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A vez de Belo Monte

Veja, Brasil, p. 56-57
11 de Mar de 2015

A vez de Belo Monte
O presidente da Camargo Corrêa dirá na delação premiada que sua empresa pagou 64 milhões em propina para obter contratos na usina - metade foi para o PT e metade para o PMDB

Alexandre Hisayasu

Para participar das obras da usina de Belo Monte, a empresa Camargo Corrêa pagou 64 milhões de reais em propina. Metade desse valor foi para o PT e metade para o PMDB, cujo intermediário era o lobista Fernando Baiano. A quantia repassada a cada partido equivale a 1% do dinheiro que a empresa recebeu do governo até agora, 3,2 bilhões de reais de um contrato de 5,1 bilhões. Essas são algumas das informações que o presidente da empreiteira, Dalton Avancini, dará aos investigadores da Lava-Jato em seus próximos depoimentos.

Preso desde novembro na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, ele fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal em que se comprometeu a falar o que sabe sobre as irregularidades não apenas na Petrobras mas também em Belo Monte, obra na qual, pelo que apontam as investigações, vigorou um esquema semelhante ao do petrolão. A usina, planejada para ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, já custou 20 bilhões de reais aos cofres públicos. A previsão é que, quando estiver concluída, em 2019, terá ultrapassado o custo de 30 bilhões de reais.

A Camargo Corrêa é uma das participantes do consórcio responsável pela construção da usina, com 16% dos contratos. As demais empresas são, por ordem decrescente de participação, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS, Galvão Engenharia, Contern, Serveng-Civilsan, J. Malucelli e Cetenco. Das dez, seis são acusadas de envolvimento no petrolão: Odebrecht, OAS, Galvão Engenharia, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Avancini dirá em seu depoimento que acredita que todas as empresas do consórcio, a exemplo da Camargo, tiveram de pagar propina para integrá-lo, mas que não tem provas disso. As revelações do executivo elevem abrir uma nova frente nas investigações que envolvem a corrupção entre governo, partidos e construtoras.

Essa nova frente aumentará a pressão política sobre a presidente Dilma Rousseff. Como ministra da Casa Civil e "mãe do PAC", ela teve papel fundamental na formação dos consórcios que disputaram a licitação de Belo Monte. Em abril de 2010. a duas semanas do leilão, Camargo Corrêa e Odebrecht anunciaram sua desistência de participar da disputa porque o governo se recusava a corrigir o valor da energia que seria vendida pela usina e também a diminuir o risco de uma eventual variação nos preços no futuro. Em suma, as empresas diziam não ver como ganhar dinheiro com a empreitada. A decisão abriu caminho para a vitória do consórcio Norte Energia, montado na última hora sob a orientação do Palácio do Planalto e liderado pela estatal Chesf e por empresas menores, como a Galvão Engenharia e a Mendes Júnior. Mas os gigantes do setor não ficaram de fora por muito tempo. Meses depois, a Norte Energia teve de subcontratar outro consórcio - que é o que vigora hoje. Belo Monte Leve uma origem conturbada e cresceu cercada de suspeitas. Agora, as revelações de Avancini podem ajudar a romper de vez a barragem que escondia seus segredos./COLABOROU DANIEL HAIDAR

Ele de novo

Além das revelações que fará sobre o pagamento de propina para o PT e o PMDB nas obras da usina de Belo Monte, o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, dirá em seu depoimento que os 900 000 reais que a empreiteira pagou ao ex-ministro José Dirceu em abril de 2010 a título de "consultoria" eram, na realidade, propina. Avancini afirmará ainda que a Camargo deu o dinheiro ao petista por "temor reverenciai" - já que, no período, Dirceu não fazia mais parte do governo, embora mantivesse sua influência nele. Segundo Avancini, foi Dirceu quem procurou a empreiteira para pedir a propina e a ordem para atendê-lo partiu de Vitor Hailack, presidente do conselho do grupo Camargo Corrêa. 0 vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, conforme revelou VEJA, já havia dito a interlocutores que o contrato de sua empresa com a JD, a consultoria de Dirceu, não passava de um método para escamotear o pagamento de propina. Almada está tentando negociar uma redução de pena, em troca de informações, inclusive sobre o ex-ministro. O cerco contra Dirceu está se fechando - mais uma vez.

Veja, 11/03/2015, Brasil, p. 56-57

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