GM, Agribusuness, p.B12
06 de Jul de 2004
VCP compra fazenda de gado no RS para instalar base florestal
A Votorantim Celulose e Papel (VCP), que em abril anunciou a aquisição de 40 mil hectares de terras em 14 municípios da Metade Sul gaúcha para implantar uma base florestal na região, comprou no mês passado a Fazenda Ana Paula, localizada em Hulha Negra (RS), na fronteira com o Uruguai. A propriedade de 14,5 mil hectares é considerada uma referência na produção de carne bovina de qualidade e há dois anos retomou a venda de cortes especiais com marca própria com exclusividade para o Grupo Sonae. A idéia da indústria de celulose e papel é reflorestar a área com eucaliptos.
O administrador da Fazenda Ana Paula, Martim Luiz Teixeira da Luz, diz que um dos motivos da venda é a grande incidência de roubo de gado na propriedade, cercada de assentamentos. Luz, entretanto, não atribui o problema apenas aos sem-terra - que inclusive já invadiram a fazenda há dois anos. "Todos sabem que existem quadrilhas organizadas de abigeato agindo nesta região", diz Luz, também procurador do proprietário do complexo agropastoril, o empresário do ramo calçadista Ernesto Corrêa. Nenhuma das partes revela o valor do negócio.
Luz afirma que, apesar da venda, o contrato de fornecimento para o Sonae será mantido. "Hoje, apenas 15% da carne fornecida para o programa vem da propriedade", diz. Os 85% restantes têm origem em cerca de 70 pecuaristas parceiros que seguem os padrões de produção, utilizando apenas raças britânicas super-precoces, com idade de abate entre 8 e 18 meses, o que garante uma carne mais macia. Além de repassar a genética para os produtores parceiros, a Ana Paula administra o cronograma de oferta para evitar sobrecarregar o mercado em uma mesma época. Em 2000, a Fazenda Ana Paula teve de interromper o projeto de colocar carnes selecionadas com marca própria não dispor sozinha de matéria-prima suficiente para atender uma escala industrial. O plantel do complexo Ana Paula gira em torno de 14 mil cabeças, basicamente das raças aberdeenn angus e hereford.
O Sonae comercializa mensamente cerca de 450 toneladas de carne da marca Fazenda Ana Paulo, proveniente do abate de aproximadamente 2,5 mil animais. Segundo o gerente de Perecíveis do Sonae no Brasil, Idênio Belmonte, as vendas se resumem ao Rio Grande do Sul. A idéia inicial era levar a carne para Santa Catarina, Paraná e São Paulo, os outros estados onde o Sonae atua, mas o volume oferta é suficiente apenas para atender a demanda do consumidor gaúcho. Belmonte confirma que a venda não afeta a continuidade do programa.
Quando anunciou que estava adquirindo 40 mil hectares na região, a VCP calculou o investimento de R$ 100 milhões. Na oportunidade,, o diretor presidente da VCP, José Luciano Penido, disse que somente dentro de quatro ou cinco anos será definida finalidade da produção, já que o corte do eucalipto ocorre em sete anos após o plantio. As hipóteses cogitadas são exportação de toras,, cavacos ou ainda a construção de uma fábrica de celulose e papel.
Os 40 mil hectares comprados pela VCP equivaliam a mais de um terço das áreas reflorestadas pela empresa hoje no Brasil, que somam 115 mil hectares, cerca de 90% no Estado de São Paulo. Além dos 40 mil hectares próprios, o projeto da VCP é dobrar a área reflorestada a partir de associação com produtores da região, por meio de incentivo da agrosilvicultura - consórcio entre reflorestamento e outras atividades típicas do sul gaúcho. Penido também disse, naquela época, que o projeto da VCP poderia ajudar a gerar renda aos milhares de assentados da Reforma Agrária na região, muitos deles agora também vizinhos da propriedade da empresa.
Controlada pelo Grupo Votorantim, a VCP tem, quatro fábricas no Estado de São Paulo, localizadas nos municípios de Jacareí, Luiz Antônio, Piracicaba e Mogi das Cruzes. A empresa teve no ano passado uma receita líquida de R$ 2,5 bilhões, faturamento dividido pela metade entre os mercados interno e externo. A empresa exporta para mais de 50 países dos cinco continentes. A VCP é a maio reflorestadora do Estado de São Paulo e produz celulose de fibra curta de eucalipto branqueada e papéis de imprimir e escrever, químicos e industriais.
GM, 06/07/2004, p.B12
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