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Autor: CARVALHO, Ilona Szabó
11 de Jun de 2024
Empreender na Amazônia é tarefa urgente e necessária
A incerteza, a insegurança e a informalidade são desafios persistentes na região
Ilona Szabó de Carvalho
Presidente do Instituto Igarapé, membro do Conselho de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz, do Secretário-Geral. da ONU, e mestre em estudos internacionais pela Universidade de Uppsala (Suécia)
11/06/2024
Empreender no Brasil não é para os fracos. E quando falamos sobre empreender com escala e alta integridade nas economias da natureza na Amazônia -que incluem o mercado de créditos de carbono e biodiversidade, a bioeconomia, a restauração ecológica e produtiva-regenerativa e o turismo sustentável-, a tarefa é tão mais desafiadora quanto urgente e necessária.
São muitas as razões pelas quais é essencial construir rapidamente uma economia realmente verde e inclusiva na Amazônia. Isso não só melhorará as condições socioeconômicas em uma das regiões menos desenvolvidas do Brasil como é chave para acelerar e sustentar a redução do desmatamento e contribuir para a regeneração da biodiversidade e para as metas nacionais e globais de emissão líquida zero de carbono.
No entanto, os obstáculos para a construção de uma economia verde na Amazônia são ainda mais significativos que os entraves já conhecidos para a melhoria do ambiente de negócios no país. A incerteza, a insegurança e a informalidade são desafios persistentes que afetam tanto empreendedores quanto investidores.
A incerteza é exacerbada por questões fundiárias complexas, que atrasam e encarecem os processos de due dilligence de terras e os investimentos e deixam a região vulnerável à exploração ilegal e insustentável.
A insegurança na região, resultado da presença estatal desigual, da corrupção e da impunidade generalizada, aumenta os custos de capital, os riscos operacionais e reputacionais para os empreendedores, seus clientes e investidores, afetando também a disponibilidade de mão de obra qualificada e elevando a demanda por segurança privada.
E os altos níveis de informalidade dificultam o envolvimento de empresas legais com fornecedores, aumentam riscos de inconformidade regulatória e perpetuam um ecossistema de crimes ambientais e infrações relacionadas.
Para completar, o vasto tamanho e a diversidade das diferentes Amazônias tornam soluções de "tamanho único" inviáveis, e o ainda modesto "pipeline" de projetos de alta integridade muitas vezes tem dificuldade em atender às expectativas dos investidores por planos de negócio bem definidos, com riscos claramente articulados, retornos atraentes e histórico comprovado.
Superar esses desafios exigirá persistência, transparência e uma abordagem coordenada e colaborativa entre múltiplos interessados, incluindo empreendedores, agentes públicos, investidores, offtakers e, em especial, as comunidades locais -cuja inclusão nas novas cadeias produtivas é a chave para o sucesso da permanência dos empreendimentos de longo prazo, característicos das economias da natureza.
Para avançar, é essencial adotar múltiplas estratégias, que demandam esforços pré-competitivos conjuntos para resolver questões comuns, promover a segurança jurídica e pública e garantir a integridade e o impacto positivo dos empreendimentos.
Além disso, investimentos em ciência e tecnologia e em aceleradoras de novos negócios são fundamentais para que se conheça o território e para o desenvolvimento das economias da natureza. Isso demanda respeitar as populações e as organizações locais e engajá-las com o conhecimento.
Nesse contexto, são necessárias iniciativas de impacto coletivo que reduzam riscos territoriais e conectem e coordenem ações entre diversos atores-chave.
Por um lado, são necessárias para mitigar riscos financeiros, territoriais e de reputação comuns e para desbloquear e baratear investimentos responsáveis para promover o crescimento de empresas de alta integridade na região. E, por outro lado, para articular o avanço em regulações e incentivos fiscais e financeiros, que são fundamentais para a criação de novos segmentos econômicos verdes e passam pelo compartilhamento de riscos entre setor público e privado e transição dos subsídios que hoje apoiam economias intensivas em carbono.
Mãos à obra, não há tempo a perder.
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