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Alencar vai a Quito em estréia como ministro

OESP, Nacional, p. A11
14 de Nov de 2004

Alencar vai a Quito em estréia como ministro
Vice-presidente tem encontro com secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, para tratar de cooperação hemisférica

Tânia Monteiro
Paulo Sotero

Depois de ter passado a primeira semana à frente do Ministério da Defesa sendo apresentado aos novos temas a que terá de se dedicar daqui para frente, o vice-presidente José Alencar vai pôr à prova, na segunda semana, suas qualidades de diplomata. A missão é debater a partir de amanhã em Quito, no Equador, as questões de Defesa das Américas.
Logo no primeiro dia da 6.ª Reunião dos Ministérios das Defesa das Américas o novo ministro conversará com a principal figura do encontro, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, a pedido deste. Rumsfeld quer apoio do Brasil para a proposta americana de transformar a Junta Interamericana de Defesa (JID) numa agência de coordenação da luta contra o crime organizado transnacional e o terrorismo.
O Brasil não gosta da idéia, que até agora só teve apoio do Canadá. Em conjunto com México e vizinhos sul-americanos, Brasília vem rejeitando a iniciativa, por entender que ela amplia as funções da Junta para o âmbito mais amplo da segurança. Em sua defesa, o Brasil lembra que essas novas ameaças - terrorismo, narcotráfico, tráfico de armas - já são tratados por outras entidades regionais.
Alto comando
Em seus primeiros dias na Defesa, além de se inteirar das novas rotinas, Alencar começou os contatos com as Forças Armadas, particularmente o Exército, principal foco de atrito de seu antecessor, o diplomata José Viegas.
O vice-presidente esteve na reunião do Alto Comando , no Setor Militar Urbano (SMU) e almoçou com os oficiais-generais. Habilidoso, fez uma saudação aos presentes e falou de sua admiração Exército. Em tom informal, disse do prazer em estar lá, entre os generais, e que sabia que ia ser feliz na nova missão que o presidente lhe atribuiu. Falou sobre sua vida e sua história como empresário, destacando a amizade que existe entre ele e o presidente Lula. Em data ainda não anunciada, Alencar pretende visitar os Comandos da Aeronáutica e Marinha, embora já tenha conversado com o brigadeiro Luiz Carlos Bueno e o almirante Roberto Carvalho.
A expectativa de todos os setores na Defesa é que tudo fique parado em novembro - o que dá ao ministro 30 dias para se inteirar dos assuntos polêmicos da área militar. Há expectativa também em relação às mudanças que ocorrerão no ministério. No caso dos comandos singulares, o próprio Alencar assegurou que todos ficam onde estão - inclusive o general Francisco Albuquerque, pivô da crise que culminou com a saída de Viegas. A permanência de Albuquerque tem o endosso do Planalto.
Alencar nada decidiu, ainda, em relação às pessoas que trabalham na Defesa. Até sexta-feira, apenas três ex-auxiliares de José Viegas tinham pedido afastamento do cargo. Há preocupação em setores militares sobre a permanência de pelo menos duas pessoas muito ligadas ao ex-ministro, que teriam alimentado os atritos não só com o Exército, mas também com a Marinha e a Aeronáutica. Trata-se do conselheiro do Itamaraty Fernando Abreu, um dos mais íntimos auxiliares de Viegas na Defesa, e do coronel Ivan Cavalcanti Gonçalves, chefe da Assessoria Parlamentar.
Causou surpresa o fato de Abreu, que exercia o cargo de chefe de Gabinete de Viegas, ter ficado na mesma função com a chegada de Alencar. Abreu não tem trânsito na cúpula militar porque participou do complicado processo de transição envolvendo o ex-ministro da Defesa, Geraldo Quintão, e Viegas.
Na primeira semana de trabalho na Defesa, o novo ministro foi bombardeado pelo lobby das companhias aéreas. Recebeu em audiência os presidentes da Vasp, Varig, TAM e Gol, além de um grupo de parlamentares do Rio Grande do Sul, que foram levar propostas de solução para o setor aéreo. A principal preocupação é com a Varig. Há ainda a delicada situação da virtualmente extinta Transbrasil, cujos negócios finais permanecem nebulosos. Os controladores nominais dizem que a empresa voltará a operar.
Alencar está recebendo e ouvindo a todos, mas nada resolve sob a alegação de que precisa se inteirar dos assuntos.

Brasil quer discutir proteção à região amazônica
Integração: Além de ouvir o secretário americano Donald Rumsfeld a respeito de um novo papel para a Junta Interamericana de Defesa, o vice-presidente José Alencar vai propor outra questão, de interesse direto para o governo brasileiro: a da cooperação e integração regional da indústria de defesa. No encontro, o Brasil aproveitará para falar sobre o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e oferecer aos países vizinhos cooperação para proteção ao meio ambiente. Ao falar do Sipam, o Brasil pretende mostrar como esse sistema de vigilância pode contribuir para as políticas de preservação da região. A cooperação e integração regional nas áreas de investigação, treinamento, ciência e tecnologia e indústria de defesa também estarão na pauta. Outro tema a ser discutido é o estabelecimento de políticas de preservação dos patrimônios naturais, de bens estratégicos e das grandes bacias hidrográficas da região. Alencar chega a Quito às 12 horas. À noite, participa do coquetel de abertura da cúpula e, na quarta-feira, discursa na primeira reunião com os demais 32 ministros da Defesa que já confirmaram presença. Neste mesmo dia, poderão ser realizadas outras reuniões bilaterais. O vice-presidente brasileiro tem uma audiência marcada com o presidente do Equador, Lucio Gutiérrez. Alencar deve voltar ao Brasil na quinta-feira.

OESP, 14/11/2004, Nacional, p. A11

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