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Beleza abaixo do solo

Veja, Ambiente, p. 80-81
02 de Jan de 2013

Beleza abaixo do solo
Um livro revela uma maravilha pouco conhecida: as mais de 10 000 cavernas brasileiras. Elas têm fauna e flora próprias e muitas são deslumbrantes

GUSTAVO SIMON

Brasil tem mais de 10000 cavernas em seu território. Muitas abrigam paisagens deslumbrantes e são pontos turísticos. Outras guardam espécies desconhecidas de animais e insetos que atraem os cientistas. A maioria delas foi escassamente estudada. O mundo das cavernas brasileiras acaba de ganhar um livro que ajuda a conhecê-las melhor. Cavernas do Brasil, do geólogo e fotógrafo paulista Adriano Gambarini, mostra como as grutas se distribuem no país, fala de suas formações rochosas e da fauna que as habita. Tudo em meio a 160 fotos, muitas delas impressionantes. Grande parte das cavernas brasileiras se encontra em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Pará e Bahia. A maior delas, aliás, é a baiana Toca da Boa Vista, que se estende sob a terra por mais de 100 quilômetros. Em outra caverna da Bahia, a Lapa dos Brejões, foi descoberta em 2010 uma raridade: uma esponja de água doce de uma espécie desconhecida. Até então, não se tinha registro de um tipo de esponja de água doce de cavernas no Brasil. Existem no país três regiões turísticas cuja maior atração são as cavernas. A principal delas fica em Bonito, Mato Grosso do Sul. A Gruta do Lago Azul e o Buraco das Araras, este com 124 metros de profundidade e tomado por ninhos de araras-vermelhas, são formações causadas pelo desabamento no interior das rochas. As grutas da Serra da Capivara, no Piauí, atraem os turistas pelo interesse arqueológico. Há mais de 900 sítios, com milhares de painéis rupestres espalhados tanto pelos abrigos de pedra como pelos paredões que os circundam. O terceiro polo turístico é o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), no estado de São Paulo.
Mais de 300 grutas compõem a maior concentração da América Latina. Cavernas como as de Santana, Ouro Grosso e Agua Suja estão entre as que mais recebem visitantes no país e também são exploradas pelos espeleólogos, como se chamam os estudiosos das grutas. Na Caverna do Santana, no ano passado, foi descoberta uma nova espécie de opilião, um aracnídeo típico de grutas e conhecido pelo cheiro desagradável que exala. A região do Carste de Lagoa Santa, em Minas Gerais, é outro sítio arqueológico relevante. Na Gruta do Sumidouro foram encontrados os crânios dos Homens de Lagoa Santa, grupo ao qual pertence o famoso fóssil Luzia - o mais antigo fóssil humano das Américas, que deu novas pistas sobre a colonização do continente. Algumas cavernas são ponto de peregrinação. A Lapa de Bom Jesus, na Bahia, foi ocupada no fim do século XVII por um peregrino, que fez dela um lugar de retiro e orações. A população local o elevou à categoria de beato. Ao longo do tempo, dezenas de altares e imagens foram colocados na gruta, que recebe fiéis em romaria.
As grutas, em geral, se dividem em três zonas: entrada, penumbra e sem luz. As duas primeiras são ricas em vegetais e têm grande diversidade de animais e insetos. A zona sem luz, chamada de afótica, é composta de bolsões recônditos, com baixíssima variação de temperatura e pouco oxigênio. O ambiente pode parecer inóspito, mas também guarda uma vasta fauna, chamada de troglóbia, ou seja, incapaz de completar o ciclo de vida fora dessa zona.
São peixes cegos, que se orientam pelos bigodes, salamandras e muitos insetos. Por esses animais viverem em condições tão adversas, o estudo da fauna troglóbia ajuda a entender a evolução cias espécies.
Atualmente, há um conflito entre ambientalistas e mineradoras, que pleiteiam o direito de explorar áreas de cavernas. A mineração nessas formações foi liberada em 2008, mas depende da classificação de cada uma delas de acordo com seu grau de relevância - estabelecido com base em fatores como morfologia, dimensões e presença de animais raros. A exploração econômica só é proibida naquelas classificadas como de relevância máxima. As demais podem ser exploradas por mineradoras em busca de matéria-prima usada em indústrias essenciais para a economia, como a de ferro e a de cimento. Os ambientalistas querem a proibição completa da mineração. Diante da beleza de muitas cavernas, eles têm boas razões para isso.

Veja, 02/01/2013, Ambiente, p. 80-81

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