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Álcool e drogas matam índios na Amazônia

Agência Amazônia - www.agenciamazonia.com.br
10 de Nov de 2008

Quatro índios morreram e outros 18 tentaram se suicidar em Santa Isabel do Rio Negro após ingestão de bebidas.

SANTA ISABEL DO RIO NEGRO, AM - Caótica e preocupante. Assim é como se encontra a situação dos povos indígenas das cidades do Alto Rio Nego, entre as quais Santa Isabel do Rio Negro. Essa é conclusão a que chegaram os membros da Comissão de Assuntos Indígenas da Assembléia Legislativa do Amazonas, liderados pelo deputado José Lôbo (PC do B), e que percorre as aldeias indígenas do Estado para averiguar in loco as condições de vida dos índios amazonenses.

Entre os índios deste município, o alcoolismo se constitui numa das maiores tragédias. Devido à ingestão de bebidas só este ano ocorreram quatro mortes e 18 tentativas de homicídio dentre os índios da região. "A situação é alarmante e exige medidas urgentes", reconhece José Lôbo. A comitiva por ele liderada ouviu líderes indígenas, religiosos, autoridades locais (juiz e delegado) professores, sociólogos, pedagogos e antropólogos. A reclamação é uníssona: a omissão do Estado brasileiro está matando os índios desse pedaço da Amazônia.

A comitiva foi até a comunidade Nazaré de Enuixi (a uma hora de lancha voadeira da sede do município). Ali, os deputados conversaram com o tuxaua Stanilau Arapasso, de 65 anos. Segundo o líder indígena, o crescente aumento do consumo de álcool entre jovens indígenas é decorrente da falta de perspectivas para eles.

Álcool e drogas

Durante a estada na comunidade, os deputados ouviram da gestora da Escola Salesiana de Santa Isabel, irmã Rainilza Marques de Almeida. A freira contou aos parlamentares que muitos indígenas daquela área começam a beber e a usar drogas ainda crianças. "Alguns, sabe-se, começaram a se embebedar com oito anos de idade", conta Rainilza, em tom desolador.

"Aqui, as crianças faltam à aula por causa das festas regadas a muito álcool", acrescenta a feira. De acordo com ela, dois lugares - o Espaço Fama e Novo Sombra - oferecem festas aos jovens nos finais de semanas. Muitos menores freqüentam esses locais e até permanecem, muitas vezes, até a manhã seguinte, o que os impede de freqüentar as salas de aula.

Segundo irmã Rainilza Marques de Almeida, a mistura de álcool e drogas está causando alucinações, histerismo e visões em muitos jovens da comunidade. A situação agravou-se mais este ano, a ponto de entre os meses de julho e outubro ter aumentado a incidência de casos de tentativas de homicídios.

A religiosa ficou tão preocupada com o drama dos índios que recorreu à Polícia Militar e ao Conselho Tutelar para, conjuntamente, encontrar uma solução. Ainda segundo a freira entre os índios que se suicidaram ou tentaram suicídio a maioria havia se tornado alcoólatra. "Para mudar esse quadro, é preciso projetos que atendam principalmente os jovens", aponta ela.

Suicídio com tiro de espingarda

A comitiva de José Lôbo ouviu depoimentos emocionantes. Um deles foi o da índia da etnia baré Zelinda Venâncio Gonçalves. Ela ficou viúva do Ademir Miranda de Souza, 42 anos, que se suicidou com um tiro de espingarda. A tragédia aconteceu no dia 18 de setembro na comunidade São João. Agora, com 9 filhos para criar ela não sabe o que fazer da vida.

O índio desano Herculano da Gama, 21, também tentou o suicídio há dois meses após ingerir uma quantidade excessiva de cachaça. Gama tentou se enforcar no galho de uma mangueira em frente sua casa. O suicídio só não ocorreu porque a família percebeu a tempo.

(*) Com informações do jornalista Jerson Aranha.

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