O Globo, Rio, p. 14
25 de Nov de 2008
Vazamento no Paraíba pode ter sido maior
Técnicos do estado estimam que tenham sido lançados 10 mil litros de inseticida no rio; mortandade de peixes continua
Tulio Brandão
O vazamento do inseticida endosulfan no Rio Paraíba do Sul pode ter sido muito maior que os 1,5 mil litros anunciados pela empresa responsável pelo acidente, a Servatis. Segundo a secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, os técnicos da Feema responsáveis pelas análises no local estimam que tenham sido despejados dez mil litros do agrotóxico no Rio Pirapitinga, afluente do Paraíba.
- Se o volume fosse de apenas 1,5 mil litros, quando o Paraíba recebesse água de afluentes o veneno teria se diluído. Além disso, nossos técnicos descobriram que, dos 30 mil litros de endosulfan que estavam no caminhão da Servatis no momento do acidente, só restaram 12 mil, misturados à água da chuva - diz Marilene.
Passada uma semana do vazamento, a onda tóxica provocada pelo endosulfan continua causando graves problemas ao Paraíba. Há diversos registros de mortandade de peixes e de animais como a capivara. Ontem, quatro estações de água para abastecimento do Noroeste do estado - Itaocara, Pureza, Cambuci e Portela - estavam fechadas. As captações estão sendo reativadas à medida em que as análises indiquem que a onda tóxica passou pelo local.
Os últimos resultados revelam que, no momento em que a substância passa por uma determinada região, a contaminação é de 70 microgramas de endosulfan por litro. O limite tolerado pelo homem, segundo Portaria do Ministério da Saúde, é de 20 microgramas. Os peixes são mais sensíveis ao veneno, segundo a secretária.
- A mortandade vai continuar pelo menos até o veneno chegar à foz. O limite de endosulfan tolerado pelo peixe é de apenas 0,2 micrograma por litro. Mesmo quando não faz mal ao homem, mata o peixe.
Marilene estuda com o Ibama estabelecer um defeso para proteger os pescadores que ficarão parados até que as análises não indiquem mais a contaminação do pescado.
O estado vai entrar com uma Ação Civil Pública contra a Servatis. Ontem, o deputado estadual André do PV entregou à Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente uma notícia-crime contra a indústria.
O Globo, 25/11/2008, Rio, p. 14
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