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Casa Branca e acusada de alterar relatorios

OESP, Vida, p.A20
09 de Jun de 2005

Casa Branca é acusada de alterar relatórios
Funcionário do governo teria modificado documentos oficiais sobre meio ambiente
Um funcionário da Casa Branca, com ligações com o setor petroleiro, modificou relatórios oficiais americanos sobre ambiente pouco antes de sua divulgação, segundo a edição de ontem do jornal The New York Times. Em 2002 e 2003, Philip A. Cooney - hoje membro do Conselho de Qualidade Ambiental da Casa Branca - removeu dados, inseriu comentários à mão e ajustou descrições nos textos depois da revisão e aprovação final dos cientistas e supervisores do próprio governo.
O texto do Times diz que as mudanças tinham como objetivo provocar incertezas sobre a relação entre a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, e as mudanças climáticas. Até 2001, Cooney era membro do Instituto Americano de Petróleo, grupo mais representativo do setor nos Estados Unidos.
As várias alterações detectadas tendem a provocar "dúvidas sobre achados que a maioria dos especialistas em assuntos climáticos afirma que são sólidos", sublinha o jornal.
O Times também destaca algumas das mudanças detectadas nos documentos apresentados pela entidade Climate Change Science Program, que critica a política para o meio ambiente do atual governo. Entre elas, relata que num trecho que faz referência à necessidade de maior investigação sobre os efeitos que o aquecimento do planeta poderia ter no acesso à água e em inundações, Cooney riscou um parágrafo que se referia a previsões de redução de geleiras e de calotas de gelo em montanhas. O jornal informa que Cooney é advogado, licenciado em Economia e não teve formação científica.
Outros funcionários da Casa Branca disseram que as mudanças realizadas por ele fazem parte de um processo normal, entre agências, de revisão de documentos relacionados às mudanças globais no ambiente.
MENTIRA
Ainda ontem, o governo negou todas as informações. "Isso é mentira", declarou à imprensa o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, e acrescentou que os relatórios climáticos governamentais se baseiam nos melhores dados científicos disponíveis e são "cientificamente sólidos". Além disso, disse o porta-voz, são submetidos a um processo de revisão do qual participam cerca de 15 agências federais que podem fazer suas contribuições aos textos.
Já Rick Piltz, que saiu do escritório que coordenava a investigação do governo sobre mudanças climáticas, afirmou numa nota enviada na semana passada a altos funcionários, citada na reportagem, que a edição dos relatórios científicos conspirava para o insucesso dos esforços oficiais em estabelecer as causas dessas mudanças.
"Nunca vi uma situação como a que se desenvolveu sob esta administração nos últimos quatro anos, na qual a politização da Casa Branca retroalimentou diretamente o programa científico de tal forma que minou a credibilidade e a integridade do programa", disse Piltz.

Exxon teria influenciado o não a Kyoto
The Guardian
ACUSAÇÃO: Documentos obtidos pela ONG Greenpeace no Departamento de Estado americano indicam que a decisão de o presidente George W. Bush não ratificar o Protocolo de Kyoto foi influenciada por uma pressão exercida pela companhia petrolífera ExxonMobil, a maior do mundo, avaliada em cerca de US$ 379 bilhões no começo deste ano.
Entre os documentos estão agradecimentos assinados pela subsecretária Paula Dobriansky aos executivos da empresa por seu "ativo envolvimento" na formulação de uma política sobre as mudanças climáticas, além de pedir orientações sobre o que achavam aceitável. A Exxon nega envolvimento.
"O presidente Bush disse ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que estava preocupado com as mudanças climáticas, mas estes documentos a que tivemos acesso revelam a verdade. A política na Casa Branca está sendo feita pela mais poderosa empresa de petróleo do mundo. A política voltada ao clima desta administração é uma ameaça à humanidade", disse Stephen Tindale, diretor executivo do Greenpeace, anteontem à noite, em Londres.
O Protocolo de Kyoto prevê redução da emissão de gases do efeito estufa e entrou em vigor em fevereiro, depois de ser ratificado pela Rússia, em novembro do ano passado

OESP, 09/06/2005, p. A20

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