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Acesita desenvolve eucalipto mais produtivo

GM, Agribusiness, p. B12
21 de Jul de 2004

Acesita desenvolve eucalipto mais produtivo
Nova variedade da empresa mineira produz seis vezes mais carvão do que as plantadas no início da década de 70.

Durval Guimarães
De Itamarandiba (MG)

Uma das maiores empresas reflorestadoras do País, com mais de 90 mil hectares plantados em Minas Gerais, a Acesita Energética possui também uma verdadeira fábrica de árvores, com produção de 150 mil mudas por dia. No último final de semana a empresa apresentou a este jornal, em suas terras no município de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, as primeiras árvores prontas para o abate de um eucalipto híbrido denominado HC-1528, espécie de extraordinária produtividade, que duplica o desempenho das variedades existentes e que produz seis vezes mais carvão que as plantadas no início da década de 70, quando desembarcaram da Austrália para produzir ferro e celulose nas indústrias nacionais.

Esse verdadeiro super-eucalipto já está sendo semeado com objetivos comerciais desde o final do ano passado nas terras da empresa, que é subsidiária da siderúrgica Acesita. A despeito da sua fantástica produtividade ele ocupará apenas 900 dos 4,5 mil hectares plantados anualmente já que, por razão de segurança, a empresa utiliza sempre cinco espécies diferentes, simultaneamente, temendo se concentrar num único tipo e ter sua floresta dizimada por pragas.

Embora 70% da sua produção anual de 23 milhões de mudas, sejam vendidos a terceiros, a empresa somente colocará a espécie no mercado dentro de dois anos pois, segundo o seu diretor florestas, o engenheiro florestal Paulo Sadi Silochi, o objetivo é atender à demanda da própria reflorestadora e, ao mesmo tempo, permitir o escoamento das outras espécies que ainda estão em linha de produção.

Décadas de pesquisa
A importância dessa nova variedade está ligada diretamente ao caráter estratégico do eucalipto para a economia brasileira, já que sua madeira é responsável pelo abastecimento da maior parte do setor industrial de base florestal. Segundo estatísticas da Associação Brasileira de Produtores de Madeira (ABPM), o eucalipto é a matéria-prima utilizada em 70% dos 5,4 milhões de toneladas de celulose produzida anualmente no País e dele também resultam 14,4 milhões de toneladas de carvão, que são utilizados anualmente na produção do ferro-gusa. Para se obter uma tonelada do metal é necessário misturar, num alto-forno, 500 quilos de minério e 500 de carvão, sendo que este último ingrediente tem o papel de aquecer o processo químico e, principalmente, de fornecer o carbono para a liga.

A descoberta do HC-1528 não foi, porém, obra do acaso, mas fruto de extenuantes pesquisas que vêm sendo desenvolvidas e aplicadas há mais de 20 anos por um exército de mais de 250 cientistas, técnicos e funcionários do viveiro de dimensões industriais, que a empresa mantém na cidade de Itamarandiba, localizada a 500 quilômetros a nordeste de Belo Horizonte.

Ali foram desenvolvidas centenas de variedades que, ao longo destes anos, permitiram a um hectare de florestas, que produzia 31 toneladas de madeira em 1974, passar às atuais 122,5 toneladas na época da colheita. Agora, com a nova espécie, a produtividade alcançará 262,5 toneladas por hectare. O desempenho esperado corresponde a um incremento de quase dez vezes na produtividade original.

O engenheiro Sadi Silochi não sabe precisar se existem espécies com a mesma produtividade sendo desenvolvidas no litoral, onde empresas de porte, como a Aracruz, cultivam gigantescas florestas de eucalipto para alimentar suas fábricas de celulose.

"Nossa árvore é a mais produtiva do cerrado, mas se ela for plantada no litoral certamente terá desempenho ainda maior, já que naqueles locais chove muito mais", afirmou.

De qualquer forma seria uma primazia irrelevante, pois o HC-1528, em decorrência da sua alta densidade de lignina e baixo conteúdo de celulose, torna-se excelente para a produção de carvão e desaconselhado para a produção de papel. Para atender a este último setor industrial a equação deverá ser invertida na composição dos dois principais elementos da madeira. Mas, em relação à espécie atual usada na siderurgia, o novo híbrido torna-se imbatível.

Trata-se de uma árvore mais alta, mais encorpada, com mais densidade e mais resistência mecânica. Isso significa, na prática, que tem mais volume de madeira, produz mais energia, mais carvão e oferece resistência semelhante à do carvão mineral, que é uma espécie de pedra. Esta última qualidade garante que ele não será esmagado pelo minério dentro do alto-forno.

Os benefícios proporcionados pelo HC-1528 não serão imediatos, pois o eucalipto somente é abatido sete anos depois do plantio. Isso significa que a Acesita só colherá os frutos da variedade no final da década, mas será um momento oportuno pois, à época, a empresa estará reformando um dos seus dois altos-fornos e será exatamente aquele que, pouco antes da sua privatização, foi convertido para o uso de carvão vegetal.

Naquele tempo, os economistas da siderúrgica acreditavam que, em decorrência da falta de madeira no País, o coque se tornaria mais barato do que o carvão vegetal. Uma década depois a realidade mostrou-se totalmente diferente, com uma tonelada de carvão mineral custando US$ 450 enquanto a de carvão vegetal é vendida por um preço três vezes menor.

Procurado por este jornal para avaliar a repercussão da nova modalidade de eucalipto na atividade florestal, o diretor do curso de pós-graduação em engenharia florestal da Universidade Federal de Viçosa, professor Laércio Couto, confirmou que haverá considerável avanço na setor, uma vez que, devido à sua grande produtividade, permitirá que as empresas ampliem sua capacidade de produção, sem necessidade de aquisição de novas terras. O professor, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Agrossilvicultura, acredita que exemplares desses clones rapidamente chegarão aos demais produtores, permitindo o aumento de suas receitas anuais.

GM, 21/07/2004, Agribusiness, p. B12

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