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Caça predatória na Amazônia pode agravar aquecimento

O Globo, Sociedade, p. 23
26 de Jan de 2016

Caça predatória na Amazônia pode agravar aquecimento
Perda de grandes mamíferos reduz capacidade da floresta de estocar carbono, diz estudo

Cesar Baima

RIO - A caça predatória de mamíferos da Amazônia pode ter um grande impacto na capacidade da floresta de estocar carbono, agravando os efeitos das mudanças climáticas, segundo um estudo publicado ontem no periódico científico "Proceedings of the National Academy of Sciences". De acordo com os pesquisadores, a redução na população ou a extinção local de animais frugívoros (comedores de frutos) de maior porte, como macacos e antas, dificulta a dispersão das sementes de árvores maiores e de madeira mais densa, abrindo espaço que é ocupado por plantas menores e de madeira mais leve cujas sementes são espalhadas pelo vento ou por animais frugívoros menores, como morcegos e pássaros. Com isso, a Amazônia armazena menos biomassa no total, num fenômeno que também aconteceria em outras grandes florestas tropicais do planeta.
- A retenção de carbono na forma de biomassa é um dos principais serviços ecossistêmicos das florestas - ressalta o professor Carlos Peres, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, líder da pesquisa, que contou com a participação de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, da Fiocruz e da Universidade de Oregon, nos EUA. - Esta capacidade, porém, depende de uma dinâmica florestal saudável, e, para isso, a floresta precisa de toda sua comunidade biológica. Nosso estudo mostra que se as pessoas continuarem a caçar em excesso os grandes mamíferos, as florestas tropicais podem perder muito da sua capacidade de armazenar carbono, pois diversas dessas espécies têm um papel vital na dispersão de árvores com sementes grandes associadas a uma alta densidade de madeira.
No estudo, os pesquisadores cruzaram dados de 166 levantamentos da fauna amazônica com informações sobre mais de 2 mil áreas de um hectare da floresta que abrigam quase 130 mil árvores de grande porte para avaliar o impacto da caça na sua distribuição. De acordo com eles, a caça foi associada à perda de biomassa acima da superfície em 77% a 88% destas áreas, chegando a 37,8% de redução na estocagem de carbono em algumas delas. Os cientistas estimam que, em média, ao menos 5,8% do carbono "preso" na Amazônia podem voltar à atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, mesmo que esse ecossistema seja protegido de outras ameaças, como extração de madeira e queimadas. A Amazônia responde por mais da metade das 460 bilhões de toneladas de carbono armazenadas nas florestas tropicais da Terra.
- O impacto da caça na estocagem de carbono das florestas é gradual, mas duradouro - diz Peres. - Sem esses animais dispersores de sementes, verdadeiros jardineiros das florestas, o processo de substituição das árvores persiste e não é facilmente reversível.
Diante disso, Peres e seus colegas defendem a inclusão da perda de fauna como parâmetro de degradação no âmbito do Programa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd+), parte das negociações climáticas globais e que prevê compensações a países para manter suas florestas preservadas.

O Globo, 26/01/2016, Sociedade, p. 23

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/caca-predatoria-na-a…

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