VOLTAR

Cubatao planeja dragagem ambiental

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p.A9
04 de Mar de 2004

Cubatão planeja dragagem ambiental
Método do exército americano deverá melhorar condições de navegação e reduzir passivos. O Pólo Industrial de Cubatão, formado por 36 empresas, está realizando estudos para a execução da primeira dragagem com controle ambiental do Brasil, a ser feita no canal da Piaçagüera, no estuário de Santos. O canal é um trecho de 5.100 metros de extensão por 100 metros de largura, localizado entre o bairro santista da Alemoa e a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), utilizado pelas embarcações que chegam e saem dos dois terminais marítimos de Cubatão, pertencentes às empresas Cosipa e Ultrafértil. Para operar com boas condições de navegabilidade, o canal deve ter 12 metros de calado - profundidade da linha dágua até o solo. Na parte central do canal, no entanto, a profundidade foi reduzida 11 metros e, em alguns trechos, chega a 8 metros. "Sem uma dragagem nos próximos 12 meses, aumentam os risco de avarias e mesmo encalhe de navios, o que poderá gerar impactos ambientais e econômicos, pois o Pólo de Cubatão é 100% dependente do canal de Piaçagüera", afirma Benito Martinez Santiago, coordenador do comitê técnico de desenvolvimento sustentável do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Cubatão, que está à frente da iniciativa. Desde 1997 não são realizadas dragagens no local, suspensas quando a Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental (Cetesb) constatou grande quantidade de poluentes organoclorados e metais pesados nos sedimentos. Os primeiros estudos para uma dragagem ambientalmente correta começaram a ser feitos há três anos pela Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas (Fundespa), organização sem fins lucrativos ligada ao Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, o projeto está em fase de elaboração do estudo e relatório de impacto ambiental (EIA/Rima), que deverá estar pronto dentro de dois meses. O processo de licenciamento ambiental está sendo conduzido pela Consultoria Paulista, e o consórcio responsável pela execução das obras será formado pela Camargo Corrêa e a holandesa Ster, que cuidará da locação dos equipamentos. Overflow A tecnologia da dragagem com controle ambiental, que deverá ser empregada no canal de Piaçagüera, é inédita no Brasil e foi desenvolvida na década de 1970 pelo U. S. Army Corp of Engineers (Usace), braço do exército americano para soluções em engenharia e meio ambiente. O método consiste na disposição dos sedimentos contaminados presentes no estuário dentro de cavas profundas no interior do próprio canal. Os sedimentos são aterrados por materiais não contaminados, como argila e areia, confinando os poluentes. "Funciona como um aterro sanitário controlado subaquático", explica o professor Luiz Roberto Tommasi, diretor presidente da Fundespa. A técnica evita o overflow, que é a mistura dos contaminantes com a água do mar, comum nas operações de dragagem convencionais, que comumente retiram o lodo contaminado do estuário para depositá-lo em alto-mar. Nessas operações, existe ainda riscos inerentes ao transporte e o impacto nas áreas em que os contaminantes são colocados. O know-how do Usace já foi empregado em portos de diversos países, como os de Boston, nos Estados Unidos, o de Hong Kong e o de Roterdã, na Holanda. A tecnologia requer monitoramentos periódicos - de duas a três vezes ao ano - para assegurar que os poluentes continuam sob o solo, a despeito da dinâmica marinha. As empresas que formam o Pólo de Cubatão já investiram R$ 4 milhões nos estudos para o projeto, entre pesquisas, análises físico-químicas e viagens ao exterior. E os investimentos devem aumentar. De acordo com Benito Santiago, do Ciesp, a dragagem com controle ambiental chega a custar até cinco vezes mais que a convencional. A expectativa é de que as operações durem 12 meses e retirem 2,5 milhões de m³ de sedimentos do canal, sob um custo estimado de R$ 40 milhões. Uma operação de dragagem convencional custaria em torno de R$ 8 milhões. "O propósito desse projeto é melhorar as condições de navegabilidade sem causar novos passivos ambientais. Não é uma dragagem para limpar o estuário, mas deve trazer ganhos", afirma Santiago. O canal de Piaçagüera foi aberto em 1965 e já passou por sete dragagens de manutenção. Segundo o Ciesp, em 1999 já havia sido detectada a necessidade de uma dragagem no canal, que não foi realizada devido às restrições dos órgãos ambientais. "Além de metais pesados e compostos organoclorados, o estuário concentra ainda matéria orgânica proveniente de esgotos e poluição difusa", afirma Tommasi. A maior parte dos poluentes, no entanto, é resultante de antigos passivos das indústrias da região, lançados no ambiente em uma época em que não havia um controle mais rígido. "O fundo do estuário funciona como um filtro, que impede que parte dos contaminantes vaze para o alto-mar", explica o professor.
GM, 04/03/2004, p. A9

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.