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Cantareira teve nível baixo em 15 meses desde 2004

FSP, Cotidiano, p. C4
21 de Mar de 2014

Cantareira teve nível baixo em 15 meses desde 2004
Por projeto de Alckmin, sistema teria 'socorro' quando ficasse abaixo de 35%
Ligação com Paraíba do Sul é chamada de 'mão dupla' por governador de SP por permitir ajuda recíproca

Heloisa Brenha de São Paulo

Os reservatórios do sistema Cantareira ficaram, nos últimos dez anos, 15 meses não contínuos em níveis inferiores a 35% --faixa em que, pela proposta do governador Geraldo Alckmin (PSDB), poderiam receber "socorro" da bacia do rio Paraíba do Sul.
Os resultados, aproximados, são de levantamento da Folha a partir de dados da ANA (Agência Nacional das Águas). Hoje, o Cantareira está no menor nível da história --14,6% da capacidade.
O cenário indica que o sistema paulista teria dispensado a água extra na maior parte do tempo --em quase nove anos dos últimos dez.
Por outro lado, se for considerado o mesmo parâmetro, os reservatórios da bacia do Paraíba do Sul precisariam ter sido "socorridos" pelo Cantareira ainda menos --só dois meses na última década.
A ligação, ao custo de R$ 500 milhões, é chamada de "via de mão dupla" por Alckmin. "Um [sistema] socorre o outro: quando houver excesso no Cantareira, passa-se para o Jaguari e vice-versa", diz.
O governo ainda não definiu de quanto seria esse excedente, mas diz que os reservatórios do Cantareira são obrigados a abrir as comportas quando atingem os 75% de capacidade, para evitar risco de enchentes.
Desde 2004, a bacia do Paraíba do Sul superou 75% em 40 meses não consecutivos, mostra o levantamento. No Cantareira, foram 31 meses.
Defensores da ideia de Alckmin alegam que há água suficiente no Paraíba do Sul. Opositores temem que afete o abastecimento no Rio.

A favor
Opção é econômica e de baixo impacto, diz docente da USP

De São Paulo

Professor da engenharia civil da USP, Rubem Porto considera a proposta de ligar o sistema Cantareira à bacia do Paraíba do Sul uma alternativa econômica e de baixo impacto ambiental para ampliar o abastecimento da Grande SP.

Folha - Qual sua avaliação?
Rubem Porto - O projeto é bom, porque é mais barato que outros, como a construção do sistema São Lourenço e a retirada de água do Ribeira. Tem impactos sociais e ambientais pequenos, pois já tem a barragem do [reservatório] Jaguari pronta e a adutora pode ser construída no traçado da estrada D. Pedro 1o.
Isso reduz os custos e o impacto na fauna e na flora, além de dispensar remoções de moradores.
Pode faltar água à população abastecida pelo rioa bacia do Paraíba do Sul?
Não. A quantidade que se pretende tirar [5 m³/s] é pequena em relação à vazão do rio, que chega a 300 m³/s em alguns pontos.
Além disso, há reservatórios na bacia capazes de regular o volume e diluir o impacto da retirada.
Faz ressalvas ao projeto?
A alternativa existe há anos e sempre foi interessante. Mas, como envolve a água de três Estados (SP, RJ e MG), não houve apetite político para a discussão antes, quando a situação era mais confortável

Contra
Abastecimento do RJ será afetado, diz professor da UFRJ

De São Paulo

Para Paulo Canedo Magalhães, docente da engenharia civil da UFRJ, a ligação afetaria o fornecimento de água para indústria, agricultura e cidades do Rio.

Folha - Qual sua avaliação?
Paulo Canedo de Magalhães - Sem dúvida afetará o abastecimento do Rio e o fornecimento de água por parte da bacia.
O Paraíba do Sul tem capacidade de fornecer água para São Paulo, sem danos, em vários dias do ano, mas não em todos. A vazão firme, aquela que a bacia é capaz de entregar o ano todo, não comporta um cliente do porte da região metropolitana de SP.
E se a água for cedida só quando houver excedente?
Ainda que haja essa condição, hoje a bacia não tem excesso de água. Ela passa por um período seco e ainda tem sua água dividida por contratos, em torno dos quais se organizam indústrias, agricultura e municípios. Não podem simplesmente ser rompidos.
A contrapartida de o Cantareira oferecer água quando tiver excedente não pode ser interessante para o Rio?
Pode, mas é preciso ver se a sobra é necessária naquele momento. Há a tendência de as duas regiões terem o mesmo regime de chuvas e seca, então é provável que ambos os reservatórios tenham excessos e baixas simultaneamente.

FSP, 21/03/2014, Cotidiano, p. C4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/157433-cantareira-teve-nivel…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/157436-opcao-e-economica-e-d…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/157437-abastecimento-do-rj-s…

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