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Cesp decide o futuro de especies ameacadas

OESP, Cidades, p.C4
08 de Set de 2004

Cesp decide o futuro de espécies ameaçadas
Nível de compromisso de empresas energéticas com cuidados ambientais preocupa ecologistas
Luiz Roberto de Souza Queiroz
A missão principal tanto da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) quanto da AES-Tietê é produzir e vender energia elétrica, e não cuidar do meio ambiente. Essa prioridade comercial preocupa os ecologistas do País inteiro, porque a AES mantém em Promissão o maior centro de reprodução de árvores da mata atlântica, enquanto o viveiro da Cesp, em Paraibuna, chegou a produzir 630 filhotes de aves ameaçadas por ano. Mutuns, jacutingas e macucos tiveram a reprodução reduzida em mais de dois terços - para 206 em 2003 - e este ano não se deve alcançar nem esse número.
As duas empresas negam enfaticamente que planejem extinguir a área ambiental, mas enquanto a AES-Tietê já terceirizou a produção de mudas e incentivou ex-funcionários a montarem empresas de produção de alevinos para repovoamento, que adquire, vendendo o excedente, a Cesp ainda procura parcerias que injetem recursos no setor. "Queremos renovar um convênio de produção de mudas com a Secretaria da Agricultura, buscamos acordos com as universidades, parcerias com Ibama, Embrapa e acreditamos muito na possibilidade de trabalho conjunto com as empresas produtoras de celulose, que têm interesse nas essências nativas que produzimos", afirma o diretor de Geração Oeste da Cesp, Silvio Roberto Areco Gomes. "Com ou sem parcerias, entretanto, nosso Centro de Conservação em Paraibuna não vai fechar nem será perdido o conhecimento adquirido em 20 anos", diz ele. Agora, a empresa se propõe a organizar o material para publicação, disponibilizando todo o know-how conseguido, inclusive pela internet.
Sucesso - O setor de conservação da Cesp foi criado para produzir mudas de árvores que seriam usadas para a recuperação paisagística do entorno das represas construídas pela empresa, mas, com o tempo, passou a pesquisar a reprodução de espécies ameaçadas de peixes.
Posteriormente, quando algumas aves capturadas nas áreas a serem alagadas por novas represas foram enviadas a Paraibuna, começou a pesquisa para multiplicação.
Ao se comprovar que o dourado, introduzido na bacia do Paraíba do Sul, ameaçava a piabanha, em vias de extinção, os pesquisadores da Cesp passaram a reproduzir a espécie em cativeiro e recentemente tiveram sucesso na reprodução de outro peixe quase extinto, o surubim-do-paraíba, transformando o Centro de Paraibuna em um exemplo de sucesso na pesquisa pela preservação do meio ambiente.
E não é o único exemplo, pois setor semelhante, em Jupiá, liberou só este ano 2 milhões de alevinos de pacu, curimbatá, piracanjuba, piapara, cascudo, dourado, jurupoca e pintado nos reservatórios de Ilha Solteira, Três Irmãos, Sergio Mota e Souza Dias. Em Paraibuna, a produção deste ano é menor, 730 mil alevinos, mas também variada, pois se multiplicam espécies como o lambari, a pirapetinga, o piau-palhaço, a piava-bicuda, a piabanha e agora o surubim-do-paraíba.
Reformulação - Ainda segundo Silvio Gomes, o setor de meio ambiente está em reformulação na Cesp, pois há dois anos foi extinta a Diretoria Ambiental e cada Centro de Conservação acabou incorporado a uma Diretoria de Geração. O de Paraibuna está sendo reformulado para "resgatar todo o acervo técnico e o conhecimento acumulados na produção de mudas, alevinos e aves", explica o diretor, enquanto um convênio com o Ibama vai iniciar nova linha de pesquisa, da reprodução do mutum-de-alagoas, uma ave extinta na natureza, que hoje só é reproduzida por dois criadores. A abertura de um terceiro pólo de multiplicação é técnica usual para evitar que uma eventual epidemia elimine a espécie.
Já o outro centro, que conta com duas estações de reflorestamento e piscicultura em Jupiá e Porto Primavera, mantém ainda programas de reprodução de mamíferos ameaçados, o cachorro-do-mato-vinagre e o lobo-guará, entre eles. Esse segundo local se volta agora para um problema emergente, o combate ao "mexilhão-dourado", um pequeno marisco exótico que sobe a Bacia do Rio Paraná e cuja proliferação se torna um problema gravíssimo, pois a massa de conchas ameaça entupir tomadas de água, turbinas e demais equipamentos, prejudicando a produção de energia.
A diretoria da Cesp reconhece que manter os setores dedicados à pesquisa ambiental não é caro. O centro de Paraibuna tem um custo pouco superior a R$ 100 mil anuais e o retorno, embora indireto, é significativo, à medida que 120 espécies da mata atlântica são reproduzidas rotineiramente, incluindo o jequitibá-vermelho, o branco, o guanandi e o palmito-doce, e atribui a preocupação dos ecologistas ao fim do convênio mantido com a Secretaria da Agricultura.
Novos convênios - "A secretaria injetava recursos que mantinham o centro e com o fim do convênio, que queremos reativar, esse dinheiro deixou de vir, mas a Cesp passou a bancar o centro e não vai faltar dinheiro", conclui Gomes. Se forem firmadas as parcerias que está tentando, com a Camargo Correia em Tucuruí, tendo em vista a piscicultura e outra em discussão para a área do Pantanal, ele acredita que recursos para a pesquisa ambiental vão até crescer.

OESP, 08/09/2004, p. C4

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