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De olho na cadeia produtiva

O Globo, Razão Social, p. 6
01 de Set de 2009

De olho na cadeia produtiva
Fórum Aquecimento Global elogia a redução de impacto das empresas

Soraya Aggege
Especial para o Razão Social

As empresas brasileiras têm tido êxito na redução dos impactos ambientais, mas precisam passar a olhar mais para suas cadeias produtivas.
Essa é a tendência da economia responsável, segundo alertou o coordenador de Desenvolvimento Sustentável do Banco Mundial para o Brasil, Mark Lundell.

- Os empresários brasileiros têm tido êxito em suas próprias fábricas, mas precisam passar a olhar o impacto ambiental não só de seus próprios negócios, mas da cadeia produtiva que integram. Eles precisam observar mais de onde vêm seus produtos, e preferir comprar de quem não produz impactos ambientais. Essa é a tendência da melhor economia- disse Lundell, que participou, em meados do mês passado, do Fórum Aquecimento Global - Soluções Viáveis, organizado pela Fecomércio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo).

Para o executivo do Banco Mundial, apesar do desmate da Floresta Amazônica, o Brasil já tem muito a ensinar ao mundo, na redução dos gases de efeito estufa.

- Em termos de mitigação per capita, o Brasil tem uma das menores emissões de CO2 do mundo. O país tem até 90% de energia hidrelétrica, além de até 30% de combustíveis renováveis, como o etanol. O grande desafio, no entanto, é reduzir o desmatamento.
Mas o Brasil também tem feito isso: a proporção do desmatamento baixou de 70% para 40% nos últimos três anos. Isso é muito bom, mas não significa que o país não possa fazer ainda muito mais - disse.

Lundell frisou ainda que os novos financiamentos para a economia sustentável têm vindo de várias fontes, como pelos créditos de carbono e várias linhas de financiamentos diretos, além dos fundos, como o Fundo da Amazônia.
Presidente do Conselho de Estudos Ambientais da Fecomércio, José Goldemberg, professor da USP (Universidade de São Paulo), não tem a mesma avaliação de Lundell.

Em entrevista durante o evento, o professor fez duras críticas ao governo federal, com relação às políticas ambientais. De acordo com Goldemberg, o sistema energético brasileiro já foi bom, mas não apresenta boas perspectivas.
Segundo avaliou, tem ocorrido muita demora do governo em licenciar hidrelétricas, ao mesmo tempo em que se tem autorizado termelétricas (sistemas a base de combústiveis como o carvão):
- Hoje nossa energia provém de hidrelétrica em 85%, mas até 2017 será apenas 70%, se o governo federal mantiver seus projetos - reclamou o especialista.

Outro problema, conforme avaliou, são os dados sobre o desmatamento da Amazônia. Apesar da evidente queda nos índices de desmate, os dados andam "controversos", segundo afirmou.

- Não é só nesse governo também, parece que todos os governos querem mostrar que há uma redução e enfeitam os dados analisados pelo Inpe- disse.
Ainda segundo o pesquisador, a posição do governo brasileiro sobre a reunião climática que vai acontecer em Copenhangue (Dinamarca), em dezembro, tem sido "vacilante". Ele defende que o governo assuma posturas mais veementes e não se posicione de modo a proteger a China, que é um dos principais poluidores mundiais.

Depois de criticar o governo Lula, Goldemberg afirmou que "a única medida concreta de governo no Brasil foi do prefeito de São Paulo", Gilberto Kassab (DEM). De acordo com o professor, o prefeito estabeleceu a meta de reduzir as emissões em 20% até 2020. Ele destacou as tentativas da Prefeitura de São Paulo de melhorar o código de obras da cidade, optando por construções mais ecológicas e investido na inspeção veicular.

Goldemberg avaliou, no entanto, que foi uma falha Kassab começar a inspecionar os veículos pelos mais novos, que emitem muito menos poluentes, em vez de cuidar da frota mais antiga. São Paulo tem seis milhões de veículos em circulação. A cidade, na realidade, responde por um total de 10% das emissões de CO2 de todo o Brasil. Os índices atuais de poluição da cidade fazem com que os moradores percam, em média, um ano e meio de vida.

- O Brasil polui mais por causa do desmatamento da Amazônia. Mas nas cidades, o grande vilão na emissão de CO2 são os transportes - disse ele.

O Globo, 01/09/2009, Razão Social, p. 6

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