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Águas do bem

JB, Opinião, p. A10
01 de Fev de 2005

Águas do bem

O governo do presidente Lula vem aos poucos tirando do papel o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. Reacende, assim, uma das mais consolidadas polêmicas nacionais. Afinal, desde que Dom Pedro II encomendou o primeiro estudo técnico sobre o assunto, são mais de 150 anos de uma discussão que se arrasta feito cabo-de-guerra. Ou se é contra ou a favor. Pena. Com tal maniqueísmo, acabou-se restringindo um debate necessário para grande parcela da população.
Do sonho de Ícaro de um imperador (que lhe garantiu a pecha de megalômano) à inclusão da obra no Orçamento da União deste ano, o projeto da transposição tornou-se fundamental em face do debate mundial e local em torno da redistribuição da água potável. Para os ribeirinhos e políticos de estados doadores, trata-se da sentença de morte do rio. Para os nordestinos do semi-árido, é salvação da lavoura e torneira pingando em épocas de seca. Simples e difícil. Imersos no cipoal político e legal estão o alto custo, os impactos ambientais, a sobrevivência do rio e os interesses dos estados.
Nem os que recusam a transposição cometem crime de lesa-pátria, nem os que a defendem são aventureiros irresponsáveis. A transposição não é o bem que resolverá todas as mazelas das secas. Também não é o mal, destruidor do meio ambiente e das finanças do país. O problema da discussão polarizada é que tangencia dois temas realmente relevantes para o desenvolvimento sustentável do Nordeste e, por conseqüência, do próprio país: a gestão integrada dos recursos hídricos e a revitalização do São Francisco.
Críticos do projeto temem que, sem integração das bacias (com a construção de dois canais munidos de estações de bombeamento e mini-hidrelétricas, e abertura de adutoras), a transposição perpetuará a lógica secular da região: a água beneficiará poucos privilegiados. Devolver vida à bacia do São Francisco, por outro lado, é outra condição essencial para o projeto sobreviver à demanda de 15 milhões de pessoas.
O governo parece consciente de tais necessidades. Por isso, tudo somado, convém acreditar no projeto. Ainda mais se identificado com um programa de desenvolvimento, no qual a água é o elemento-chave para um futuro mais vistoso.

JB, 01/02/2005, Opinião, p. A10

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