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Água em estado crítico

FSP, Opinião, p. A2
09 de Mar de 2014

Água em estado crítico

EDITORIAIS
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Ações para garantir recursos hídricos não geram efeitos imediatos, mas problemas não são novos, e PSDB governa SP há quase 20 anos
O abastecimento de água na Grande São Paulo chegou a um ponto crítico. A fim de evitar o racionamento e a exaustão do sistema Cantareira, são tomadas medidas extremadas, como investir em equipamentos para extrair as reservas restantes ou recorrer a represas menos esvaziadas da região.
O racionamento seria sem dúvida um transtorno. O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) não quer restringir o consumo d'água antes do final da estação de chuvas. As autoridades, porém, não deixam claro se a aposta na generosidade celeste é tecnicamente responsável.
Caso não chova o bastante, essa demora pode causar ainda mais prejuízo no período de seca? Espera-se que o governo paulista não esteja penhorando o futuro ao adiar, em nome das eleições, uma medida impopular.
O debate deveria ir muito além da administração da emergência. Após uma década de relativa segurança nessa área, nota-se que o equilíbrio entre oferta e demanda de água é precário em São Paulo.
Como observa a própria Sabesp, responsável pelo abastecimento metropolitano, a região padece de escassez semelhante à de localidades desérticas. A água disponível equivale a menos de 15% do patamar que a ONU considera crítico.
Sabe-se ao menos desde 2009 que dois anos de seca levariam a uma crise, cujas razões são conhecidas há décadas por especialistas.
Parte do problema se deve ao crescimento insustentável da cidade: poluente e regressivo em termos sociais. A despeito das recentes iniciativas de contenção ambiental, represas e rios da metrópole recebem esgotos e dejetos industriais. Tal situação é agravada pela ocupação desordenada das áreas de mananciais, em geral por segmentos mais carentes.
Há desperdício na produção e no consumo. A perda da água na região metropolitana equivale a 40% da capacidade do sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas. Vê-se nas ruas o desperdício em atividades como lavagem de calçadas --sintoma de que o uso excessivo é ainda barato demais.
Tratamento de esgoto e de poluentes industriais, redução de perdas, consumo racional e reutilização da água são medidas que obviamente levam décadas para surtir efeito. Mas esse é o tempo do desenvolvimento de infraestruturas eficientes --e não há como deixar de lembrar que o PSDB comanda o Estado de São Paulo desde 1995.
A alternativa são crises periódicas de abastecimento, o encarecimento proibitivo das obras de captação e distribuição de água ou perdas econômicas devido a investimentos abortados pela escassez.
Discute-se agora solução imediata. Espera-se, de fato, que o governo paulista coloque a prudência à frente do calendário eleitoral. E que aproveite a oportunidade para mudar o modo como se encara o problema da água, até aqui tratada como um bem que cai dos céus.

FSP, 09/03/2014, Opinião, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/155563-agua-em-estado-critico…

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