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Vale é obrigada a paralisar produção em Brucutu, sua maior mina em MG

O Globo, Economia, p. 21
05 de Fev de 2019

Vale suspende operação na mina de Brucutu para atender exigência da Justiça mineira
Sem poder usar a barragem da unidade, mineradora é obrigada a paralisar a produção, que alcança 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano

RIO - A Vale teve que suspender a operação da mina de Brucutu, em Minas Gerais, que produz 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, por causa de uma decisão da Justiça mineira que impediu, nesta segunda-feira, a companhia de lançar rejeitos ou fazer atividade que possa aumentar riscos em oito de suas barragens no estado. Entre elas está a de Laranjeiras, que faz parte de Brucutu - a maior mina da Vale no estado, nas cidades de Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Baixo. A informação foi antecipada pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim.

Com base em estimativas da Vale ao anunciar o descomissionamento de barragens na semana passada, a decisão significaria que a mineradora teria de suspender 17,5% de sua produção.

A decisão foi obtida pelo Ministério Público do Estado de Minas, que move ação civil pública contra a Vale, na 22ª Vara Cível de Belo Horizonte. A decisão inclui ainda as barragens Menezes II e Taquaras (no sistema Paraopebas, o mesmo de Brumadinho), Capitão do Mato (no de Vargem Grande), Dique B (da Samarco, sociedade entre Vale e BHP Billiton, onde houve o acidente de Mariana), além de Forquilha I, II e III (em Itabirito).

Pouco após a decisão da Justiça, as ações da Vale passaram a operar em baixa na Bolsa de São Paulo e terminaram o pregão desta segunda-feira com queda de 3,39%, a R$ 44,68. Com isso a Vale voltou a se desvalorizar após ter iniciado recuperação na semana passada com a decisão de paralisar dez barragens de alteamento a montante - a mesma metodologia da estrutura rompida em Brumadinho -, em minas responsáveis por 40 milhões de toneladas anuais, 10% do total da empresa. Brucutu não estava nesse plano. No dia 28 de janeiro, primeiro pregão após a tragédia, as ações da Vale despencaram 24,52% num só dia, com perda de mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado.

Para Pedro Galdi, analista da corretora Mirae, é esperado o escrutínio da Justiça e de órgãos fiscalizadores sobre a Vale. No entanto, ele avaliou que o impacto pode ser reduzido.

- Com o rompimento da barragem em Brumadinho, o setor de mineração ficou totalmente em evidência - afirmou. - Brucutu não estava no plano de descomissionamento, então a empresa julga que não apresenta riscos. Sendo assim, é possível que consiga reverter a decisão.

A Vale informou que vai adotar as medidas judiciais cabíveis. Em nota, explicou que apenas Forquilha I, II e III são de alteamento a montante e já estão inoperantes porque integram o plano de descomissionamento. Das outras quatro, apenas a de Laranjeiras (construída pelo método tradicional) é usada para a disposição de rejeitos. As demais são usadas para contenção de sedimentos. A Vale diz que todas contam com licenciamento e atestado de estabilidade em dia, e que "não existe fundamento técnico ou avaliação de risco" que justifique a decisão.

A barragem de Laranjeiras, que fica em Barão de Cocais, foi construída pelo método tradicional e tem 16,5 milhões de metros cúbicos em volume, quantidade superior a de Brumadinho, que tinha perto de 12 milhões de metros cúbicos.

Procurado, o MP-MG não comentou, argumentando por meio de sua assessoria de imprensa que o processo corre sob sigilo. Já o Tribunal de Justiça estadual se limitou a dizer, via assessoria de comunicação, que a medida não determinou a suspensão das operações da mina de Brucutu, impondo apenas que a mineradora cumprisse um conjunto de exigências. Na prática, essas exigências obrigaram a mineradora a interrompr a produção em Brucutu.

O rompimento da barragem de Córrego do Feijão, que ocorreu em 25 de janeiro, já deixou 121 mortos, além de mais de 200 pessoas desaparecidas. As barragens de Forquilha I, II e II utilizam o mesmo sistema que foi utilizado na de Brumadinho e estão na lista das dez maiores em volume de rejeitos no país, segundo dados da Agência Nacional de Mineração . A primeira delas tem o mesmo volume que a de Córrego do Feijão, enquanto as outras duas guardam quase o dobro.

O Globo, 05/02/2019, Economia, p. 21.

https://oglobo.globo.com/economia/vale-suspende-operacao-na-mina-de-bru…

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