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Conferência Nacional expõe as diferentes faces do Brasil rural

Dourados Agora - www.douradosagora.com.br
28 de Jun de 2008

A diversidade do campo brasileiro está estampada nos rostos, cores, vestimentas e adereços dos dois mil participantes da I Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, em Pernambuco.

Mulheres quebradeiras de coco, pescadores, indígenas e quilombolas têm no evento a oportunidade de expor suas propostas em quatro eixos de discussões: Desenvolvimento Socioeconômico e Ambiental, Reforma Agrária e Acesso aos Recursos Ambientais, Qualidade de Vida no Brasil Rural, e Participação Política e Organização Social.

"Nos preocupamos em dar um tratamento mais específico aos indígenas e quilombolas, em como a participação deles podia aumentar e melhorar dentro da Conferência. Isso também ocorreu em relação às mulheres, extrativistas e pescadores", conta a coordenadora da Secretaria do Condraf, Roseli Andrade.

"Esse é um processo desencadeado há um ano, desde que o Condraf (Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável) decidiu fazer a Conferência Nacional. É algo que ocorre desde as conferências territoriais e estaduais que prepararam esta etapa nacional".

E as opiniões desses grupos tão diversos de trabalhadores e trabalhadoras no campo proliferam nas 21 salas de discussões da Conferência, promovida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

O evento ocorre no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. Confira abaixo, os diferentes enfoques dos representantes desse público sobre o Brasil Rural que Queremos. Dessas proposições, entre tantas outras, será extraído neste sábado (28) o documento-final da Conferência.

Indígenas

Uma política que contemple de fato o índio, com redução da burocracia e mudança de mentalidade sobre o papel desempenhado pelos primeiros habitantes do Brasil no crescimento do País. Esses são alguns dos desejos que o representante do Conselho Nacional dos Povos Indígenas, Saturnino Rudzaneedi, espera ver realizados a partir das discussões da I CNDRSS.

Índio xavante do Mato Grosso, ele avalia a I CNDRSS como uma oportunidade de promover uma nova imagem do seu povo "Precisamos mudar a mentalidade de que índio é fator de atraso. Nós queremos o desenvolvimento do País, mas não de qualquer jeito", defende, lembrando que boa parte das áreas verdes que ainda restam estão em territórios indígenas, como prova da preocupação com a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente.

A necessidade da aplicação de políticas específicas é uma das idéias defendidas pelos indígenas. Nas suas próprias terras e com crédito, os índios esperam construir, junto com ribeirinhos, quilombolas e trabalhadores no campo, "um Brasil Rural sem guerras, onde todos vivam em paz".

Quilombolas

Assunção Aguiar é uma das delegadas representantes das comunidades quilombolas na I CNDRSS. Ela trabalha em comunidades do Piauí com o Projeto Até no Quilombo, do governo do estado, e também é coordenadora de Comunicação do Centro Afro-Cultural Coisa de Negro, em Teresina. "Esta Conferência tem sido uma experiência fantástica, em que fazemos um diagnóstico e trabalhamos na organização das comunidades negras remanescentes de quilombos", conta ela.

Segundo Assunção, é importante ressaltar que a comunidade se percebe protagonista da sua própria história e começa a reivindicar o acesso às políticas públicas. Exemplos disso são a inserção das mulheres quilombolas no Programa Luz para Todos, do Ministério de Minas e Energia, e no recebimento gratuito de documentação, ação do Programa de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia (Ppigre), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). "Esta Conferência é uma leitura das políticas públicas muito importante para as nossas comunidades", reflete.

Pescadores

Informação é uma das maiores carências dos pescadores artesanais para o acesso às políticas públicas. Por isso, a pescadora Marilei Fontes, de Ilha Comprida, em São Paulo, já se diz ansiosa para retornar à sua comunidade. "Conheci muitos projetos que eu nem sabia da existência, experiências que vão ajudar a resolver problemas que enfrentamos lá. Vai favorecer muito a minha região", comemora.

Filha de pescadores de uma família tradicional da Ilha Comprida, Marilei trabalha junto a 10 pescadores. A pesca de armação, em que grandes barcos capturam indiscriminadamente os peixes, sem respeitar o período de reprodução e os filhotes, é apontada como uma ameaça à pesca artesanal, esta, sim, praticada em sintonia com o meio ambiente.

As reivindicações dos grupos de pescadores na I CNDRSS incluem maior rigor nas leis e na fiscalização para manter a diversidade de peixes e garantir a viabilidade da atividade para as próximas gerações.

Mulheres

"Esta conferência é um marco histórico. Começa com um processo democrático trazendo os verdadeiros atores principais para a construção de proposições ao modelo de desenvolvimento sustentável e solidário brasileiro", afirma Carmem Foro, coordenadora de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

"O Brasil rural que queremos nós já estamos construindo quando aprendemos a lutar por nossos direitos, quando reivindicamos inclusão social, igualdade e debatemos junto aos poderes públicos".

Para Carmem, participar da construção de um Plano Nacional de Políticas Públicas de Desenvolvimento Sustentável e Solidário que contemple as mulheres - e elas representam 42 % do público, de duas mil pessoas - é ter a clareza de que esse plano é amplo e deve incluir todas as trabalhadoras.

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