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Câmbio inviabiliza soja em novas fronteiras

FSP, Dinheiro, p. B8
07 de Jun de 2005

Câmbio inviabiliza soja em novas fronteiras
Dólar desvalorizado reduz a renda do agricultor; país "perde" 1,5 mi de hectares, metade deles no Centro-Oeste

Mauro Zafalon

Plantar soja vai ficar inviável em algumas das principais regiões produtoras do Brasil neste ano. Com isso, a área cultivada deverá cair pela primeira vez desde o plantio feito no verão de 1998.
A estimativa foi feita ontem pelo diretor da Agência Rural, Fernando Muraro, exatamente no dia em que a soja atingiu, em Chicago, o segundo melhor preço do ano. Nem mesmo a alta ocorrida ontem serve de incentivo para os produtores, que estão desanimados com as perspectivas dos preços futuros do produto.
Esse desânimo dos produtores ocorre devido ao comportamento do dólar, que, desvalorizado, reduz a renda no campo. O principal problema da agricultura no momento é a "crise cambial".
A redução do plantio deverá ser de 1,5 milhão de hectares, trazendo de volta a área cultivada para 21,4 milhões. As maiores perdas serão no Centro-Oeste, que terá redução de 700 mil de hectares.
A queda de área vai ocorrer do Sul ao Centro-Oeste, e cada região terá seu motivo especial. No Centro-Oeste, a redução deverá ocorrer nas novas fronteiras, onde o terreno arenoso exige custo maior para a produção.
Soja por milho
Com os custos praticamente empatados com os obtidos na venda, muitos produtores não devem optar pelo plantio. Em Sorriso (MT), uma saca de soja custa R$ 23 para ser produzida, e o preço atual pago aos produtores na comercialização é de R$ 24.
Já do sul de Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, a redução de área tem outro motivo. Castigados pela seca dos últimos dois anos, parte dos produtores dessas regiões deve trocar o milho pela soja, processo inverso ao que vinha ocorrendo nos últimos anos.
Essa troca ocorre porque a relação de preço entre o milho e a soja é a melhor desde 1991. O preço de uma saca de soja, que chegou a ser o correspondente a 3 de milho, está em apenas 1,6.
Os agricultores devem optar pelo milho à espera de melhores preços devido ao desabastecimento do mercado. Além disso, a produção de milho rende mais do que a de soja por hectare.
Diante desse quadro de redução de área, Muraro diz que mesmo nas melhores condições climáticas, a safra de 2005/6 não passará de 60 milhões de toneladas. Além da redução de área, outro fator deverá prejudicar a produtividade da próxima safra: o reduzido uso de tecnologia.
A queda de renda dos últimos dois anos forçará os produtores a reduzir o uso de adubos e fertilizantes, o que vai gerar produção menor por hectare. "Não se planta soja sem crédito, fungicida e adubo", diz Muraro. O produtor vai optar pela redução do último.
As incertezas sobre o câmbio deverão provocar redução de 20% a 25% no uso de fertilizantes.
A única maneira de não haver redução forte na área de plantio de soja é o dólar voltar ao patamar de pelo menos até R$ 2,70 para setembro, diz Muraro.

FSP, 07/06/2005, Dinheiro, p. B8

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