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Camargo Corrêa tenta fazer acordo com governo

FSP, Poder, p. A8
14 de Ago de 2015

Camargo Corrêa tenta fazer acordo com governo
Empreiteira negocia para continuar obtendo contratos no setor público
Construtora contaria seu papel em cartéis que teriam atuado em obras da Petrobras, de Angra 3 e Belo Monte

NATUZA NERY DE BRASÍLIA DAVID FRIEDLANDER MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO

Um dos principais alvos da Operação Lava Jato, a empreiteira Camargo Corrêa começou a negociar um acordo de leniência com o governo. O objetivo da empresa é evitar que a CGU (Controladoria-Geral da União) a declare inidônea, o que a impediria de participar de licitações federais e de receber empréstimos de bancos públicos.
A Folha apurou que emissários da empreiteira procuraram a CGU na semana passada e manifestaram interesse em discutir os termos de um possível acordo. A primeira reunião deve ocorrer nos próximos dias.
Serão discutidas as supostas participações da Camargo nos cartéis de empreiteiras que manipularam concorrências na Petrobras, na usina nuclear Angra 3 e na hidrelétrica de Belo Monte.
O acordo de leniência é parecido com a delação premiada, mas é feito por empresas. Por meio dele, os infratores admitem irregularidades e colaboram com as investigações na tentativa de conseguir penas menores.
A Folha apurou que os acionistas da Camargo decidiram assumir pelo menos parte da responsabilidade por crimes revelados por dois de seus ex-executivos, que se tornaram delatores na Operação Lava Jato.
No mês passado, a empresa já firmou um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para colaborar com as investigações de um cartel nas obras da usina Angra 3.
A empreiteira entregou ao Conselho o resultado de auditorias em seus contratos e processos, feitas por auditores independentes.
O material ajudou o órgão a concluir que sete empresas agiram em conluio para "fixar preços" e "dividir o mercado" na obra de construção da usina nuclear.
INDENIZAÇÃO
Um acordo com a CGU permitiria que a empresa não fosse declarada inidônea. Com isso, escaparia de veto à sua participação em concorrências públicas. Em contrapartida, a empresa seria obrigada a ressarcir as obras em que houve superfaturamento ou irregularidades.
No caso da Camargo Corrêa, a empresa teria de indenizar a Petrobras, a Eletronuclear (por conta de acertos na construção de Angra 3) e a Eletrobras (Belo Monte).
Executivos da Camargo confessaram aos procuradores da Lava Jato que houve pagamento de propina nesses três casos.
A participação dos contratos com o poder público vem caindo, nos últimos tempos, na carteira da Camargo. No ano passado, eles representaram cerca de 12% de seu faturamento.
É uma receita que tende a diminuir em razão da falta de investimento dos governos e da Petrobras, mas em algum momento deve voltar a ser mais significativa.
Os acionistas da Camargo chegaram a discutir o abandono do mercado de obras públicas, mas essa posição não foi adiante por razões estratégicas.
Poucas empreiteiras de grande porte deverão sobreviver após a Operação Lava Jato. Provavelmente a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a própria Camargo, as três maiores do país.
Ao fechar um acordo que permite continuar trabalhando para o poder público, com um número menor de concorrentes, a Camargo poderia aumentar sua participação no mercado, incluindo o de obras públicas.

FSP, 14/05/2015, Poder, p. A8

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/229417-camargo-correa-tenta-faze…

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