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Bororos vão construir aldeia-modelo

OESP, Geral, p. A12
16 de Abr de 2004

Bororos vão construir aldeia-modelo
Idéia, para preservar a cultura desse povo, ganha apoio do ministro Gilberto Gil

Jotabê Medeiros
Enviado especial

Eles já foram milhares, mas hoje são apenas 1.2.00. Vivem em casas de alvenaria, aos moldes daquelas do antigo BNH, assistem a novelas das 8 e na sua associação cultural ouvem num aparelho de som de última geração standards de música americana tocados em flautas andinas. Cerca de 60% dos indivíduos adultos são alcoólatras.
Apesar de tudo isso, os índios bororos foram capazes de detectar o problema de aculturação do seu povo e formular uma solução inédita: a construção de uma aldeia-modelo igual aquelas em que viviam há 500 anos.
Para isso conseguiram ontem uma adesão de peso, a do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que, a menos de uma semana do Dia do Índio (que será na segunda-feira), visitou o local onde ficará a nova aldeia , uma região a 40 quilômetros de General Carneiro, no sudeste de Mato Grosso.
" É um projeto histórico. É a primeira vez que uma nação indígena brasileira pede respeito pela sua história", disse Gil, que foi recebido por cerca de uma centenas de índios vestidos ritualmente, de manhã. O País tem 215 nações indígenas. "Duvido que o Brasil recuse a realização de um projeto como este", completou o ministro, que prometeu não só ajudar, mas fixou prazo para a instalação da novíssima aldeia bororo: até o fim do ano.
O projeto do arquiteto Fabrício Gomes Pedrosa prevê a construção de uma aldeia tradicional e uma moderna, com conexões de internet, computadores, centro cultural , salas de exposições. Além disso, o local será reflorestado com o plantio de ervas, frutas e árvores.
Inicialmente, cinco famílias bororos vão viver na aldeia. Gil, que chegou cumprimentando na língua bororo (ele saudou com a palavra "pemegare", que quer dizer tudo bom), elogiou a iniciativa dos índios e quis saber detalhes técnicos, como de onde virá a energia para os computadores e a luz, etc.
Todo o projeto - orçado em R$ 3,5 milhões -, foi elaborado pelo bororo Paulo Meri Ecureu, a partir de reivindicações da aldeia. "Tem gente que diz que é impossível e desiste. Eu não. Um povo sem cultura não é um povo, é igual a qualquer caboclinho, qualquer ribeirinho. Tenho de assumir o que eu sou.
Posso ser o que você é sem deixar o de ser o que eu sou. É isso que eu tento passar para o meu povo.", disse.

OESP, 16/04/2004, Geral, p. A12

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