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Centro médico atende a população de Manaus com técnicas e conhecimentos indígenas

Rede Brasil Atual redebrasilatual.com.br
09 de Jul de 2017

Fruto do desejo do antropólogo João Paulo Barreto, de 45 anos, ávido em mostrar à sociedade a eficácia do ancestral conhecimento médico das tribos do Alto Rio Negro, no extremo norte do Amazonas, o Bahserikowi'i - ou Centro de Medicina Indígena da Amazônia - completou nessa quinta-feira um mês de funcionamento. Localizado no centro de Manaus, foram atendidas, em média, 25 pessoas por dia, praticamente todos não-indígenas, com exceção de apenas dois casos.

"A maioria das pessoas chegam aqui desesperadas. São pessoas que estão fazendo tratamento com a medicina convencional há anos e tem tido uma reação muita satisfatória com a nossa medicina", explica João Paulo, da etnia Tukano. Os casos mais frequentes no primeiro mês de abertura do Centro de Medicina Indígena estiveram relacionados à diabete, doenças de pele, feridas que não cicatrizam, dores musculares e problemas de coluna.

A consulta e o tratamento são realizados por seu tio Manoel Lima, de 85 anos, da etnia Tuyuka, e seu irmão José Maria, de 45 anos, da etnia Tukano. Chamados de Kumuã (pajé, na tradução ocidental), ambos utilizam como principais técnicas o conhecimento das plantas medicinais e o Bahsese (conhecido popularmente como benzimento).

Doutorando em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), João Paulo Barreto explica que os Kumu (plural de Kumuã) já costumam atender pacientes de modo informal, tanto em Manaus quanto nas cidades do interior do estado e nas aldeias. A questão, diz ele, é que o Estado brasileiro não reconhece e tampouco se interessa pelo conhecimento indígena. O antropólogo acredita que o Centro de Medicina Indígena da Amazônia seja o primeiro do Brasil, com endereço fixo, aberto à população indígena e não-indígena.

"Eles já fazem esse trabalho, exercem seu ofício na aldeia e fora da aldeia, mas de modo clandestino. O que a gente fez foi só mostrar o que já é feito", ponderou. "Quando se trata de tratamento de doenças, as técnicas são as mesmas que permeiam vários povos do Alto Rio Negro." Segundo Barreto, outros povos indígenas da Amazônia talvez tenham técnicas de cura distintas e, por isso, seu desejo é oferecer o espaço do centro para outras etnias atenderem o público.

Barreto faz questão de ressaltar o caráter independente do Bahserikowi'i e diz não haver nenhum tipo de contato formal com os órgãos de saúde do município e do estado. "Digo sempre que essa casa é uma ação 'contra-estado', fora das instituições oficiais, eles não entendem isso. É uma iniciativa independente, não temos nenhum financiamento ou apoio público. É o nosso modo de pensar e ver a saúde. Queremos começar a discutir isso, independente da cultura do governo ser sempre a ocidental. Queremos levar isso para o debate", afirma.

O casarão onde funciona o centro pertence à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e foi cedido para a realização do projeto.

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