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Brasil precisa fazer mais para evitar caos no clima

O Globo, Opinião, p. 16
04 de Nov de 2014

Brasil precisa fazer mais para evitar caos no clima
País só adotou metas voluntárias de redução de emissões, não se comprometeu com desmatamento zero até 2030 e suja matriz energética ao acionar termelétricas

O caos climático, do qual a maior seca já ocorrida no Sudeste brasileiro é um dos exemplos, torna infame a discussão sobre se o aquecimento global tem ou não base científica, se o homem é ou não responsável ou se países desenvolvidos têm mais responsabilidade que os demais.
Não dá para pagar para ver se a temperatura média mundial vai subir mais de 4 graus Celsius até 2100, como se comportarão as safras de trigo, arroz, milho e soja diante disso, se o gelo do Ártico terá desaparecido nos meses de setembro até 2050 ou se o nível do mar pode subir 82 centímetros até o fim do século, inundando países insulares e cidades costeiras. A inação, portanto, será trágica para a humanidade.
Diante do baixíssimo comprometimento dos líderes políticos em relação a ameaças tão dramáticas, o painel da ONU sobre mudanças climáticas (IPCC) divulgou no domingo seu mais contundente relatório, enfatizando que a concentração de gases-estufa na atmosfera é a maior dos últimos 800 anos e que, se a emissão de CO2 não cair logo, será muito difícil evitar que o planeta fique 2oC mais quente até 2100, dado considerado limite para o aquecimento global. Passar disso seria catastrófico.
Em sua quinta edição, o relatório do IPCC servirá de base para as discussões da Conferência do Clima de Lima, no Peru, em dezembro. Mas as esperanças de progresso concreto estão concentradas na COP21, em dezembro de 2015, em Paris. Cercada de muita expectativa, a COP15, de 2009, em Copenhague, foi marcada pelo impasse. Em 2010, a Conferência de Cancún criou o Fundo Verde - transferências de US$ 100 bilhões por ano até 2020 para que países em desenvolvimento criassem estratégias de mitigação das mudanças climáticas. Deu em nada. Este ano, em setembro, a ONU decidiu dar um empurrão e pediu que os países se comprometessem com o desmatamento (um dos maiores responsáveis pela emissão de gases-estufa) zero até 2030. Brasil, China e Índia não quiseram.
O Brasil, até agora, só se comprometeu com metas voluntárias. Está na contramão dos esforços de cientistas e da ONU. O desmatamento na Amazônia voltou a crescer. Preocupações eleitorais levaram os governos federal e de São Paulo a não adotar planos eficazes para lidar com a seca. Brasília deveria ter lançado campanhas para que a população economizasse energia e, por tabela, água. Já o programa de estímulo à redução do consumo em São Paulo mostrou-se insuficiente. A estiagem e problemas no planejamento do setor energético fazem com que o Brasil suje sua matriz energética. A queda da produção hidrelétrica é compensada com termelétricas, altamente poluentes.
O IPCC adverte que, se o mundo quiser evitar mudanças climáticas irreversíveis, deve zerar o uso de combustíveis fósseis até 2100. Para isto, terá de quadruplicar o uso de energias renováveis até 2050. A meta, viável, é para ontem.

O Globo, 04/11/2014, Opinião, p. 16

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