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101 novos institutos ganham R$ 553 mi

FSP, Ciência, p. A16
28 de Nov de 2008

101 novos institutos ganham R$ 553 mi
Com ajuda de fundações estaduais, governo federal cria redes para acelerar pesquisas em áreas estratégicas ao país
Ministro afirma que vai "acompanhar de perto" os trabalhos dos centros e dará "cartão amarelo" a quem não apresentar resultado

Eduardo Geraque

O governo federal anunciou ontem o maior investimento já feito em redes de pesquisa no país. Serão R$ 553 milhões a serem aplicados em 101 institutos nacionais de ciência e tecnologia nos próximos três a cinco anos. Segundo o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), o objetivo é consolidar o sistema de pesquisa brasileiro.
Cada um dos escolhidos terá entre R$ 2,1 milhões e R$ 7,2 milhões para gastar até 2011. Várias áreas do conhecimento, como saúde, Amazônia, agronegócio, células tronco, ciências sociais, tecnologia da informação e física foram contempladas pelos consultores.
Apesar de a maioria dos institutos estar no Sudeste -são 36 só em São Paulo-, a maior novidade está na Amazônia, que ganhou oito. Os centros vão estudar assuntos que vão de biodiversidade até madeira e energias renováveis.
A idéia dos institutos é induzir pesquisa nas universidades, que vêm crescendo mais rápido do que o sistema nacional de ciência e tecnologia. O ministério assume, assim, o papel de escolher as áreas estratégicas nas quais as universidades irão centrar seus esforços.
No lançamento dos institutos, ontem em Brasília, o ministro Sergio Rezende afirmou que dinheiro hoje não é mais o maior problema. "Nós teremos de acompanhar de perto os institutos", disse, deixando claro que o desafio é obter resultados de qualidade.
Segundo Rezende, a idéia é evitar os mesmos resultados pouco práticos obtidos pelos institutos do milênio, programa governamental criado em 2001 que distribuiu quase R$ 200 milhões para 34 grupos de pesquisa considerados estratégicos para o país.
"Os relatórios apresentados pelos institutos do milênio foram muito burocráticos. Nós agora vamos acompanhar tudo mais de perto. Queremos agora menos palavras e saber mais do que já foi feito [pelos grupos de pesquisa]", afirmou o ministro.
Segundo Rezende, entre o primeiro e o segundo ano de financiamento dos institutos, haverá um "cartão amarelo" para quem não tiver produzindo como o esperado. "E, no terceiro ano, poderemos até retirar os recursos", disse. Os institutos que funcionarem poderão ganhar uma extensão de dois anos da verba.
Apesar de a lista de contemplados ser abrangente, o ministério declarou que existem lacunas a serem preenchidas. "Nós precisamos, por exemplo, de um instituto de paleontologia e arqueologia. Mas a única proposta que apareceu, vinda do Nordeste, era muito ruim".
A área de petróleo e gás foi outra lacuna mencionada por Rezende. Segundo ele, apesar de alguns grupos terem sido contemplados, é preciso mais institutos nesse campo.
Apesar de todos os institutos serem voltados para a área acadêmica, isso não significa, segundo Marco Antonio Zago, presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que apenas resultados de pesquisa básica serão gerados. "Haverá transferência de tecnologia."

Áreas contempladas incluem mudança do clima, astrofísica e estudos dos EUA
De terremotos à astrofísica, passando por estudos dos EUA e de geleiras, a lista de linhas de pesquisa a serem financiadas nos novos institutos é ampla.
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Astrofísica, coordenado pelo professor João Evangelista Steiner, da USP, é um dos contemplados. "No nosso caso, a questão é mais estratégica. O objetivo do nosso grupo será pensar onde estaremos daqui a 15 anos. A astronomia brasileira colhe frutos hoje por causa dos observatórios Gemini e Soar [ambos instalados no Chile]. O primeiro começou há 15 anos e o segundo há 2 anos", afirmou o cientista à Folha.
O objetivo do Instituto Nacional de Mudanças Climáticas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é mais pragmático. O grupo terá R$ 7,2 milhões para desenvolver um modelo climático brasileiro que possa prever, assim como fazem os grandes grupos de modelagem do mundo hoje, as exatas conseqüências do aquecimento global.
"O que anima é a possibilidade de fazer pesquisa integrada e interdisciplinar", diz o coordenador do centro, o climatologista Carlos Nobre. Ele pilotará uma rede que envolve 74 grupos de pesquisa nacionais e 14 internacionais.
O país também ganhará seu primeiro centro de pesquisas da criosfera (nome dado aos 10% da superfície terrestre permanentemente cobertos por gelo). Sediado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o centro liderado por Jefferson Simões abrigará um laboratório especial para a armazenagem e o estudo de testemunhos (cilindros) de gelo escavados em geleiras na Antártida ou nos Andes.
A missão do instituto também tem a ver com mudanças do clima. Segundo Simões, a idéia é avaliar o impacto do degelo no nível do mar.

FSP, 28/11/2008, Ciência, p. A16

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