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Aquecimento já provoca extinção de dezenas de espécies de anfíbio

FSP, Ciência, p. A14
12 de Jan de 2006

Aquecimento já provoca extinção de dezenas de espécies de anfíbio

Para uma equipe internacional de pesquisadores, acabou a necessidade de usar os verbos no futuro para falar das extinções de animais causadas pelo aquecimento global. As vítimas, dizem eles, estão tombando no presente mesmo: mais de 70 espécies de sapos da América tropical, dizimadas por um fungo que se beneficia de temperaturas mais altas.
O trabalho, que está na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com), está sendo considerado um marco na tentativa de entender como o aumento da temperatura do planeta vai afetar a vida. As conclusões são assustadoras não só porque traçam uma relação clara entre aquecimento e extinção mas também por mostrar que as conseqüências do fenômeno podem se revelar, na prática, imprevisíveis.
Isso fica claro quando se considera o fungo assassino Batrachochytrium dendrobatidis, que parasita a pele sensível dos sapos. Ele supostamente "gosta" de temperaturas amenas -entre 17C e 25C-, o que poderia sugerir que o aquecimento global não é uma boa pedida para ele. Mas uma série de interações complexas o favorece, conta o ecólogo J. Alan Pounds, da Reserva de Floresta Tropical de Altitude de Monteverde, na Costa Rica.
"As mudanças nas interações entre espécies que resultarão do aquecimento serão muito importantes. E, por sua complexidade, podem ser muito difíceis de prever -são curingas no jogo", diz Pounds, coordenador do estudo.
Que as 110 espécies de sapos Atelopus andavam mal das pernas por causa do fungo, todo mundo já sabia. Pounds propôs um elo entre o problema e o aquecimento, e ele e seus colegas se puseram a investigar o caso.
Verificaram que 65% dessas espécies andam sumidas da América do Sul e Central -para todos efeitos, seriam extinções. O grupo viu também que, em 80% dos casos, o sumiço acontecia após anos anormalmente quentes. E se concentrava em áreas de montanhas e planaltos baixos (entre 1.000 e 2.000 m). Não parecia fazer sentido, diante da paixão do fungo por climas relativamente suaves.
O grupo viu, porém, que o aquecimento estimulava a formação de nuvens nesses lugares, o que, de dia, refrescava a temperatura e, de noite, a puxava para cima. O resultado é que, na média, o fungo estava no clima ideal. Detalhe: o parasita já atinge anfíbios na mata atlântica de Minas, diz o biólogo Reuber Brandão, do Ibama.
"É um trabalho muito importante, pois liga pela primeira vez a extinção de um grupo inteiro de espécies ao aquecimento", avalia Chris Thomas, biólogo da Universidade de York (Reino Unido).

FSP, 12/01/2006, Ciência, p. A14

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