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Vai acabar a espuma de Pirapora

OESP, Metropole, p.C1
16 de Ago de 2005

Vai acabar a espuma de Pirapora
É o que promete o governo do Estado com a construção de pequena hidrelétrica no Rio Tietê, que estará pronta em meados de 2008
Mauro Mug
Há 25 anos, os 18 mil moradores do município de Pirapora do Bom Jesus convivem com espumas de poluição de até 1 metro de altura, formadas nas águas do Rio Tietê. O governo do Estado, que já havia prometido que neste ano as águas do rio estariam transparentes, anunciou que vai resolver o problema com a construção de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) na barragem de contenção do Tietê na cidade. A obra está prevista para o início de 2006 e vai levar dois anos e meio para ser concluída.
Com a obra, a espuma deve ser eliminada - continuam, porém, a poluição e o mau cheiro. "Com a PCH, será eliminada a queda da água na barragem, de uma altura de 25 metros, e a espuma será coisa do passado", diz o engenheiro Antonio Bolognesi, diretor de Geração da Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae). Um túnel de 150 metros será escavado na rocha, no lado esquerdo da barragem, para escoar a água até as duas turbinas da usina. "Depois de gerar energia, com velocidade e turbulência reduzidas, a descarga será feita no fundo do rio, sem provocar espuma."
"É a melhor notícia que os moradores da cidade poderiam receber", afirma o prefeito de Pirapora, Raul Silveira Bueno (PSDB). Ele e Bolognesi assistiram a uma simulação com um modelo em escala reduzida da usina montado no Centro Tecnológico de Hidráulica (CTH), da Universidade de São Paulo (USP), e ficaram satisfeitos com os resultados. No teste, Bueno pôde observar as duas situações: a água sendo escoada pela barragem e pela usina. "Quando a água, com detergente, passou pelas tubulações subterrâneas da hidrelétrica não ocorreu a formação de espuma, ao contrário do que aconteceu quando ela despencava da barragem", diz. "Quem sabe se, com essa medida e o tratamento do esgoto, daqui a 15 anos, Pirapora voltará a ser a Veneza de São Paulo, com passeios de barco pelo rio."
A PCH vai produzir 25 megawatts de potência, o suficiente para abastecer uma cidade de 150 mil habitantes. A hidrelétrica será interligada ao Sistema Brasileiro de Energia. Quando a hidrelétrica for concluída, as comportas da barragem serão fechadas. Serão reabertas só se houver necessidade de controlar as águas de cheias provocadas por temporais, como ocorreu em 24 e 25 de maio, quando sua vazão pulou para 700 metros cúbicos de água por segundo - dez vezes mais do que em condições normais.
A espuma com resíduos de detergentes, sabão em pó e amaciantes queima gramados, suja as roupas penduradas nos varais e as latarias dos carros, quando o vento a espalha em flocos pela cidade. "Durante o inverno, sem sol e com escassez de chuva, o problema se agrava", destaca o secretário de Estado de Recursos Hídricos, Mauro Arce.

