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Amazônia em perigo

CB, Opinião, p. 14
Autor: LIMA, Rubem Azevedo
15 de Jun de 2009

Amazônia em perigo

Rubem Azevedo Lima

O ministro Mangabeira Unger emplacou, no Congresso, com emendas dos congressistas, sua ideia de proteção da Amazônia brasileira, na visão de professor universitário nos Estados Unidos.

Há quem espere que a ideia funcione. Este repórter não conseguiu ouvir sobre o assunto o professor Aziz Ab'Saber, amazonólogo respeitável, mas a senadora Marina Silva, também especialista no tema, rejeitou vários aspectos da iniciativa do ministro.

Entre outras coisas, Mangabeira disse à GloboNews que seu projeto abrirá estradas vicinais, de ligação entre as áreas a serem regularizadas na Amazônia, para venda aos atuais ocupantes (muitos deles grileiros) e às empresas que ali se instalarem.

Tal projeto poderia, talvez, polir o estilo da letra do samba Alvorada brasileira. Explico: em 1964, no desfile de carnaval, este repórter falava com amigos de pontos a seu ver fracos na letra do samba, face à beleza da melodia. Perto de nós, no asfalto, um sambista do Império Serrano entrou na conversa e indagou sobre tais pontos. Sem falar da rima anil/Brasil na letra, citei "passeando pelas cercanias do Amazonas..." Passeia-se perto do teatro de Manaus; na margem do rio, não" - disse ao sambista. Esse era o autor do samba, Silas de Oliveira, professor de português no colégio Pedro II, que achou descabido meu reparo.

Ficou nisso. Agora, com o projeto do ministro, é razoável pensar em passeio nas cercanias do Amazonas. Mas, claro - eis o x da questão -, se as vias vicinais, sonhadas por ele, não virarem transamazônicas mirins devastadoras e criarem cenários de lamaçal, cana-de-açúcar, soja e gado.

Tal qual Beviláqua, o jurista que ignorava como abrir invólucro de canudo para refresco, Mangabeira parece desconhecer o regime pluvial e o solo da Amazônia, mas anuncia vicinais para os lotes dos 200 mil assentados e futuras empresas, como se estivesse no Texas. Esquece projetos americanos julgados perfeitos - Ford (anos 20), Hudson Institute (anos 60) e Daniel Ludwig (regime de 1964) -, que fracassaram. O de Mangabeira deve fracassar. Por sorte do que resta da Amazônia e - penitência minha - do poema que a exalta, como o sambista o criou.

CB, 15/06/2009, Opinião, p. 14

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