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Acelera, Minc

CB, Política, p. 2
15 de Mai de 2008

Acelera, Minc
Principal missão do novo ministro do Meio Ambiente é apressar liberação de licenças ambientais de projetos do PAC. Lula tentou convencer Jorge Viana a assumir a pasta, mas o ex-governador não quis

Daniel Pereira
Da equipe do Correio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou ontem, por telefone, o secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, a assumir o Ministério do Meio Ambiente, no lugar de Marina Silva. A data da posse será marcada em reunião entre os dois, na próxima segunda-feira, no Palácio do Planalto. No encontro, o presidente deixará claro que a missão do novo auxiliar é acelerar a concessão de licenças ambientais para projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Minc terá de apresentar de forma clara e rápida as restrições impostas por órgãos ambientais a obras federais, além das respectivas recomendações para que os problemas mencionados sejam superados. Espécie de padrinho da nomeação, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), disse a Lula que Minc dará conta do recado porque agiu exatamente dessa forma na administração estadual. Segundo o governador, ele é um "gestor eficiente", tal qual a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Apelidada de "mãe do PAC" pelo presidente, Dilma acumulou atritos com Marina devido à suposta demora da área ambiental para conceder licenças a projetos na área de infra-estrutura. O incômodo pessoal foi transformado em bandeira do governo diante da dificuldade para obtenção, por exemplo, de autorização para a construção da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira (RO). Depois de muita pressão, inclusive de Lula, que ironizou a preocupação dos ambientalistas com os "bagrinhos", o Ibama expediu o documento.

Ontem, o presidente divulgou, em duas ocasiões diferentes, a tese de que conta com a "experiência e o conhecimento de Minc" para dar continuidade aos programas oficiais. "A política ambiental no Brasil não muda. A companheira Marina se foi, e a política dela continua", declarou Lula, de manhã, em entrevista à imprensa. A agenda do ministério é alardeada pelo presidente mundo afora. Entre as prioridades está o combate ao desmatamento na Amazônia (veja quadro). O presidente ligou para Minc, que está em Paris, por volta das 15h45. Conversaram durante cerca de 15 minutos.

Argumentos
O convite a Minc foi feito porque o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT) se recusou a assumir o ministério. Em reunião com Lula no Planalto, no início da manhã, Viana recorreu a três argumentos para se negar, pela segunda vez em dois anos, a substituir Marina. Hoje, ele é presidente do Conselho de Administração da Helibrás, empresa fabricante de helicópteros.

De acordo com um senador petista, recebe na iniciativa privada uma remuneração capaz de inibir qualquer tentação de ocupar um cargo de destaque na máquina federal. Viana também alegou não se sentir à vontade para substituir Marina, de quem é amigo e parceiro de luta política no Acre. E a terceira: lembrou ao presidente que pretende concorrer ao Senado em 2010. Portanto, não poderia se dedicar muito tempo ao ministério, diante da necessidade de fazer campanha.

Viana era considerado favorito para comandar a pasta exatamente pela proximidade com Marina. Isso, de acordo com auxiliares de Lula, ajudaria a reduzir as preocupações manifestadas por organismos internacionais na esteira da demissão da ministra, que ainda não foi oficializada. Tamanho era o favoritismo do ex-governador que Minc, no início do dia, descartou a possibilidade de trocar de posto. "Eu jurei de pés juntos que não iria para Brasília. Sou ligadíssimo a Marina. Temos uma história comum desde os tempos de Chico Mendes. Não está nos meus planos."

RAIO X
Quem é Carlos Minc

Nasceu em 1951, é casado e pai de dois filhos
É um dos fundadores do Partido Verde (PV), mas trocou a legenda pelo PT
Ocupa atualmente o cargo de secretário do Ambiente do Rio de Janeiro
Seu desempenho à frente da secretaria tem se caracterizado pela rapidez no licenciamento ambiental de grandes obras no Rio
Foi líder estudantil e participou da resistência à ditadura militar. Preso em 1969, aos 18 anos, e exilado, ele voltou ao Brasil em 1979, com a Anistia
É professor-adjunto do Departamento de Geografia da UFRJ, com mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Técnica de Lisboa, em 1978
Tem doutorado em Economia do Desenvolvimento pela Universidade de Paris 1 - Sorbonne, em 1984
Recebeu em 1989 o Prêmio Global 500, concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU) a pessoas que se destacam na luta pela defesa do meio ambiente
É autor, entre outros livros, de Como Fazer Movimento Ecológico (Editora Vozes; 1985), A Reconquista da Terra (Editora Zahar; 1986), Ecologia e Política no Brasil (Espaço e Tempo/Iuperj; 1987), em co-autoria com Fernando Gabeira, e Despoluindo a Política (Editora Relume Dumará; 1994). Seu último livro, Ecologia e Cidadania (Editora Moderna; 1997), está na terceira edição

CB, 15/05/2008, Política, p. 2

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