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Vida melhor onde há redes de água

Gazeta Mercantil-São Paulo-SP
03 de Jun de 2003

Mesmo com a melhoria nos indicadores de algumas
doenças importantes, outras, como a diarréia e as verminoses,
controladas entre os habitantes brasileiros de um modo geral, continuam
sendo um problema nas aldeias. A expectativa é melhorar a implantação do
saneamento nas comunidades.

A diretora do Departamento de Engenharia de Saúde Pública da fundação,
Kátia Regina Ern, informa que os recursos para este fim aumentaram de R$
9,15 milhões, em 2000, para R$ 25,9 milhões, em 2001, e caíram para R$
19,4 milhões no ano passado. Segundo informações do departamento, a
previsão era de aplicar R$ 38,2 milhões no ano passado. Mas o dinheiro
não foi liberado por problemas técnicos e por ser um ano eleitoral. A
Funasa investiu R$ 16 milhões e o restante foi gasto pelas prefeituras e
ongs.

O Censo Sanitário que está sendo feito pela Funasa em todas as aldeias,
mostra que a despeito dos investimentos a situação ainda é bem grave. Os
dados são preliminares, relativos a 1.628 aldeias (o equivalente a 215
mil pessoas) que já responderam ao questionário, em um universo de 3,5
mil. Das aldeias já cadastradas, apenas 589 possuem sistema de
abastecimento de água. E desse total, 378 não têm nenhum tipo de
tratamento da água - 95 recebem cloração, 22 filtração e 34 tratamento
completo. A principal fonte de captação são poços (339 aldeias) e
nascentes. "É bom lembrar que a Funasa só trabalha com poços profundos,
o que reduz as chances de contaminação da água", diz Kátia.

A principal forma de distribuição da água é por meio de redes, sist ema
adotado em 311 aldeias. Nos lugares onde o saneamento já chegou, a me
lhoria na qualidade de vida é visível.

No Distrito Sanitário do Xingu, que reúne cerca de 4 mil pessoas, 22 das
59 aldeias já possuem sistema de distribuição funcionando, conforme
informações do médico Douglas Rodrigues. O índio Aiumã, ou Pablo, da
Aldeia Morena, conta que a chegada do saneamento facilitou,
principalmente, a vida das mulheres - responsáveis pelo transporte da
água - e reduziu o número de casos de diarréia. "Antes, elas caminhavam
longas distâncias com latas de até 60 litros na cabeça, o que provocava
dores na coluna. Agora, têm água limpa nas torneiras, em casa", compara.

O processo de instalação dos sistemas não é fácil. Rodrigues conta que
para se chegar ao Xingu é preciso vencer 330 km de estrada e mais um ou
dois dias de viagem em barcos de motor de polpa. "Às vezes a perfuradora
não cabia no barco era preciso voltar e trocar o equipamento", conta. A
falta de eletricidade obriga os técnicos a instalarem equipamentos
movidos a energia solar, menos potentes e que reduzem a vazão de água.
Mas há localidades em que a água passa longe, como no Distrito Sanitário
do Rio Negro, no Amazonas, com população de quase 30 mil pessoas. "Aqui
não tem nada, o saneamento é zero", afirma a coordenadora executiva da
ong Saúde Sem Limites, Marina Machado. No distrito de Roraima, o
coordenador médico do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Paulo Daniel
Moraes, conta que em 2001 a aldeia recebeu uma verba que deu para
atender apenas dez das 235 comunidades. "O dinheiro de 2002 só começou a
ser liberado agora. E vai dar para apenas mais 15", completa.

Quem trabalha diretamente com a população indígena, diz que o
departamento de engenharia da Funasa sempre foi uma "caixa-preta", e que
os desvios de recursos eram freqüentes. "O saneamento sempre foi o
câncer da Funasa", diz Moraes. Mas a comunidade está com grande
expectativa em relação aos novos diretores do órgão. "São pessoas com
reputação no meio e que prometem fazer um trabalho sério", completa.

A Kátia Regina admite que pode ter havido desvios de dinheiro no
passado, mas destaca que há uma grande preocupação desta gestão em
melhorar a imagem e aumentar a transparência do órgão.

kicker: "O Censo Sanitário mostra que apesar dos investimentos, a
situação ainda é bem grave"

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