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Belo Monte perde espaço para usina no rio Madeira

Valor Econômico-São Paulo-SP
Autor: Cláudia Schüffner
18 de Mar de 2003

O projeto apresentado por Furnas para aproveitamento do rio Madeira com a construção de duas hidrelétricas em Rondônia, com capacidade de gerar 7 mil MW poderá ganhar prioridade em relação a Belo Monte, cujo projeto está em discussão há cerca de três anos. O presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, explicou que convocou uma reunião no Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel) para analisar os projetos, que não serão tocados paralelamente. "Hoje o projeto que está na frente é o de Belo Monte, mas podemos inverter essa ordem desde que seja satisfatório", explicou.

O desenho inicial de Belo Monte, no rio Xingu, previa investimento de US$ 3,7 bilhões para gerar 11 mil MW, sem contar os US$ 2,8 bilhões necessários para erguer 3,3 mil quilômetros de linhas de transmissão. O problema é que esse modelo exigia a inundação de uma grande área, inclusive de reservas indígenas, em plena Amazônia. Um novo projeto para Belo Monte foi elaborado, dessa vez com a usina sendo construída a fio d'água, o que significa menor inundação, menor capacidade de armazenamento de água e, consequentemente, menor potência.

Já o aproveitamento do rio Madeira, segundo Pinguelli, é atraente porque além de gerar energia para o Norte do país, vai permitir a integração da infra-estrutura de transporte entre Brasil, Bolívia e Peru, já que permitirá a navegação no rio Madeira entre Porto Velho e Abunã, na fronteira com a Bolívia. O projeto também é mais barato, já que estão previstos investimentos de R$ 4 bilhões na primeira fase.

"Além de permitir à Bolívia acesso ao mar, o complexo do rio Madeira viabiliza o projeto agrícola de soja. Mais do que um projeto regional, esse é um projeto de integração latino-americana", destacou o presidente da Eletrobrás.

Pinguelli ressaltou que ambos serão apresentados para licitação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e que a idéia é fazer uma articulação entre Furnas, Chesf e Eletronorte para formar um grande consórcio para concorrer a um ou outro projeto.

Sobre as negociações com a Albrás e Alumar para estabelecer novos preços para a energia de Tucuruí, controlada pela Eletronorte, Pinguelli disse que estão "caminhando bem". O assunto já foi tema de reuniões, uma delas com na presença da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, com a participação da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace). O contrato com as duas fabricantes de alumínio termina em 2004.

A Alumar e a Albrás, que são eletrointesivas, produzem cerca de 770 mil toneladas de alumínio por ano, dos quais a maior parte foi exportado. As duas empresas são as maiores produtoras de alumínio do país. Atualmente, a Albrás paga US$ 12 por megawatt-hora (MWh) consumido, enquanto a Alumar paga US$ 22. Pinguelli diz que não há definição "um número mágico" para o preço da nova tarifa.

Pinguelli explicou que o governo quer aumentar a tarifa dos consumidores industriais, particularmente os eletrointensivos, para permitir novos investimentos do grupo Eletrobrás, mas não a ponto de comprometer a competitividade dessas empresas para a exportação. "Não queremos matar a galinha dos ovos de ouro", diz.

Segundo Pinguelli, não se cogita elevar o preço para US$ 45. Apesar de achar que valor seria excelente, Pinguelli acha que é muito elevado e por isso não acredita que seja viável sua cobrança. A preocupação agora é não dar margem a interpretações de que há confronto com indústria ou com o mercado.

Apesar de frisar que não existe um valor definido para as novas tarifas, Pinguelli explicou se os preços fossem equalizados em US$ 22 - caso fosse cobrado da Albrás o mesmo preço que paga a Alumar - isso permitiria aumentar em 50% a receita da Eletronorte.

Pinguelli ponderou que os eletrointensivos não podem ser usados como "bode expiatório" para a difícil situação financeira da Eletronorte, que ainda está investindo para conclusão do aumento da capacidade de Tucuruí.

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