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Comunidades tradicionais e empresas se unem para controlar a cadeia produtiva dos produtos florestais

Amazônia- http://amazonia.org.br
05 de Abr de 2016

Lançado na semana passada durante evento em São Paulo o selo Origens do Brasil é uma ferramenta que auxilia o consumidor na hora de optar por produtos com garantia de origem e qualidade. Idealizado para ser implementado primeiramente na região do Xingu, pela importância ambiental e social do território, a certificação visa atender as necessidades de um mercado cada vez mais cobrado pelo controle da cadeia produtiva e também dos povos tradicionais que encontram barreiras na hora de comercializar os produtos.

Com a participação de diversas empresas, voluntários das áreas de informática e publicidade e suporte de fundações a iniciativa surgiu da "urgência na criação de instrumentos econômicos efetivos, capazes de valorizar os produtos extrativistas no mercado", afirma Patrícia Gomes, da área de Projetos e Mercados Florestais do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Segundo Patrícia, essa transparência garante que os produtos não caiam em mercados informais ou nas mãos de 'atravessadores', trazendo ganhos diretamente para os produtores que dessa forma acessam mercados e ainda possibilita que o consumidor conheça a história do produto que está levando para casa.

O sistema foi criado para funcionar de maneira simples e funcional. Ao comprar algo a logomarca do selo acompanha um Quick Response Code que disponibiliza informações sobre os produtores, a matéria-prima, biodiversidade e cultura dos povos do Território de origem. Todas as informações ficam disponíveis no site do selo. Origensbrasil.org.br

Veja abaixo entrevista com Patrícia Gomes, do Imaflora:

Amazônia.org - Gostaria de saber como surgiu a iniciativa, foi uma demanda dos moradores do Xingu ou foi uma iniciativa organizacional para colaborar com os produtores do Xingu?

O Origens Brasil® surge de uma demanda clara das populações tradicionais residentes no Xingu e de instituições de atuação regional e local que se juntaram para pedir urgência na criação de instrumentos econômicos efetivos, capazes de valorizar os produtos extrativistas no mercado, assim como a cultura destes povos; de forma que comercializados em mercados diferenciados, os produtos sejam entendidos pela sociedade como um instrumento de conservação das florestas e que consigam fazer frente ao produto ilegal e predatório que hoje ameaça o território e este povos.

O Origens Brasil® surge também da demanda do próprio mercado, uma vez que as empresas têm demonstrado contínuo interesse em instrumentos de gestão de risco de suas cadeias. Instrumentos que assegurem rastreabilidade, informações reais, com transparência, relações comerciais diretas e éticas.

Amazônia.org - O selo pretende sair da Amazônia ou foi pensado exclusivamente para esse bioma?

O Origens Brasil® foi desenhado para reconhecer produtos provenientes de "Territórios de Diversidade Socioambiental" existentes não somente na Amazônia, mas em diversas regiões do Brasil, desde que estes territórios atendam aos seguintes critérios:

- Ser composto por um corredor de áreas protegidas que abrigam expressiva diversidade socioambiental;

- Possuam cadeias produtivas estruturadas e em operação;

- Possuam instituições atuantes, articulações e espaços democráticos para dialogar, em conjunto com as populações tradicionais e indígenas que vivem no território.

Amazônia.org - Como acontece o monitoramento? Como é a fiscalização que garante o selo?

O Origens Brasil® inova bastante no seu sistema de monitoramento, uma vez que parte da premissa de que essas populações vivendo em seus territórios e manejando seus produtos tradicionais, oferecem baixo impacto à conservação do Patrimônio Socioambiental, e portanto, o sistema de monitoramento deve ser delineado a este risco e à realidade Amazônica, traduzindo em baixo custo de operação.

O monitoramento se dá por meio de acompanhamento de:

- Indicadores de impacto, que são alimentados e colhidos pelos diferentes elos da cadeia;

- Analise de geomonitoramento dos territórios, avaliando as imagens e informações de desmatamento e pressão.

- E, por fim, por meio de auditoria de terceira parte das informações inseridas na plataforma pelos diferentes usuários. Por meio do cruzamento de informações de desmatamento, com as informações da movimentação de toda a produção e comercialização, da floresta até a empresa, é possível gerar alertas, que direcionam as auditorias independentes quando necessárias.

Amazônia.org - Isso significa um grande ganho pra comunidade? Elas já vendiam os produtos antes? O que muda na produção de agora?

Sim, estas populações já possuem um longo histórico de relações comerciais de seus produtos. Contudo, estes produtos são comercializados principalmente em mercados informais, com participação de diversos intermediários e atravessadores, com baixa valorização, com assimetria de informações entre o produtor e os compradores, resultando em poucos benefícios financeiros para estas comunidades.

O que o Origens Brasil® pretende, é atrair empresas interessadas em estabelecer relações comerciais diretas e diferenciadas com estas populações, que são monitoradas pela iniciativa e que são baseadas em negociações equilibradas e simétricas que contribuam para a valorização do modo de vida tradicional e proteção dos territórios.

Isso tem se traduzido numa maior valorização dos produtos para as comunidades e permitido às empresas conhecerem melhor suas cadeias, antecipar e mitigar eventuais riscos.

Amazônia.org - A loja que vende os produtos, também possui alguma certificação? A cadeia é toda monitorada? Onde é possível achar os produtos?

Qualquer empresa que aderir ao Origens Brasil® e se comprometa com os princípios de uma relação comercial ética com as comunidades, pode usar o selo. A relação comercial entre eles é monitorada pelo Origens Brasil®, assegurando a transparência das relações comerciais que ficam disponíveis para consulta do consumidor no Site do Origens Brasil® em Empresas Participantes.

Atualmente 5 empresas aderiram à iniciativa, a Wickbold (pães especiais de castanha). Rede Pão de Açúcar/Programa Caras do Brasil (mel do Xingu), a Firmenich (óleo de copaiba), a Mercur (borracha) e mais recentemente a Tucum (artesanato). Os principais produtos disponíveis hoje no mercado com o selo são os pães de quinoa e castanha da Wickbold, encontrados nos principais supermercados de todo o país, e o mel do Xingu nas lojas do Pão de Açúcar com o Programa Caras do Brasil.

Amazônia.org - Acreditam que o caminho de incluir tecnologia para o monitoramento e fortalecimento das cadeias produtivas é o futuro pra uma produção sustentável?

Sim, acreditamos que a tecnologia é um importante instrumento para facilitar a coleta, análise e transparência das informações da produção extrativista no Brasil; a aproximação e inclusão destas populações nos mercados diferenciados; dar visibilidade à cultura e ao modo de vida tradicional destas populações para os brasileiros, e principalmente, atrair o interesse dos jovens para estas cadeias.

Amazônia.org - Por que o Imaflora foi escolhido para ser o gestor da iniciativa?

O Imaflora tem 20 anos de experiência operando sistemas de certificação no Brasil e no mundo, em especial aplicando estes sistemas para populações extrativistas e povos indígenas. O Administrador do Sistema é a instância executiva e o responsável direto pela administração da operação do sistema e seu monitoramento, visando assegurar robustez e credibilidade na sua operação.

http://amazonia.org.br/2016/04/comunidades-tradicionais-e-empresas-se-u…

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