VOLTAR

Decreto de Trump revoga atos de Obama contra aquecimento global

FSP, Mundo, p. A12
29 de Mar de 2017

Decreto de Trump revoga atos de Obama contra aquecimento global

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Na presença de mineiros e de representantes da indústria de combustíveis fósseis, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma "nova revolução energética" ao assinar nesta terça (28) um decreto que revisa ou suspende decisões tomadas pelo governo de Barack Obama para frear o aquecimento global.
O principal alvo é o Plano de Energia Limpa, que restringe a emissão de gases por usinas a carvão. "O meu governo está acabando com a guerra contra o carvão", disse Trump, na sede da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). "Estamos acabando com o roubo da prosperidade americana e revivendo nossa amada economia."
Segundo o presidente, o decreto vai promover a "independência energética" e recriar empregos na indústria de combustíveis fósseis que teriam sido perdidos com as medidas do governo de Barack Obama.
"Os mineiros me falaram sobre o ataques aos seus empregos. Eu fiz a eles essa promessa: vamos colocar os mineiros de volta ao trabalho", disse, sob aplausos.
O decreto orienta o chefe da EPA, Scott Pruitt, a revisar o Plano de Energia Limpa -o principal legado de Obama na área ambiental- e, se for "apropriado", suspendê-lo.
-
Acordo de Paris
Decreto será obstáculo para EUA cumprirem meta assumida no Acordo de Paris: corte de emissão de gases estufa em 26% até 2025, em relação a 2005
Enquanto era procurador-geral do Estado de Oklahoma, Pruitt foi um dos que entraram com uma ação contra a EPA por causa do plano -ele processou a agência 14 vezes antes de ser indicado para chefiá-la.
O Plano de Energia Limpa, cuja meta era reduzir em 32% as emissões do setor de energia até 2030 (com base nos números de 2005), já estava suspenso após ter sido contestado judicialmente por 27 Estados, além de sindicatos e associações comerciais.
Para justificar sua decisão, o governo Trump citou um relatório da consultoria Nera, segundo o qual o preço da energia subiu pelo menos 10% em 41 Estados por causa das restrições.
Se Trump tentar acabar com o plano, no entanto, certamente será contestado na Justiça. Durante o governo Obama, procuradores-gerais de pelo menos 18 Estados e diversas organizações de defesa do meio ambiente se mobilizaram para defender as restrições às usinas nos tribunais.
Especialistas sustentam que acabar com o plano não vai significar necessariamente uma retomada dos empregos em usinas de carvão, porque a atividade hoje requer menos mão-de-obra por estar mais automatizada.
Sam Adams, diretor do World Resources Institute, observa que o país produz 50% mais carvão hoje do que na década de 1940, mas a indústria emprega o equivalente a um oitavo dos mineiros que trabalhavam com carvão há 70 anos.
"Isso não vai trazer os empregos de volta para a indústria de carvão e ainda vai jogar um balde de água fria na mudança que o país estava fazendo em direção à energia renovável", diz Adams. Segundo ele, só a energia solar foi responsável por um em cada 50 novos postos criados nos EUA em 2016.
O decreto também acaba com a proibição de concessão de terras federais para a construção de novas usinas a carvão.
Em outra decisão importante, cancela regras para a redução das emissões de metano na produção de petróleo e gás natural e retira restrições à extração de gás de xisto.
No texto, Trump orienta as agências federais a apresentar, em 120 dias, um primeiro relatório com regulações que estariam servindo de "obstáculo" à indústria de energia e que devem ser revisadas ou abolidas.
ACORDO DE PARIS
Apesar de o decreto oficialmente não abandonar a meta assumida pelos EUA, em 2015, sob o Acordo de Paris -de cortar, até 2025, as emissões de gases-estufa em 26% em relação aos níveis de 2005-, as mudanças impostas tornam o seu cumprimento muito mais difícil.
Segundo Michael Oppenheimer, cientista da Universidade Princeton, o país teria que adicionar mais regulações, e não retirá-las, se quisesse realmente cumprir o que propôs.
Para ele, com o decreto, os EUA enviam um sinal ruim aos demais países de que não é preciso cumprir as metas do Acordo de Paris. "Isso significa que o mundo não conseguirá ficar fora da zona de perigo", disse, ao "New York Times".
O decreto de Trump se soma a outras decisões recentes que revoltaram organizações de defesa do meio ambiente, como a retomada da construção do oleoduto Keystone XL, que havia sido barrado por Obama.
O presidente também propôs a redução de 31% do orçamento da EPA, em favor do aumento dos gastos com defesa.

VOLTA ATRÁS
O que prevê o decreto assinado por Trump
> Ordena que a Agência de Proteção Ambiental revise o Plano de Energia Limpa (que restringe emissão de gases por usinas de carvão) e, se for "apropriado", revise ou suspenda partes do plano
> Cancela regras para a redução das emissões de metano na produção de óleo e gás natural e retira restrições à extração de gás de xisto
> Elimina a proibição de concessão de terras federais para a construção de novas usinas a carvão
> Orienta agências federais a revisar regulações e políticas que servem de "obstáculo" ao desenvolvimento dos recursos de energia dos EUA e a apresentar, em 120 dias, um primeiro relatório para possíveis substituições
> Ordena a revisão do "custo social" dos gases do efeito estufa em análises de impacto ambiental

FSP, 29/03/2017, Mundo, p. A12

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/03/1870482-trump-assina-decreto…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.