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Com usinas ociosas, Haddad fica longe da meta de reciclagem

FSP, Cotidiano, p. B5, B7
21 de Set de 2015

Com usinas ociosas, Haddad fica longe da meta de reciclagem
Promessa do prefeito de São Paulo é ampliar índice de lixo reciclado de 1% para 10%, mas taxa ainda se limita a 2,5%
Centrais de triagem não processam nem um terço da capacidade; gestão culpa furto de material e baixa adesão

ARTUR RODRIGUES DE SÃO PAULO

A gestão Fernando Haddad (PT) está longe do cumprimento da meta que fixou para a reciclagem na cidade, e as usinas de processamento de lixo estão subutilizadas.
A promessa do prefeito é ampliar de 1% para 10% a proporção de lixo produzido reciclado até 2016 -índice que se limitava a 2,5% em julho.
Na gestão Haddad, foram inauguradas duas centrais mecanizadas de triagem, que aumentaram a capacidade de processamento dos materiais -para 750 toneladas por dia.
No entanto, mesmo com a ampliação da coleta de lixo porta a porta, a capital paulista não está processando nem um terço disso.
A prefeitura argumenta que ainda há baixa adesão e que há empresas clandestinas que furtam os materiais separados pela população.
O resultado é que as duas centrais de processamento de lixo, uma em Santo Amaro (zona sul) e outra na Ponte Pequena (região central), operam com grande ociosidade.
Na última sexta-feira (18), por exemplo, a Folha esteve na usina de Santo Amaro e, às 15h40, os equipamentos já estavam limpos e não havia mais ninguém trabalhando.
O cumprimento da meta da gestão petista esbarra no fato de a prefeitura ainda não ter universalizado a coleta porta a porta e a população não aderir em massa ao programa.
Hoje, dos 96 distritos da cidade, 46 têm a coleta seletiva universalizada, 39 parcial e 11, não dispõem do serviço.
Nos locais sem coleta, a orientação da prefeitura é descartar os recicláveis em um dos ecopontos ou postos de entrega voluntária.
"O ponto de entrega mais perto de casa na minha região fica a dois quilômetros. E eles acham perto", diz a veterinária Fernanda Jordão Affonso, 28, que faz a separação do lixo em um tonel e leva a uma cooperativa de catadores.
Moradora da Vila Oratório (zona leste), ela diz sentir que bairros mais nobres são privilegiados com mais ruas incluídas na coleta porta a porta e mais postos de entrega. "Fico com raiva. Na Vila Madalena [zona oeste], em uma rua tem cinco postos."
A arquiteta e consultora ambiental Verônica Polzer, 34, conta que a coleta seletiva só chegou em sua rua, em Pinheiros (zona oeste), após reclamações de moradores. Mesmo assim, ainda há casos em que os caminhões não passam e os recicláveis acabam no lixo comum.
Especialista em resíduos sólidos, ela afirma ter ido até a Suécia estudar esse assunto. "Lá não tem coleta porta a porta, mas a legislação obriga a existir um posto de entrega a cada 300 metros." O resultado, diz, é que 48% dos resíduos vão para a reciclagem ou compostagem.
Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, cobra iniciativas para engajar a sociedade na coleta seletiva -por meio de escolas, associações comunitárias e igrejas.
"O governo habituou-se a uma zona de conforto, apenas anuncia as coisas ou instala, mas não trabalha ativamente para que haja transformação. Não adianta colocar um postinho para entrega e pronto."

Outro lado
Adesão à reciclagem é baixa, diz prefeitura

ARTUR RODRIGUES DE SÃO PAULO

A gestão Fernando Haddad (PT) afirma que a quantidade de lixo reciclado abaixo da esperada se deve à baixa adesão por parte da população e aos furtos do material reciclado.
"Não tem tido uma adesão grande, os caminhões estão rodando, centrais funcionando e o volume coletado tem sido mais baixo que o esperado", diz o secretário municipal de Serviços, Simão Pedro (PT).
Ele afirma também que grandes volumes de materiais têm sido coletados por grupos clandestinos.
"No mês passado apreendemos quatro peruas, eles passam meia hora antes do nosso caminhão e coletam os recicláveis", diz Pedro.
Apesar dos problemas, o secretário argumenta já ter havido melhoria, com o percentual subindo de 1% para 2,5% na gestão Haddad. E que o recolhimento era universalizado em apenas 13 dos 96 distritos e chegou a 46.
Também foram inauguradas as duas centrais mecanizadas, que triplicaram a capacidade de processamento da capital paulista. Com isso, a média mensal de resíduos coletados neste ano aumentou 20% em relação a 2013.
De acordo com ele, a prefeitura está fazendo testes no Jardim Iguatemi (zona leste) que servirão de base para a universalização do serviço em todos os distritos até 2016.
ECOPONTOS
A prefeitura também pretende espalhar mais ecopontos pela cidade, além de manter a fiscalização sobre as concessionárias que fazem a coleta seletiva.
Além disso, haverá um programa para implantação da coleta solidária em equipamentos públicos como hospitais, mercados, subprefeituras, entre outros.
Recentemente, para ajudar a população a reconhecer o caminhão da coleta, os veículos passaram a tocar uma música específica.
Com financiamento de R$ 41 milhões do BNDES, a prefeitura planeja ainda construir dois galpões novos, em Santo Amaro (zona sul) e no Butantã (zona oeste), implantar centrais de triagem, capacitar catadores, entre outra ações para aumentar a coleta na cidade de São Paulo.
Simão Pedro critica a iniciativa privada por não fazer a sua parte na questão da coleta seletiva. "O setor privado tem que recolher os resíduos que ele gera. E 70% dos resíduos secos recicláveis são embalagens", afirma.
A prefeitura pretende lançar nesta semana uma nova etapa do programa de coleta, com as estratégias para ampliação do material reciclado.

FSP, 21/09/2015, Cotidiano, p. B5, B7

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/233788-com-usinas-ociosas-ha…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/233792-adesao-a-reciclagem-e…

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