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Desmatamento causado por garimpos na Amazônia aumenta 23% em 2019 e bate recorde histórico

O Globo, Outros Assuntos, p. 24
07 de Mai de 2020

Desmatamento causado por garimpos na Amazônia aumenta 23% em 2019 e bate recorde histórico
De acordo com dados do Ibama, a área destruída por garimpeiros em 2019 equivale a mais de 10 mil campos de futebol

Leandro Prazeres

BRASÍLIA - No primeiro ano do governo do presidente Jair Bolsonaro, a Amazônia registrou o maior volume de desmatamento causado por garimpo desde que o dado começou a ser computado, em 2015. Relatório elaborado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) obtido com exclusividade pelo GLOBO mostra que, em 2019, os garimpos na região foram responsáveis pelo desmatamento de uma área de 10,5 mil hectares de florestas, um aumento de 23% em relação a 2018, quando foram desmatados 8,5 mil hectares. A área destruída por garimpeiros em 2019 equivale a mais de 10 mil campos de futebol.

O relatório do Ibama foi produzido em resposta a um pedido feito via Lei de Acesso a Informação (LAI) pela reportagem do GLOBO. A equipe técnica do órgão utilizou dados do Sistema de Detecção de Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real -B(Deter-B). O desmatamento causado por garimpo começou a ser medido em 2015 e é um dos principais indicadores sobre o avanço da atividade na região.

"O ano de 2019 bateu o recorde do histórico analisado com 10.557 hectares degradados por essa classe de alteração do uso do solo", diz o documento.

O monitoramento é feito com base em imagens de satélite. Considerando que o satélite capta imagens ao longo de todo o ano, é possível que o desmatamento causado por garimpos seja ainda maior porque, durante pelo menos quatro meses, a formação de nuvens de chuva sobre a floresta impede a captura de imagens de toda a região abrangida pelo satélite.

"Os picos de detecção ocorrem no segundo trimestre do ano, época menos chuvosa, que é o período quando as imagens de satélite apresentam diminuição na cobertura de nuvens", diz outro trecho do relatório.

O documento diz ainda que o fato de haver menos detecção de garimpos durante a época de chuvas não significa diminuição da atividade garimpeira porque, na avaliação dos técnicos do Ibama, o garimpo "é uma atividade que não apresenta entre-safra".

O levantamento feito pelo Ibama considerou sete estados da Amazônia Legal: Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Amapá e Maranhão. Ficaram de fora os estados do Tocantins e Acre, que tradicionalmente não são afetados tão afetados pela atividade garimpeira.

Ainda de acordo com o relatório, a área mais afetada em 2019 é a região oeste do Pará, na bacia do rio Tapajós e nas sub-bacias dos rios Crepori e Jamanxim. Em março deste ano, agentes do Ibama, Polícia Federal e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizaram operações para desmantelar garimpos ilegais na região.

Na avaliação de ambientalistas e membros do Ministério Público Federal (MPF), o aumento no desmatamento causado por garimpeiros tem relação direta com as políticas e declarações adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro, um notório defensor da atividade.

Ao longo de 2019, Bolsonaro deu diversas declarações defendendo os garimpos na Amazônia. No início deste ano, ele enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta a exploração mineral em terras indígenas.

- Há dois aspectos que explicam esse aumento. O primeiro é que houve um enfraquecimento da fiscalização ambiental. Houve diminuição no número de operações, de multas aplicadas. O segundo aspecto são as declarações do presidente amplamente favoráveis ao garimpo e que contrariam a fiscalização. Isso sinaliza que há uma tolerância do governo em relação à garimpagem ilegal - afirmou o coordenador da Câmara do MPF responsável por crimes ambientais, Daniel Azeredo.

- Além de tudo isso, ainda há uma troca de comando do setor de operações de fiscalização do Ibama logo após operações contra garimpeiros em terras indígenas. Isso vai mostrando para o garimpeiro lá na ponta que dificilmente ele terá problemas com o governo se descumprir a lei - disse o procurador.

Azeredo se referiu à exoneração de diretores e coordenadores de proteção e fiscalização do Ibama em abril deste ano após a realização de operações de combate a garimpeiros em terras indígenas no Pará. O caso está sendo investigado pelo MPF.

Para o ambientalista Antonio Oviedo, que coordena o programa de monitoramento do Instituto Socioambiental, o recorde de desmatamento por garimpo na Amazônia confirma uma tendência observada pela entidade desde o início do ano passado.

- O dado não chega a nos surpreender porque a gente tinha acompanhando e denunciando essa situação ao longo do ano passado. Mas é triste quando a gente se deparar com a quantidade de área destruída. Infelizmente, a gente percebe que há uma relação quase que direta entre as manifestações do presidente e o aumento do desmatamento e da atividade garimpeira - disse o ambientalista.

A reportagem enviou questionamentos ao Ibama, Ministério do Meio Ambiente e à Presidência da República. Até o fechamento desta matéria, nenhum órgão havia se pronunciado.

O Globo, 07/05/2020, Outros Assuntos, p. 24.

https://oglobo.globo.com/brasil/desmatamento-causado-por-garimpos-na-am…

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