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Demissão de Possuelo repercute mal em Belém

O Liberal-Belém-PA
25 de Jan de 2006

Quando o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira, exonerou o indigenista Sidney Possuelo do cargo de coordenador geral de Índios Isolados, imaginava que ali se encerrava o desconforto que criou ao declarar à agência de notícia Reuters, no dia 12 deste mês, que existem "terras demais" para os índios no Brasil, fato amplamente criticado por Possuelo. Porém, o que fez foi dar mais munição para quem trabalha em prol da causa indígena, pois o sentimento de ofensa com a declaração foi geral entre os profissionais da área.

O indigenista Francisco Potiguar, conhecido como Chico Potiguar, técnico da Funai em Belém, considerou lamentável a declaração do presidente da fundação. "Ele é um grande defensor da causa dos índios, mas, para defender o governo, acabou derrapando e dando essa declaração desastrosa. Entrei em contato com a sede da Funai, em Brasília e, pelo que o Mércio informou em nota oficial, a agência deturpou o que ele disse. Apesar disso, considero todo o episódio muito sério, porque o departamento que o Sidney comandava tem mais recursos que a própria Funai como um todo, e é o mais visado internacionalmente, porque o índio nu, sem contato com os brancos, é o que o mundo inteiro quer ver, não importa se há inúmeros grupos que sofrem com séculos de contato", analisa.

Cimi - "Desastroso" também é o adjetivo empregado por Claudemir Teodoro Monteiro, à frente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) regional Norte II (que abrange Pará e Amapá) para a declaração de Mércio. Para o conselheiro, é um exemplo do descaso da política governamental, principalmente quanto à demarcação territorial. "A Funai diz que tem o controle da situação da terra, mas as organizações não-governamentais (ONGs) pró-índios garantem que está fugindo do controle. No Mato Grosso do Sul, encontramos milhares de índios na beira das estradas, sem ter onde morar. Dois ou três grupos no Pará estão em risco de diminuição de suas terras. Aí vem o responsável por toda essa política e diz que as denúncias são exagero. Quando ele afasta do cargo aquele que critica suas declarações acaba demonstrando fragilidade. Se a exoneração foi um jogo político, o retorno que o ato teve foi mau e a repercussão mais negativa ainda".

Divergências - Claudemir considera que tal declaração mostra bem para onde a política indigenista da adminsitração Lula aponta. "O presidente da Funai, que deveria defender os índios, vem e declara algo que corresponde ao discurso dos empresários e madeireiros. É como se tivesse ligação com agronegócios, madeireiros, os fazendeiros de soja no oeste do Pará e Mato Grosso. Isso é apenas um expoente de uma administração que ainda não definiu uma linha e acaba dando continuidade à política absurda do governo Fernando Henrique Cardoso, que criou um decreto que permite a redução das terras indígenas", criticou.

Pessoal - Apesar de concordar com as críticas feitas por Sidney Possuelo, Chico Potiguar diz que os índios não são a única motivação do famoso indigenista. "O Sidney e o Mércio têm uma divergência histórica, eles não se falam há anos. Em novembro do ano passado, durante o Encontro Internacional de Índios Isolados, realizado em Belém, o Sidney não queria fazer parte da mesma mesa que o Mércio, e acabou saindo com outros indigenistas e falando muito mal dele", revela.

Chico explica que, apesar da importância do departamento, são poucos os grupos de índios isolados no Brasil. Não há um número exato, mas estimativas baseada em vestígios. Os dados oficiais da Funai apontam que não há mais do que 120 índios (entre crianças, adultos e idosos) isolados em todo o território brasileiro. No Pará, o grupo considerado o mais importante nesta linha é o Zoé, de Cuminapanema, terra indígena localizada na fronteira do Pará com o Amapá, próximo às cidades de Alenquer e Oriximiná, e que foi contactado há algum tempo.

Com a exoneração de Sidney Possuelo, Chico antecipa que o departamento que o indigenista comandava deverá ser dissolvido e transformado em uma coordenação. Ele arrisca até palpites sobre os possíveis substitutos: "Acho que quem vai é o Moacir (Melo, administrador regional da Funai em Belém), que seja talvez a mais experiente das pessoas em contanto com índios isolados. Há ainda o Wellington Pereira Gomes, que é um dos maiores indigenistas do Brasil, só que é pouco conhecido do público porque não gosta dos holofotes, como o Sidney gosta", observa.

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