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Carta do Povo Xukuru Kariri

Combate Racismo Ambiental - http://racismoambiental.net.br
21 de Ago de 2013

"Hoje sabemos o lugar que queremos ocupar na história do país"

Maninha Xukuru Kariri.

Nós, da Etnia Xukuru Kariri, viemos tornar público o desrespeito que vem acontecendo com o nosso Povo, uma vez que políticos, fazendo uso abusivo da política, latifundiários e empresários têm usado os meios de comunicação para invisibilizar nossa luta, incitando a violência da sociedade contra a demarcação de nosso território tradicional. Os mesmos têm ocultado e distorcido a verdade. Sabemos que tudo isso é um jogo político, que fere a Constituição Federal do Brasil, de modo especial o artigo 231, pois o mesmo garante que "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos seus bens". A constituição também garantiu em seu Art. 67 que "a União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição". O decreto 1.775, de 08 de janeiro de 1996, que regulamenta o procedimento administrativo de demarcação das terras indígenas, determina no art. 4o, que o INCRA, realize o reassentamento dos ocupantes não índios de boa fé, bem como, a justa indenização pela FUNAI. Dessa forma, os direitos de todas as pessoas, indígenas e não indígenas, são assegurados em lei, como forma de realizar a justiça e promover a paz.

Através de campanhas difamatórias, veiculadas pela imprensa controlada pelos ricos invasores de nossas terras, estamos sendo acusados de atrasar o progresso do município. Como? Pois preservamos 200 hectares de mata atlântica e 300 hectares de caatinga; rios e nascentes existentes dentro de nossas aldeias abastecem parte da população. Produzimos mais de 70% da banana que é vendida na feira livre de Palmeira dos Índios: macaxeira, batata, frutas, hortaliças, além da produção e conservação das sementes crioulas. Criamos pequenos animais, como aves, cabras e suínos. Fornecemos alimentos agroecológicos para o programa do governo federal PAA - Programa de Aquisição de Alimentos, com Doação Simultânea, além do PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar, ampliando assim o abastecimento de uma alimentação saudável a população do município de Palmeira dos Índios. E os fazendeiros, produzem e conservam o quê?

O processo de demarcação vem atender a um direito originário dos Povos Indígenas, que lhes é garantido na constituição federal de 1988 e assegurado pela convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT assinada pelo estado Brasileiro em 2004. Com isso, a Portaria declaratória no 4.033 de 14 de dezembro de 2010 garante e reconhece a tradicionalidade de uma área 7.033 ha. Neste contexto, a FUNAI, órgão do Governo Federal, atendendo uma demanda histórica de nosso Povo, deu início ao processo de regularização fundiária Xukuru Kariri. No entanto, devido ao clima de terror e ameaças instaurados pelos políticos locais, a FUNAI, submetendo-se aos conchavos políticos partidários, suspendeu as atividades, retirando o grupo técnico responsável pelo levantamento fundiário, o que paralisou os trabalhos de levantamento, vistoria e avaliação de benfeitorias construídas por ocupantes não índios na terra indígena, através do simples memorando de no876/DPT/2013 do diretor de proteção territorial - substituto.

Repudiamos a postura arbitrária do Governo Federal, através da FUNAI, e convocamos toda a sociedade civil e organizada para apoiar a luta pela regularização da terra Xukuru Kariri, onde, juntos, exigimos o imediato retorno da equipe e a homologação do Território Xukuru Kariri pela Presidenta da República da República, Dilma Rousseff.

Palmeira dos índios, AL. 18 de agosto de 2013.

Povo Xukuru Kariri.

http://racismoambiental.net.br/2013/08/carta-do-povo-xukuru-kariri/

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