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Angra 3

O Globo, Economia, p. 16
Autor: VIDOR, George
12 de Jan de 2015

Angra 3
Obra entra na fase da montagem de equipamentos, mas usina só vai gerar eletricidade em 2018

A tecnologia de Angra 3 é originalmente alemã, mas são os franceses da Areva que fornecerão os equipamentos que não chegaram a ser produzidos na época em que o Brasil resolveu construir a usina. Mas a participação da indústria brasileira será expressiva, com encomendas da ordem de R$ 1 bilhão. A usina somente vai gerar eletricidade em 2018, e até lá fará muito falta. Com a troca de equipamentos e atualizações tecnológicas, Angra 1 e 2 estão gerando 30 megawatts a mais que sua capacidade nominal, o que proporciona à Eletronuclear uma receita adicional de R$ 100 milhões por ano. As duas usinas consomem menos combustível que no passado e têm um melhor desempenho.
Sessenta por cento das obras civis de Angra 3 foram feitos. No prédio do reator, agora falta a cúpula, que somente poderá ser fechada depois de instalados alguns equipamentos pesados. A montagem desses equipamentos, aliás, finalmente começará este mês. Os contratos foram analisados durante dez meses pelo Tribunal de Contas da União e hoje os responsáveis pela usina até suspiram aliviados de ter levado todo esse tempo, porque permitiu uma avaliação minuciosa que deixou Angra 3 à margem de tantas denúncias cabeludas envolvendo obras de companhias estatais. Uma curiosidade: os 122 mil metros cúbicos de concreto já injetados (dois terços do volume total previsto) superam em 50% o que foi usado na construção do Maracanã em 1950.
Um financiamento externo tinha sido negociado para conclusão de Angra 3, mas o então secretário do Tesouro Nacional resolveu que a operação deveria ser feita por bancos federais. Como o contrato só ficou pronto no fim de dezembro, o ministro Guido Mantega resolveu passar a bola para seu sucessor.

Questão econômica
A crise do setor elétrico extrapolou a jurisdição do Ministério de Minas e Energia e, por seu impacto nas finanças públicas, nos índices de preços, e na saúde financeira das companhias que geram, comercializam e distribuem eletricidade, exigirá mais presença da equipe econômica (leia-se Joaquim Levy e auxiliares) na tomada de decisões. A tendência é que a agência reguladora (Aneel) se aproxime mais dos ministérios da Fazenda e do Planejamento na busca de soluções econômicas e financeiras para o setor elétrico, cabendo ao Ministério de Minas e Energia cuidar das questões técnicas (ampliação da capacidade, coordenação dos recursos existentes para se evitar a falta de energia). Não há hoje no mundo um modelo que possa servir como espelho para o Brasil. O Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao avaliar a experiência de outros países, constatou a dificuldade de se estabelecer o preço da energia no curto prazo em um sistema baseado em fontes renováveis (hidrelétricas, usinas eólicas etc.), com riscos que fogem à realidade econômica. No Brasil, não existe propriamente um mercado de curto prazo, com preços livremente negociados. O acerto de contas entre fornecedores e consumidores nesse mercado é feito por uma equação, com resultados que se mostraram economicamente inviáveis nesse longo período de reservatórios vazios.

Mais uma opção
A energia solar ainda está engatinhando na matriz energética brasileira, mas tudo indica que ganhará impulso semelhante ao das usinas eólicas, que em breve responderão por 2% da capacidade total de geração de eletricidade do país. A tecnologia que está sendo usada é a das placas fotovoltaicas, alimentadoras de baterias. Ainda é um processo caro, que tende a se tornar mais competitiva à medida que essas novas usinas se multipliquem e aumentem a capacidade de geração de eletricidade. No entanto, existem também outras tecnologias de aproveitamento da energia solar, como é o caso das usinas heliotérmicas. Em vez de baterias, a geração de eletricidade ocorre a partir do vapor (como em uma usina térmica convencional), obtido por meio de espelhos parabólicos que refletem o calor dos raios de sol. A primeira usina heliotérmica foi construída em 1984 no deserto de Mojave, na Califórnia. A Espanha fez a sua primeira experiência em 2007 e há dois anos os Emirados Árabes Unidos entraram no circuito, com a construção da maior usina heliotérmica conhecida. O pesquisador Alex Koberle, em artigo para a revista "Economia Rio", aponta a região do semiárido nordestino como área apropriada para as usinas heliotérmicas, que funcionariam combinadas a térmicas convencionais, com vapor gerado a partir da queima de biomassa (em todo o sertão usa-se a jurema-preta, lá abundante, para se fazer carvão vegetal). Diferentemente das usinas solares com células fotovoltaicas, a passagem de uma nuvem não é suficiente para diminuir a capacidade de geração de eletricidade de uma heliotérmica que, por certo tempo, consegue operar por inércia.

O Globo, 12/01/2015, Economia, p. 16

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