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Vestígios de índios isolados são achados a menos de 4 km de aldeia no Acre e órgãos indigenistas ficam em alerta

G1 AC - g1.globo.com/ac
Autor: Por Tacita Muniz
08 de Fev de 2021

https://g1.globo.com/ac/acre/natureza/amazonia/noticia/2021/02/08/vesti…

Relato foi feito por aldeados do povo Manxineru, que também ouviram gritos do grupo e dos animais caçados por eles. Comissão Pró-Índio acompanha a situação e um posto de vigilância foi montado na aldeia.

Indígenas da aldeia Extrema, na Terra Indígena Mamoadate, na fronteira do Acre com o Peru, procuraram a Comissão Pró-Índio para informar a aproximação dos índios isolados naquela área.

Os vestígios encontrados apontam que os isolados estariam a 3,5 quilômetros da aldeia habitada pelos Manxinerus. Os indígenas foram até Sena Madureira, no interior do Acre, pedir apoio dos órgãos indigenistas para que, caso haja um contato, eles possam evacuar a aldeia.

Ana Luiza Melgaço Ramalho, coordenadora do Programa de Políticas Públicas e Articulação Regional da Comissão Pró-Índio no Acre, explica que esta não é a primeira vez que os Manxinerus encontram vestígios dos isolados na área, mas a novidade é que eles estão cada vez mais próximos.

Há indícios de que os isolados também tenham passado pelo Parque Estadual Chandless, que abrange as cidades de Manoel Urbano, Sena Madureira e Santa Rosa do Purus.

"A gente não tem notícias de contato e nem avistamento dos isolados, o que sempre encontram são vestígios e desta vez ouviram os gritos dos isolados e o barulho de animais que estavam sendo levados por eles", explica.

A coordenadora diz que desde 2014 os indígenas relatam a aproximação dos isolados, mas não em uma distância tão pequena como agora.

"A novidade é de que, além de estar frequente o avistamento de vestígios, agora é que tá muito próximo da Aldeia Extrema", pontua.

Posto de vigilância

Como a aproximação dos isolados está sendo acompanhada há mais de seis anos, os Manxinerus implantaram um posto de vigilância indígena que funciona como uma barreira sanitária. Segundo os indígenas, a ideia é impedir que os isolados se contaminem com o novo coronavírus, caso alguém suba para a aldeia.

"O último vestígio que mapearam está a quase 3,5 km, então estão se aproximando. Agora são bem próximos e isso que chama atenção dos Manxinerus", destaca Ana Luiza.

Mudança

O acompanhamento desses povos, chamados também pelos Manxinerus como "parentes desconfiados", ocorre também porque foi percebida a mudança nas andanças. Segundo Ana Luiza, os isolados habitam basicamente a área do Peru, recorrendo ao solo brasileiro na época do verão.

No entanto, os últimos levantamentos, mostram que os isoladas estão frequentando o território brasileiro também no inverno.

As lideranças da Mamoadate acompanham há algum tempo as dinâmicas de deslocamentos dos índios isolados provenientes da região de Madre de Dios, no Peru.

O grupo montado pelos indígenas fazem expedições que resultam em relatórios passados aos órgãos indigenistas, já que a área que habitam fica próxima dos igarapés por onde os isolados costumam passar.

Ana Luiza acredita que fatores como a exploração mineral e madeireira tem interferido na área habitada pelos nativos e isso tenha tornado os recursos naturais mais escassos. Além disso, há também o narcotráfico na fronteira, que pode ter invadido o espaço por onde os isolados costumam percorrer.

"Existe uma reserva territorial demarcada no lado peruano para esse povo isolado, só que o entorno dessa reserva é toda de exploração madeireira, que é comum do lado do Peru. Fora as concessões legais que o governo faz, tem muita exploração ilegal e também entra o narcotráfico. Então, é um território de fronteira que transitam muitas pessoas para além dos povos indígenas e isolados, o que pode estar ocasionando essa mudança de deslocamento. A própria escassez de recursos naturais, com essa exploração madeireira do lado peruano pode estar gerando algum desequilíbrio e estão tendo dificuldade de encontrar caça.O isolados transitam também de acordo com os calendários da natureza, pode estar acontecendo também essa escassez de recursos naturais que eles dependem disso para viver, se alimentar, fazer os artefatos para caçar. É uma situação que imaginamos, que eles tenham mudado a dinâmica."

Em agosto do ano passado, dez índios isolados fizeram contato com a Aldeia Terra Nova, onde vivem os Kulinas Madihas, do Alto Rio Envira. A aldeia fica localizada próxima ao município de Feijó, no interior do Acre, na fronteira do estado acreano com o Peru. Segundo os indígenas, eles estavam em busca de alimentos.

Ao G1 na época, o chefe da aldeia, cacique Cazuza Kulina, disse que um "índio brabo", como os isolados são chamados, fez contato no local e ainda chegou a passar a noite na aldeia.

"Demos roupas, cobertas, alguns utensílios, macaxeira, banana, dormiu na casa do meu genro. Ele pegou tudo e foi embora, nem vimos quando ele foi embora", disse na época.

Contato

Ana Luiza explica que os indígenas temem o contato por conta da pandemia e até temendo conflitos. Por isso, eles pedem a implantação de um posto físico da Fundação Nacional do Índio (Funai) também com agentes da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Além disso, a Comissão Pró-Índio estuda uma forma de levar internet até a aldeia para que o contato seja mais rápido em caso de um chamado de urgência.

"Se houver esse contato, que não é o desejável, os Manxinerus não querem estar sozinhos, querem indigenista da própria Funai, pessoas que têm o dever de garantir a proteção não só do povo Manxineru, como dos isolados. Caso aconteça algum contato, que possa ter alguma forma dos Manxinerus, moradores dessa aldeia, evacuarem rapidamente para não ter o contato direto, justamente pela gente estar no meio de uma pandemia", destaca.

Ela completa dizendo que qualquer contato, independente de pandemia ou não, é delicado, porque os isolados não têm resistência a doenças comuns na região.

Sobre a internet, a CPI-AC acredita que em dois meses consiga fazer com que os indígenas tenha esse contato.

"O que a CPI está fazendo é essa instalação da internet, que não é uma coisa fácil e rápida pelas condições do local. A gente precisa da autorização da Funai para entrada dos profissionais para isso, é uma internet via satélite e é uma área que não tem energia elétrica, então precisamos implantar também a energia solar para manter a internet funcionando. É uma coisa que ainda vai durar dois meses, mas estamos providenciando isso. O principal é conseguir a internet e fazer essas simulações, treinamento de evacuação na aldeia para quando for necessário", pontua.

O monitoramento da área continua com o posto montado na aldeia e os relatórios dos agentes agroflorestais indígenas. A cada 45 dias esse grupo faz contato com a comissão para ser definido que ações serão tomadas diante do cenário apontado por eles.

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