Especialistas acreditam que solução é paliativa
Moradores, técnicos e ambientalistas vêem com desconfiança mais uma promessa para acabar com as espumas do Rio Tietê. "É como jogar o lixo para baixo do tapete", afirma o engenheiro José Eduardo Cavalcanti, diretor de Meio Ambiente e Energia do Instituto de Engenharia (IE). Para Cavalcanti, como a poluição não será eliminada, as espumas deixarão de aparecer em Pirapora, mas vão surgir mais à frente, onde houver uma queda-d'água.
Maria Luiza Ribeiro, coordenadora do Núcleo União Pró-Tietê da Fundação SOS Mata Atlântica, é da mesma opinião. "É mais uma medida paliativa, semelhante à instalação de chuveirinhos poucos metros depois da barragem para reduzir o tamanho das espumas." Ela teme que o lançamento subterrâneo possa remover o lodo - contaminado por metais pesados - acumulado no fundo do rio. "Se isso acontecer, será um desastre ecológico, que poderá provocar a mortandade de peixes nos municípios localizados abaixo de Pirapora."
O diretor de Geração da Emae, Antônio Bolognesi, nega que exista esse perigo. "No local, o fundo do rio é todo de pedra. Não há lodo." Além disso, segundo ele, houve uma audiência pública com técnicos da prefeitura e moradores da cidade, que aprovaram a solução.
"Não acredito que a construção da hidrelétrica vá resolver esse problema", diz Antonio Carlos Trofino, dono de uma borracharia, que mora há 50 anos na cidade. O comerciante Benedito Cláudio Merli pensa da mesma maneira. "Mas vou rezar para que seja verdade, pois poderá provocar um aumento no turismo."
SABESP
De acordo com a Assessoria de Imprensa da Sabesp, o Projeto Tietê é o maior para o saneamento ambiental e despoluição de um rio já realizado no Brasil e tem como objetivo coletar e tratar o esgoto gerado pelos cerca de 18 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo, impedindo que seja despejado in natura no Rio Tietê e seus afluentes.
Atualmente, a Sabesp opera cinco Estações de Tratamento de Esgotos na região metropolitana e trata 18 mil litros de esgoto por segundo, com benefícios diretos para 8,4 milhões de habitantes

Comporta de barragem é fechada no fim de semana para não afastar turista
A Barragem de Pirapora foi construída, em 1952, pela antiga Light para represar as águas do Rio Juqueri, afluente do Tietê. Formado um lago, a água era bombeada para a Represa Billings, pelos Rios Tietê e Pinheiros. A finalidade era contribuir na geração de mais 60 megawatts de energia pela Usina Henry Borden, em Cubatão.
Em 1983, ao assumir o governo do Estado, Franco Montoro determinou que a Eletropaulo, na época uma empresa estatal, suspendesse o bombeamento para a Billings, com o Tietê seguindo seu curso normal em direção ao Rio Paraná.
"Foi uma catástrofe. Ao despencar de uma altura de 25 metros, a água levou à formação de espumas com até 6 metros de altura, chegando a deixar várias casas submersas", diz Antonio Bolognesi, da Emae.
A experiência durou apenas um mês. Optou-se então por uma operação balanceada: metade do esgoto desceria pelo Tietê e a outra metade seria bombeada do Pinheiros para a Billings. Nove anos depois, a aprovação de uma lei proibiu o bombeamento. Isso agora só pode ser feito em situação de emergência, quando há risco de inundações na cidade.
Para que as espumas não assustassem os peregrinos que visitam, em romarias, Pirapora nos fins de semana, a prefeitura e a Emae fizeram um acordo para que as comportas da barragem sejam fechadas aos sábados e domingos, reduzindo o volume da descarga de água no rio.
Durante a semana, as descargas com maior volume são feitas de madrugada e os chuveirinhos, que reduzem a altura das espumas, são abertos apenas depois das 9 horas.

Projeto de hidrelétrica leva sete anos para sair do papel
Há sete anos, a Emae deu início aos estudos para identificar os pontos do Tietê em que poderia ser feito o aproveitamento energético do rio. A Barragem de Pirapora foi um dos escolhidos. No mês passado, em uma viagem aérea, o secretário de Estado de Recursos Hídricos, Mauro Arce, não gostou de ver as espumas no Tietê e determinou que o projeto fosse acelerado.
Dentro de 30 dias, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deverá emitir o certificado de aprovação da obra e, na metade desse prazo, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente deve aprovar o estudo de impacto ambiental. "Em outubro, vamos lançar o edital de concorrência para escolher um parceiro, já que a Emae não tem capital suficiente para investir R$ 70 milhões na obra", diz Antonio Bolognesi, da Emae.

OESP, 16/08/2005, p. C1

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