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Bolívia cobra mais estudos sobre usinas

FSP, Dinheiro, p. B12
04 de Ago de 2007

Bolívia cobra mais estudos sobre usinas
Delegação responsável por avaliar impactos ambientais de obra no rio Madeira diz estar insatisfeita com dados fornecidos pelo Brasil
Principal autoridade da área ambiental do país vizinho diz que ainda não há certeza de que hidrelétrica não causará "externalidades"

Eduardo Geraque
Da reportagem local

A delegação do governo boliviano encarregada de avaliar os possíveis impactos das usinas do rio Madeira se diz insatisfeita com os dados disponíveis sobre o projeto. Em reunião anteontem à tarde em São Paulo, no Escritório Regional da Presidência da República, o vice-ministro de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Ambiente da Bolívia, Juan Pablo Ramos, elogiou a predisposição do Brasil em compartilhar novas informações, mas disse ainda estar preocupado.
"Não estamos certos de que não haverá problemas. Não podemos sofrer externalidades negativas em nome do desenvolvimento do Brasil", disse Ramos à Folha. Para o político -que é economista e cursa doutorado na Universidade de Havana, em Cuba- há três problemas principais que preocupam o governo do presidente Evo Morales atualmente.
"Fundamentalmente, existe o tema das inundações, da pesca e da saúde", explica Ramos, que pelas leis bolivianas é a principal autoridade para o tema meio ambiente do país (não há na Bolívia um ministro de meio ambiente, que é uma pasta subordinada a outras).
Segundo o vice-ministro boliviano, muitas pessoas vivem da pesca na região que poderá ser afetada pelas duas represas que serão construídas do lado brasileiro da Amazônia. Além disso, como ocorreu na construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que começara há cem anos, o temor dos bolivianos é que ocorra outra epidemia de malária na região.
"A questão, entretanto, não é apenas de informação. Temos que garantir que um projeto como esse deva ser feito com cautela, ainda mais quando existem os indícios de impacto e de que um outro país está pedindo para que isso seja verificado. É apenas um mínimo de respeito que nós exigimos", explicou o representante do governo da Bolívia.
Apesar de um discurso a favor da harmonia e da convivência fraterna entre os vizinhos, Ramos foi claro quando questionado sobre o que a Bolívia pretende fazer se as usinas forem construídas e o impacto ambiental começar a aparecer.
"Se o Brasil optar por esse caminho, ele coloca a Bolívia com obrigação de defender sua soberania e seus direitos. Esperamos que não cheguemos a isso", disse. "Temos esperança de que não vai ser assim. Mas, caso isso não ocorra, qualquer nação no mundo apelaria a todos os mecanismos necessários legais e internacionais para reclamar seus direitos."
A Bolívia quer fazer agora uma reunião técnica, sobre os impactos das usinas do Madeira, do outro lado da fronteira. "Até lá, queremos que seja feito um trabalho técnico mais profundo com base nas informações que nos foram apresentadas agora", diz Ramos.
Para ele, essa análise dos impactos precisa ser feita de forma conjunta entre bolivianos e brasileiros, e "com a participação de grupos externos". O vice-ministro da Bolívia disse que o Peru também está preocupado com as usinas do rio Madeira e deve, também, entrar nessa discussão em breve.
Ciente de que a construção das usinas é algo que diz respeito apenas ao Brasil, Ramos também não quis falar em qualquer outro tipo de compensação que não seja a de reduzir ao máximo os impactos das usinas hidrelétricas.
"Não se trata de ressurgir esse velho preceito que existe na Europa de que o responsável pela contaminação é quem deve pagar a conta. Para nós, se trata de garantir que nossas condições ambientais e humanas sejam mantidas no estado que estão atualmente."

Frase

"Não estamos certos de que não haverá problemas. Não podemos sofrer externalidades negativas em nome do desenvolvimento do Brasil"
Juan Pablo Ramos
vice-ministro de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Ambiente da Bolívia

FSP, 04/08/2007, Dinheiro, p. B12

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