FSP, Cotidiano1, p. C6
08 de Mar de 2014
Chuva castiga SP, mas nível do Cantareira segue baixo
Capital teve ao menos 40 pontos de alagamentos e 50 semáforos afetados
Aeroportos de Congonhas e Cumbica fecharam; na região da represa, choveu de forma moderada
de São Paulo
Enquanto o nível da água voltou a baixar no sistema Cantareira, ameaçando de racionamento a Grande São Paulo, a região sofreu ontem os efeitos da chuva.
Ao menos 40 pontos de alagamento se formaram na capital, 24 deles intransitáveis.
A queda de duas árvores atrapalhou o trânsito e 50 semáforos tiveram problemas.
A via Anchieta, na divisa entre São Paulo e São Bernardo, ficou bloqueada por duas horas devido ao risco de transbordamento de um córrego, e os dois principais aeroportos paralisaram suas operações.
Na zona oeste, pontos conhecidos do paulistano por alagarem em todos os verões, como a rua Turiaçu e as avenidas Antártica, Francisco Matarazzo e Marquês de São Vicente, voltaram a encher.
Na mesma região, vias da Vila Leopoldina tiveram alagamentos intransitáveis por cerca de 30 minutos. Ao menos três carros que tentaram enfrentar a enxurrada ficaram no meio do caminho.
Na rua Passo da Pátria, o volume de água era tão grande que chegou passar por cima do para-brisa dos carros.
Sacos de lixo foram arrastados e tampas de bueiro foram abertas pelo impacto da enxurrada na rua Jataí.
Na zona norte, o córrego Tremembé transbordou.
O aeroporto de Congonhas fechou das 17h46 às 18h18. O de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), parou por 15 minutos, o que levou sete voos a serem desviados para outros aeroportos.
A circulação de trens da CPTM também foi afetada. A linha 8-diamante da CPTM teve um trecho interditado por cerca de 30 minutos no final da tarde por causa de um alagamento entre as estações Barra Funda e Lapa.
SISTEMA CANTAREIRA
Já no sistema Cantareira, que abastece parte da capital e da região metropolitana, a chuva foi moderada, segundo o comitê responsável pelo monitoramento das bacias do Estado --o que não deve ser o suficiente para alterar o nível do reservatório.
Ontem, antes da chuva, o sistema operava com 15,8% de sua capacidade. É o pior nível da história.
O índice vem caindo diariamente. Até quinta, era de 16%. Segundo especialistas, abaixo de 20%, o índice é considerado crítico.
A partir de segunda-feira, o governo anunciou que reduzirá em cerca de 10% a captação da água do sistema.
Nove bairros serão abastecidos por outros sistemas
Heloisa Brenha de São Paulo
A Sabesp divulgou ontem uma lista de nove bairros paulistanos que deixarão de ser abastecidos pelo sistema Cantareira a partir de segunda-feira.
Pinheiros (zona oeste), Brooklin, Vila Olímpia e parte do Jabaquara (zona sul) passarão a receber água do sistema Guarapiranga.
Cinco bairros da zona leste serão abastecidos pelo Alto Tietê: Cangaíba, Carrão, Ermelino Matarazzo, Penha e Vila Formosa.
No total, 1,6 milhão de pessoas terão suas fontes de água alteradas. A Sabesp diz que a mudança não interromperá o fornecimento nem mudará o desconto para quem era abastecido pelo Cantareira e reduzisse seu consumo.
A alteração foi anunciada anteontem pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) como medida para poupar o Cantareira, que vem operando nos níveis mais baixos da história.
Para evitar um colapso, o sistema passará a captar 10% menos água a partir de segunda. A redução não significa prejuízo no fornecimento de água, mas indica a gravidade da crise.
Decisivas para aumentar o nível dos reservatórios, as chuvas fortes e concentradas no sistema Cantareira estão fora da previsão do tempo de março, segundo meteorologistas.
Especialistas de três institutos --Inmet, Climatempo e Somar-- afirmam que as chuvas deste mês não conseguirão reverter a seca que afeta o sistema desde dezembro.
Para Alexandre Nascimento, da Climatempo, se depender só da chuva prevista, a recuperação das represas será "mínima", pois a previsão é de que chova dentro da média de março.
Desperdício, ocupação ilegal e falta de obras potencializam crise da água
Eduardo Geraque de São Paulo
A escassez de chuva sobre a divisa entre São Paulo e Minas Gerais, mesmo ocorrendo desde o início de 2013, é apenas uma parte da explicação para a pior crise da história do sistema Cantareira.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que vários gargalos crônicos do sistema de recursos hídricos potencializam a seca que provoca a ameaça de racionamento.
Redução de perdas pelo poder público (devido a vazamentos e desperdício nas redes da Sabesp), diminuição do consumo residencial e principalmente industrial, mais infraestrutura e, também, a preservação ambiental de rios e represas fazem parte da solução do problema.
"Tanto São Paulo quanto Campinas usam muita água para a produção industrial. Portanto, a solução estaria em reduzir o uso industrial e priorizar o abastecimento humano, no curto prazo", defende Wagner Ribeiro, geógrafo e pesquisador da USP.
Para ele, no médio prazo, a solução estaria em estimular o reúso da água pelas indústrias, o que ocorre atualmente em volume reduzido.
O fato de um quarto da água captada pela Sabesp na Grande SP ser perdida no trajeto entre a represa e a caixa de água das casas também preocupa os especialistas.
Em cidades do Japão e da Alemanha, as perdas são próximas de 11%. Nos Estados Unidos, a meta é de 16%.
Técnicos ainda citam outros entraves históricos.
"Em termos de conservação dos mananciais temos o exemplo de Guarapiranga", diz Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água e professor da Poli/USP.
"Há 40 anos existe a lei que proíbe construções na área do reservatório de Guarapiranga. Mesmo assim, temos 150 mil pessoas lá dentro", diz ele, citando um exemplo que afeta a produção de água.
Para Braga, existem obras de infraestrutura atrasadas em SP por culpa de obstáculos na legislação. "Sou a favor da ecologia. Mas as leis ambientais precisam passar por uma consolidação", diz.
FSP, 08/03/2014, Cotidiano1, p. C6
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/155441-chuva-castiga-sp-mas-…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/155442-nove-bairros-serao-ab…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/155444-desperdicio-ocupacao-…
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