [com a destruição] é o valor da própria floresta para sustentar as populações", afirmou.

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