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CNBB promete criar secretaria para defender Amazônia

O Liberal-Belém-PA
18 de Mar de 2003

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Chemello, deixou ontem a Diocese de Santarém e seguiu viagem para Boa Vista (Roraima), onde encerra o roteiro de visitas de uma semana à Amazônia. Ao chegar em Santarém, sábado, ele anunciou, durante entrevista à imprensa, que a CNBB está criando uma secretaria especial para tratar sobre o trabalho específico da Igreja católica e ajudar na busca de soluções para os problemas da região. Dom Jaime garantiu que, após deixar a presidência da instituição, em maio, pretende coordenar um trabalho voltado para a população amazônica. Esse assunto será discutido durante a assembléia geral dos bispos que acontece em abril em Itaici, São Paulo. Para isso, está sendo elaborado um documento básico retratando a realidade da região.
Durante o final de semana, Dom Jaime, também bispo de Pelotas, Rio Grande do Sul, esteve visitando paróquias da cidade e do interior da Diocese de Santarém, a terceira maior da Amazônia. Em algumas comunidades ribeirinhas, ele foi recepcionado com faixas de boas vindas e ganhou presentes dos comunitários. Domingo, conheceu o balneário de Alter-do-Chão, onde participou de almoço, junto com o bispo de Santarém, dom Lino Vombommel, à base de caldeirada de tucunaré. Ontem, antes de embarcar para Boa Vista, o religioso participou de encontro com os padres da Diocese de Santarém, no Seminário Pio X, quando tratou das mais recentes orientações da CNBB para o trabalho pastoral.
O presidente da CNBB disse que ficou surpreso com a biodiversidade que encontrou na região e o carinho que recebeu do povo, chegando a dizer, na entrevista, que estava se sentindo em casa ao lado de dom Lino, que também é natural da região Sul. "É incrível como existe água nesta Amazônia, que detém a maior reserva de água doce do planeta e precisa de mais atenção", disse o bispo, acrescentando que o importante não é o documento da Amazônia que a CNBB está elaborando, mas as medidas que precisam ser tomadas para melhorar a vida da população. "Não adianta fazer plano bonito só no papel", ressaltou.
Dom Jaime prevê conflito na região por causa da água
"Ainda vão arrumar um confronto conosco por causa da Amazônia", profetizou o presidente da CNBB ao lembrar a iminência de uma guerra dos Estados Unidos com o Iraque por causa de petróleo. Segundo ele, as riquezas naturais da Amazônia estão despertando a ganância das superpotências mundiais que querem torná-la uma área de uso comum, o que deverá gerar conflitos, principalmente por conta da grande quantidade de água.
Citando a Bíblia, o bispo disse que o Brasil estará disposto a oferecer água doce a outros, mas haverá quem queira privatizar os rios da Amazônia para vender a água, uma vez que o produto, no futuro, deverá representar problema maior para as nações industrializadas do que representa hoje o petróleo. Esse assunto é tão importante para a Igreja Católica que a CNBB já definiu a água como tema da Campanha da Fraternidade do ano que vem. O bispo ressaltou a importância da água doce para o Brasil, lembrando que em Cabo Verde, na África, as pessoas tomam água do mar, depois de um complicado e caro processo de dessalinização. "Existe tanta riqueza nesta terra que nem sei se os paraenses dão conta de tudo", observou, acrescentando que muita gente de fora do Brasil está querendo ficar com a Amazônia.
Sobre a chegada da mecanização agrícola na Amazônia, o presidente da CNBB observou que muitas dessas pessoas que vêm de fora estão dispostas a produzir a qualquer custo, sem se preocupar com a questão ecológica. Muitos não têm a percepção do valor da região, mas é preciso saber se a chegada da cultura de grãos não está destruindo o meio ambiente.

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