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Busca por povos isolados na Amazônia celebra 400 edições do Profissão Repórter

G1 - https://g1.globo.com
17 de Out de 2019

Os jornalistas Danielle Zampollo e Maycom Mota passaram 25 dias na Amazônia. Em uma viagem cheia de aventuras e riscos, o programa revela ameaças crescentes a um trecho remoto da floresta e a seus povos.

No programa em que atinge a marca de 400 edições, o Profissão Repórter mostra a expedição mais longa feita por repórteres da equipe. Danielle Zampollo e Maycom Mota passaram 25 dias na Amazônia e fizeram contato com povos indígenas isolados.

A viagem começou com um voo junto de uma equipe da Funai pela área de florestas da segunda maior terra indígena do Brasil, no Vale do Javari. O sobrevoo faz parte do monitoramento constante nesse território. O servidor Gustavo Sena explica como o garimpo ilegal prejudica a vegetação e também contamina os rios que cortam a floresta. "Isso tem um impacto nas comunidades. Essa água contaminada vai passar por essas terras indígenas, que é de uso desses povos." A Funai também acompanha pelo GPS a movimentação de povos que vivem distantes da civilização.

À deriva

Após sobrevoar a região, a equipe do Profissão Repórter continuou a expedição pela Amazônia de barco, já que não há estradas na região. Mas logo o primeiro problema apareceu. O barco usado para o transporte quebrou e deixou a equipe do programa à deriva em um rio por algumas horas até o anoitecer.

Takvan, um indígena da região que acompanha os repórteres, tentou contato com uma aldeia próxima dando um tiro para cima com uma arma, mas sem muito sucesso. Mais tarde, indígenas de outra aldeia próxima aparecem para ajudar. Eles enviaram uma mensagem de rádio para a base da Funai mais próxima.

"A gente continua à deriva esperando uma equipe da Funai. A gente está há cinco horas esperando. Nosso motor está quebrado, então vamos ver se vão encontrar a gente", diz a repórter Danielle Zampollo enquanto espera o resgate.

Somente às 22h a embarcação consegue chegar até a base de Ituí, da Funai, que serve de apoio para povos indígenas de cinco etnias e controla o acesso à região. Todo o cuidado é justificado pelas invasões de pescadores, garimpeiros e de caçadores.

A equipe do Profissão Repórter revela que a base foi atacada a tiros um dia após eles deixarem o local. "A gente dormiu lá no dia 17 de julho, no dia 18 de julho a base foi atacada novamente. Os invasores entraram na terra e deram cerca de oito tiros. Foi o quarto ataque em menos de um ano."

O colaborador da Funai Fábio Matute conta que o Exército foi até o local uma semana após o ataque e fez uma apreensão de 600 quilos de pirarucu pescados ilegalmente e 300 tartarugas.

Os conflitos com invasores também são a provável causa do assassinato de Maxiel, um colaborador da Funai que chegou a ajudar o Profissão Repórter durante a viagem. A investigação do crime é de responsabilidade da Polícia Federal, que não quis se manifestar.

Durante a estadia em Ituí, uma família para na base para buscar atendimento de saúde para uma criança que está com febre. Após conseguirem a medicação, eles passam a noite no local para depois seguir viagem até a cidade para uma avaliação médica.

Conflitos

A presença de invasores tem empurrado os grupos indígenas que vivem isolados para áreas ocupadas por outras etnias. A Funai tenta evitar o conflito. A próxima parada da expedição chega a uma aldeia Marubo, uma das etnias que tem reclamado da aproximação dos povos isolados.

Os indígenas dessa aldeia já se mudaram duas vezes a pedido da Funai para evitar conflitos com isolados, mas resistem a um terceiro pedido. "Acho muito difícil para mudar. Já mudei duas vezes e agora eu não estou sozinho", diz o cacique Manoel Marubo.

No dia seguinte, a equipe fez uma refeição com os moradores da aldeia. Foi servido carne de anta. "Os indígenas dependem da caça para sobreviver. Eles não têm um mercado. A gente foi recepcionado na aldeia Marubo com carne de anta. E se você não come é uma ofensa", diz a repórter Danielle Zampollo.

"Não pode vir pessoas de fora caçar de forma predatória dentro de uma terra indígena. Aqui eles caçam para se alimentar, e aqui estamos na casa deles e se eles convidam, a gente compartilha e come junto também", explica o servidor da Funai Gustavo Sena.

O povo indígena da aldeia também mostra a aproximação dos isolados. Em uma caminhada pela floresta é possível ver galhos amarrados. Não é a primeira vez que a aproximação acontece, mas a Funai até hoje não conseguiu identificar a etnia desse grupo de isolados.

Quarentena

Após deixar a aldeia, a reportagem começou a etapa mais desafiadora da expedição, fazer contato com um grupo de isolados, os Korubos. O primeiro contato da Funai com o povo indígena foi em março deste ano. A equipe do Profissão Repórter foi a única que conseguiu uma autorização para acompanhar o segundo encontro.

Mas antes do primeiro contato foi necessário passar por uma quarentena de 7 dias. "Para entrar nesse acampamento onde ficam os isolados, a gente teve que passar por uma quarentena de 7 dias. Essa é uma maneira de tentar prevenir a transmissão das doenças que a gente carrega. Os indígenas não tem um sistema imunológico preparado para uma gripe, e ela pode ser fatal", explica Danielle Zampollo.

Durante a quarentena, a rotina da equipe do Profissão Repórter e dos servidores da Funai e Sesai se resumiu a cuidar comida, dos equipamentos e das roupas.

Já a enfermeira Luziane López precisou ficar de olho nas vacinas que aplicará no povo indígena. Ela mantém a temperatura baixa com pedras de gelo e monitora tudo com um termômetro que fica em uma caixa térmica.

Contato

Após os 7 dias de quarentena, a reportagem seguiu para o encontro com os Korubo, mas antes ouviu algumas instruções de Takvan, que é da mesma etnia que os isolados. Ele pediu que a reportagem evitasse levar câmeras grandes no primeiro encontro. Existia a possibilidade do equipamento ser confundido com alguma arma.

A recepção a equipe do Profissão Repórter foi com olhares de surpresa e curiosidade com as câmeras e os celulares da reportagem.

O grupo de Korubos foi contatado pela primeira vez em março desse ano, o segundo encontro teve como principal missão vacinar as 34 pessoas da etnia. Com a aproximação de invasores e também de outros povos, vem também a chegada de doenças e o isolados não têm anticorpos.

"É uma experiência nova tratar indígenas isolados. A gente está acostumado com outro nível de paciente nas UBS, nos hospitais. Então aqui a gente precisa ter aquela cautela de menos é mais. Quanto menos medicação, é melhor", diz a médica Daiany Queiroz.

O Vale do Javari reúne outras 10 etnias de indígenas isolados e há registros de mais seis, ainda em estudo. É a maior concentração de povos que vivem distantes da civilização no mundo.

https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2019/10/17/busca-por-po…

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