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Bom para o país

O Globo, Opinião, p. 6
Autor: QUEIROZ, Giovanni
05 de Set de 2011

Bom para o país

Giovanni Queiroz

Os plebiscitos para criação dos estados de Carajás e Tapajós acontecerão no dia 11 de dezembro. Pela primeira vez tratada nacionalmente, a discussão é de fundamental importância não só para os paraenses, mas para a Região Amazônica e todo o país. Ofereço aqui algumas contribuições ao debate.
Inicialmente, é necessário se compreender a realidade do Pará como o segundo maior estado do país, mas ainda sem conjugar sua extraordinária potencialidade com índices razoáveis de desenvolvimento. Temos hoje um Pará grande e pobre. O estado apresenta um quadro altamente concentrado de investimentos públicos na região metropolitana, o que deixa as demais regiões com indicadores sociais alarmantes, incluindo municípios onde dois terços dos lares não têm sequer energia elétrica e nem 10% recebem água encanada.
Esse quadro de exclusão se explica, em grande parte, pelas enormes distâncias entre o cidadão e o centro das decisões políticas e administrativas do estado. Por exemplo, para buscar atendimento médico adequado, os habitantes de Santana do Araguaia (Carajás) ou do município de Faro (Tapajós) têm de percorrer 1.200 km para chegar a Belém - o equivalente à distância entre São Paulo e Salvador.
Neste contexto, o Pará foi aos poucos se fragmentando e hoje é evidente a divisão do estado. Por isso, é preciso enxergar esse processo a partir das raízes socioeconômicas e culturais que o configuram - não como indutor de uma divisão, mas como consequência de uma divisão que se consolidou na construção histórica do estado.
Temos hoje três estados já divididos pela história, mas ainda unidos pelo mapa. Há um Pará litorâneo, com uma formação cultural miscigenada e um forte pólo industrial e economia portuária. Já o oeste do estado - a região de Tapajós - detém uma grande área de florestas, tem uma economia com forte crescimento das atividades agrícolas, pesqueira, mineradora e agora se prepara para ser também um grande produtor de energia elétrica, com Belo Monte. Por fim, temos o perímetro da região sul e sudeste, Carajás, que cresceu vertiginosamente em função dos investimentos em mineração, além de ter um agronegócio promissor e um sistema de geração de energia elétrica de ponta.
O Brasil já experimentou sucesso com a divisão de Goiás e Mato Grosso. Depois de emancipadas, essas regiões dobraram o seu peso no PIB brasileiro. Estudos de viabilidade econômica mostram que, se criado, o novo estado de Carajás terá capacidade de investimento de R$1 bilhão (superávit) - recurso suficiente para investir em áreas desassistidas. Por isso, repartir, neste caso, não é uma perda, mas a melhor forma de organizar o todo. Longe de ser mero desejo de emancipação de territórios, o pleito de redivisão territorial do Pará trata de uma adequação estratégica para potencializar as diversas vocações da região. O Brasil sem o Norte é um país "sem norte". Que o Pará legal e o Pará legítimo possam se associar ao crescimento apresentado pelo Brasil como um todo e, assim, o diálogo federativo aconteça em justa proporção.

Giovanni Queiroz é deputado federal pelo Pará e líder da bancada do PDT na Câmara.

O Globo, 05/09/2011, Opinião, p. 6

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