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Brasil importou eletricidade da Argentina um dia após blecaute

FSP, Mercado, p. B5
22 de Jan de 2015

Brasil importou eletricidade da Argentina um dia após blecaute

LUCAS VETTORAZZO DO RIO

Um dia depois do apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) importou uma carga adicional de energia da Argentina para atender a demanda no horário de pico.
É a primeira vez que o Brasil compra energia da Argentina no governo Dilma.
Segundo o IPDO (Informativo Preliminar Diário de Operação), boletim feito pelo ONS, referente a terça (20), o país chegou a importar 998 MW no horário de pico --o suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas--, registrado naquele dia às 14h48.
A transferência de energia entre os dois países ocorre por meio de contrato firmado em 2006. Há acordos do mesmo tipo com o Uruguai e o Paraguai. A energia da Argentina entra por meio de uma interligação em Garruchos (RS).
Em nota, o ONS explicou que o intercâmbio "vem sendo adotado em diversos momentos ao longo da vigência do acordo" entre os países.
As últimas vezes em que o país importou da Argentina, porém, foram em novembro e dezembro de 2010. Desde então, não houve transações de nenhum dos dois lados.
A operação chama a atenção porque, além de a Argentina viver atualmente um problema energético mais grave que o do Brasil, tanto o ONS quanto o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmaram, depois do apagão, que havia folga de energia no sistema brasileiro.
"Estão buscando alternativas para ampliar a oferta de energia, em vez de falar para a população economizar no consumo. Essa importação corrobora a hipótese de que o sistema não está com essa folga toda", disse o doutor em energia elétrica e professor titular da Universidade Federal de Itajubá (MG) José Wanderley Marangon.
A carga foi destinada especificamente ao sistema Sudeste/Centro-Oeste, que, tanto no dia do apagão quanto no dia seguinte, o da importação da carga argentina, não tem produzido energia suficiente para atender a sua demanda.

Especialista sugere restringir uso do ar-condicionado

DO RIO

Com o nível dos reservatórios baixos, usinas térmicas --anteriormente utilizadas só para emergência-- operando há dois anos a todo vapor, calor intenso e consumo recorde, é preciso que o governo tire da gaveta algum plano de que estimule as pessoas a reduzir o consumo de energia, defendem especialistas consultados pela Folha.
Para Mario Veiga, diretor da consultoria PRS, "2014 terminou numa situação calamitosa" dos reservatórios das hidrelétricas, e a "única solução de curto prazo" é a racionalização do uso de energia. O governo, disse, tem de ser "transparente", expor o problema e apelar para a população poupar energia, já que, explicou, não há tempo para ampliar a oferta no curto prazo.
Alexandre Szklo, professor da Coppe/UFRJ, crê que o estímulo ao uso racional de energia terá um "efeito limitado" neste momento, pois uma parcela expressiva da população teve acesso recente ao ar-condicionado e ainda há muitas instalações irregulares no país.
Em geral, quem utiliza o "gato" não se preocupa com o nível de consumo. De acordo com Szklo, as perdas de energia decorrentes de furtos chegam a 20%.
Ele sugere que se pense em medidas para restringir a utilização do ar-condicionado, hoje o maior vilão do horário de pico, no comércio e nas residências. O Japão, disse, só autoriza utilizar sistemas de refrigeração em lojas e repartições públicas com temperatura acima de 26oC.
O coordenador do Gesel/UFRJ (Grupo de Estudos do Setor Elétrico), Nivalde de Castro, afirmou que é mais simples reduzir o consumo de grandes estabelecimentos comerciais, como shopping centers, ou indústrias do que do consumidor regular.
Talvez fosse o caso, disse, de o governo pensar em discutir com as indústrias para deslocar sua produção para outro horário fora do pico, que hoje é no meio da tarde. Isso só poderia ser feito com uma compensação do governo às companhias.
(PEDRO SOARES E LUCAS VETTORAZZO)

FSP, 22/01/2015, Mercado, p. B5

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/205051-brasil-importou-eletric…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/205049-especialista-sugere-res…

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