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Crescem as preces evangelicas no meio da floresta amazonica

OESP, Geral, p.A12
02 de Set de 2004

Crescem as preces evangélicas no meio da floresta amazônica
Rondônia tem o maior porcentual de adeptos no Brasil; são 382 mil, ou 28% da população
Juliane Bandeira e Nilton Salina
Especiais para o Estado
PORTO VELHO - A agricultora Ana Lúcia da Silva, de 25 anos, se converteu ao evangelho no meio da selva amazônica. Ela caminha quatro horas pela estrada, com um bebê de 2 meses no colo e acompanhada de mais três filhos pequenos, até chegar à Igreja Assembléia de Deus, no km 40 da BR-364.
Há alguns metros do templo de madeira aparecem as gigantescas árvores da Amazônia.
Rondônia tem o maior percentual de evangélicos do Brasil. Segundo o Censo 2000 do IBGE, há no Estado 1.379.787 habitantes. Desses, 382.333 pessoas, ou 28%, são adeptas de igrejas como Assembléia de Deus, Batista, Cristã do Brasil e Universal do Reino de Deus. Alguns templos foram construídos para atender comunidades ribeirinhas e tribos indígenas.
O acesso a esses lugares geralmente é difícil. A agricultora Erly da Silva, de 32 anos, pede emprestada a bicicleta do vizinho e pedala uma hora com seus quatro filhos pelo acostamento da BR-364 para participar dos cultos. À noite, os fiéis usam lanternas para avistar animais.
Erly conta que se converteu após ter sido picada por uma cobra na propriedade onde trabalha. "Saía sangue pela minha boca e sentia dores de cabeça." Ela afirma que melhorou depois de receber a visita do pastor Francisco Sales, de 54 anos. "Ele fez uma oração e a doença foi embora."
O pastor Sales percorre as estradas e trilhas da Amazônia de bicicleta.
Algumas vezes, sai de casa pela manhã e só retorna no dia seguinte. "As distâncias entre os sítios são muito grandes. Alguns dias, chego a percorrer mais de 30 quilômetros por estradinhas cercadas pela selva."
Sales é o desbravador do trabalho no km 40 da BR-364. Segundo ele, há dez anos ajudou a construir a igreja de madeira. Começou visitando as propriedades e logo surgiu a necessidade do templo. Atualmente, cerca de 40 fiéis se reúnem ali quatro vezes por semana.
O pastor conta que foi destacado para o lugar porque havia pessoas morando ali. "Não importa se eles não têm dinheiro nem estudo. O evangelho é para todos."
A explicação para o grande número de evangélicos pode estar ligada à colonização do Estado. Em 1903, quando o então Território Federal do Guaporé começava a receber trabalhadores para construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, muitos barbadianos aportaram no Rio Madeira. A ilha de Barbados fica nas Antilhas. Eram na maioria anglicanos e fundaram a primeira Igreja Batista de Porto Velho. A instalação durante a formação da região reforçou a religiosidade no local.

OESP, 02/09/2004, p. A12

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