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As vantagens da energia alternativa

GM, Opinião, p. A3
Autor: SIMÕES, Marcelo Godoy; FARRET, Felix Alberto
05 de Jul de 2004

As vantagens da energia alternativa

A geração hidráulica de grande escala está cada vez mais distante. O Brasil pode se orgulhar de ter em torno de 95% de seu parque energético produzido com energia limpa, ou seja, não-poluente. E cerca de 8,5 mil quilômetros de costa com energia eólica praticamente inexplorados, suficientes para geração de energia elétrica. Sem contar vastas áreas interioranas também com elevado potencial de energia eólica. A geração hidráulica de grande escala está cada vez mais escassa e distante dos centros consumidores no Brasil, enquanto a eólica fica justamente em toda a costa brasileira, área onde a concentração das populações é mais intensa. O Brasil também pode se orgulhar dos feitos tecnológicos do Proálcool. O álcool da cana-de-açúcar é fonte derivada da biomassa, renovável e razoavelmente limpa. É excelente solução local, desde que cana ou álcool não seja transportado por grandes distâncias. As usinas produtoras de álcool podem automatizar e melhorar o sistema de produção e usar geradores de indução como complemento da geração elétrica, agregados ao equipamento destinado à produção do álcool. Por que essa discussão, se somos um país abençoado em termos de recursos hídricos? Porque o crescimento econômico é ligado à disponibilidade de energia elétrica. Argumenta-se que recursos para investimentos em novas fontes de energia são escassos. Mas a iniciativa privada tem como se organizar e conseguir capital e lucros pela geração de energia, sem recursos financeiros públicos. Além disso, trata-se de opção, pois os custos da geração eólica, por exemplo, assemelham-se aos da hidráulica. E se a área for mais apropriada para a energia eólica, por que se usar a hidráulica? A boa notícia para os defensores de uma energia mais limpa (e que evita derrubada de florestas e desequilíbrio ambiental que as hidrelétricas provocam) é que já se pode empregar essas opções energéticas sem dificuldades técnicas. Esse conhecimento está na internet, nos livros, nos cursos e no poder de observação do ambiente próximo. Ao nosso redor há máquinas que, se modificadas minimamente, podem ser usadas para gerar energia elétrica. Referimo-nos aos motores de ventilador, ar-condicionado, elevador, enceradeira, aspirador de pó e outros aparelhos domésticos que podem funcionar como geradores de indução. Falamos dos geradores de indução, pois são máquinas robustas, econômicas, de pouquíssima manutenção. São o aproveitamento dos motores convencionais modificados e produzidos em larga escala para outras finalidades - tração, compressão de gases, bombeamento de fluidos, etc. Uma das maiores dificuldades para tornar viável a geração de energia por essas fontes não-convencionais era a variação de sua disponibilidade na natureza - vento, marés e córregos a fio dágua. E, recentemente, nas turbinas a gás ou a ar de alta velocidade, conhecidas como microturbinas. Essas variações inviabilizariam, em certos casos, o sincronismo de máquinas, motores e controles (relógios, temporizadores, mecanismos síncronos, etc.) que dependem da correta e constante velocidade de variação da tensão na rede pública. Os geradores de indução não são síncronos, ou seja, não têm nenhum compromisso com uma velocidade definida (ciclos por segundo). Resolvida essa questão técnica, está mais do que na hora de se transformar esse "motivo de orgulho" para o Brasil em energia limpa, renovável e barata como motor do desenvolvimento econômico.

* Professor da Colorado School of Mines, Colorado, EUA;Marcelo Godoy Simões e Felix Alberto Farret - professor da Universidade Federal de Santa Maria (RS) - ambos são autores do livro "Renewable Energy Systems: Design and Analysis with Induction Generators" ("Sistemas de Energias Renováveis: Projeto e Análise com Geradores de Indução"), não lançado no Brasil. )

GM, 05/07/2004, Opinião, p. A3

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