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Visita de lideranças abre exposição de fotos sobre luta pelos direitos indígenas nos últimos 30 anos

ISA - http://www.socioambiental.org
21 de Nov de 2013

Comentário de indígenas foi de que, apesar dos inúmeros avanços, povos indígenas precisam continuar unidos na luta em defesa de suas terras e seus direitos. Cerca de 700 pessoas foram à abertura da mostra, na noite de terça

A exposição Povos Indígenas no Brasil 1980/2013 - Retrospectiva em Imagens da Luta dos Povos Indígenas no Brasil por seus Direitos Coletivos foi aberta, na tarde de ontem (19/11), na Praça do Museu da República, em Brasília, com uma visita de três dos mais importantes líderes indígenas brasileiros dos últimos 30 anos.

Raoni Metuktire, Davi Kopenawa e Marcus Terena, protagonistas de vários dos momentos retratados nas imagens da mostra, rememoraram episódios marcantes das lutas pelos direitos indígenas, desde a Constituinte (1986-1988) até as mobilizações recentes.

O comentário geral foi de que, apesar dos inúmeros avanços conquistados nessas décadas, os povos indígenas precisam continuar unidos na luta em defesa de suas terras e seus direitos.

"Os políticos deveriam ver essa exposição para que eles possam aprender a respeitar os direitos indígenas, para que não aconteça o que aconteceu antes", afirmou Kopenawa. Ele disse que a exposição o fez relembrar tempos de luta, mas também de violência.

Algumas fotos da mostra retratam consequências da invasão de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami (AM/RR), entre 1985 e 1993. Calcula-se que entre 10% e 15% da população na área tenha sido dizimada no período.

Davi acredita que a nova geração de lideranças indígenas está mais preparada para enfrentar os problemas atuais dos povos indígenas, como a volta das invasões de garimpeiros. "Estão querendo estragar a nossa terra de novo. Não vamos deixar. Estamos mais preparados. Antigamente, muitas lideranças não sabiam defender seus direitos, nem sabiam falar português. Nossos filhos, hoje, sabem escrever, reclamar com o governo e os políticos", disse o líder Yanomami.

"O maior problema continua sendo nossa terra. Estou preocupado com a futura geração do meu povo", alertou Raoni Metuktire. Ele afirmou que os Kayapó continuam lutando para proteger seu território das invasões. O líder Kayapó aparece em uma das fotos mais marcantes da exposição, puxando a orelha do então ministro do Interior do governo militar, em 1984, Mário Andreazza. "Aceito ser seu amigo, mas você tem de ouvir o índio", informa a legenda.

"Esses movimentos que estão retratados mostram situações de avanço, de cooperação, quando todos lutavam por objetivos comuns. Conquistamos espaços, ajudamos a pensar e a elaborar várias mobilizações", lembrou Marcus Terena.

Para ele, dois dos principais desafios atuais do movimento indígena são a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, que está parado no Congresso há vários anos, e a regulamentação do Capítulo dos Direitos Indígenas na Constituição.

Poder evocativo

"Apostamos no poder evocativo dessas imagens e pelos primeiros indícios parece que vai funcionar. As fotos rendem muitos comentários, muitas histórias", destacou o curador da exposição, Beto Ricardo, do ISA. Ele comenta que um dos principais objetivos da mostra é comemorar os 25 anos da Constituição e reafirmar seu capítulo dos direitos indígenas.

Beto Ricardo concorda que um dos desafios da iniciativa será mostrar a importância da luta pelos direitos indígenas nos últimos 30 anos para as novas gerações que não viveram o período. "Esperamos que essa exposição possa contribuir para que os direitos indígenas sejam efetivados e consolidados no Brasil e no mundo", finalizou.

À noite, um coquetel e um show com a cantora Elle Márjá Eira, do povo indígena Sami, do norte da Noruega, animaram as cerca de 700 pessoas que compareceram ao evento. A embaixadora da Noruega, Aud Marit Wiig, a presidenta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Agusta Assirati, e o secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Antônio Alves de Souza, estiveram no lançamento da mostra.

A mostra comemora os 30 anos do Apoio Norueguês aos Povos Indígenas no Brasil e os 25 anos da Constituição. O projeto é uma realização da Embaixada da Noruega no Brasil e do Instituto Socioambiental (ISA).

A mostra é composta por 44 fotos, apresentadas em ordem cronológica, clicadas por 33 fotógrafos, com mapas e textos de apoio, em português e inglês. Em 2014, a mostra estará em São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Oslo (Noruega).

A maior parte das fotos foi publicada originalmente na imprensa ou nos volumes da série Povos Indígenas no Brasil, elaborada, inicialmente, pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) e, a partir de 1994, pelo ISA, com apoio do governo norueguês.

A exposição traz momentos e personagens históricos, retratados num período de 33 anos no qual os povos indígenas saíram da invisibilidade para entrar de vez no imaginário e na agenda do Brasil contemporâneo. O marco desse processo foi o capítulo dos direitos indígenas da Constituição.

Entre outros temas, as imagens retratam a batalha pelo reconhecimento das Terras Indígenas; a resistência às invasões de garimpeiros e madeireiros; o apoio de músicos como Sting e Milton Nascimento; a apropriação das tecnologias do homem branco para a preservação de sua cultura; as ameaças aos últimos povos "isolados"; as mobilizações recentes pela garantia de seus direitos.

http://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/visita-de-…

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