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Unicamp chega a São Gabriel da Cachoeira com as provas do 1o vestibular indígena de sua história

G1 https://g1.globo.com/
Autor: Lana Torres
28 de Nov de 2018

A equipe da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp desembarcou na manhã desta quarta-feira (28) em São Gabriel da Cachoeira (AM) - município mais indígena do Brasil -, localizado em meio à Floresta Amazônica, no extremo Norte do estado, para a realização do primeiro vestibular indígena da instituição.

A prova será no domingo (2) e ocorrerá em outras quatro cidades: Manaus (AM), Dourados (MS), Recife (PE) e Campinas (SP).

O G1 embarcou junto com a comitiva do vestibular rumo a São Gabriel para acompanhar de perto este processo seletivo histórico e produzir uma série de reportagens, em parceria com a EPTV.

As provas chegaram a São Gabriel da Cachoeira junto com a equipe da Comvest na manhã desta quarta. O coordenador de logística da Unicamp, Kleber Pirota, acompanhou toda a movimentação dos exames. Os documentos não passam por nenhum procedimento de vistoria no aeroporto sem a presença dele.

"Alivia bastante a ansiedade. Isso por si só, já faz a gente se sentir um pouco mais aliviado, mas o coração continua batendo forte porque representa um momento simbólico para a Unicamp, de chegar a um lugar tão distante e ao mesmo tempo tão importante para a gente", explicou o coordenador.

Primeira cidade brasileira a instituir línguas indígenas como oficiais; uma das maiores do Brasil em extensão; 23 etnias; paisagens encantadoras e desafios complexos na educação. O G1 listou 10 dados e curiosidade sobre a cidade amazônica.

1. Raio-X em números
População: 44,8 mil habitantes
Território: 109 mil quilômetros quadrados (136 vezes a área de Campinas)
Densidade demográfica: 0,43 habitantes por quilômetro quadrado
Línguas oficiais: quatro (tukano, baniwa, nheengatu e português)
Etnias: 23 (na região do Alto Rio Negro)
2. Cabeça do Cachorro
São Gabriel da Cachoeira está localizada na região conhecida como Cabeça do Cachorro, no extremo Norte do estado do Amazonas, na fronteira com Colômbia e Venezuela.

É um dos municípios mais extensos em território no Brasil. Segundo o IBGE, 109 mil quilômetros quadrados, ou seja, o correspondente a 136 vezes o território de Campinas, que tem 794 quilômetros quadrados.

3. Logo ali!
Como está situado em meio à Floresta Amazônica, o acesso a São Gabriel também é bastante restrito. Separada de Manaus por 850 km de floresta, só é possível chegar até lá em transporte hidroviário ou aéreo.

Dependendo da embarcação, saindo do Porto de Manaus, a viagem podem levar de um a seis dias. O voo dura em média 2h. A cidade fica na região do Alto Rio Negro, território de 23 povos indígenas.

4. Babel das Américas
Nenhum município no continente americano possui uma diversidade linguística maior que a de São Gabriel da Cachoeira, segundo estudo da faculdade de Geografia da Universidade Federal do Amazonas.

Em 2006, por meio de um decreto, a cidade instituiu o tukano, o baniwa e o nheengatu como línguas co-oficiais ao lado do português. Era a primeira vez no Brasil que idiomas indígenas ganhavam este status - a Constituição Federal estabelece que o português é a língua oficial do país.

A medida institucionalizou a riqueza da paisagem sonora do município, onde é comum ouvir pelas ruas diálogos em vários dialetos.

5. Vai uma formiga aí?
Um passeio pelo mercado da cidade revela a riqueza e as surpresas da gastronomia local. Além de muito peixe, açaí e farinha, é ali que são comercializadas, secas em saquinhos, as formigas maniuara. Elas são consumidas nas comunidades locais em farofas, refogadas com alho e cebola.

6. Bela Adormecida
Um dos cartões postais da cidade é conhecido pelo nome de uma princesa da Disney. Por ter as formas similares à silhueta de uma mulher deitada, a serra Bela Adormecida compõe ao longe a paisagem natural do município.

Ela fica a 30 km da cidade, e o acesso é só de voadeira, pequeno barco motorizado utilizado para o deslocamento rápido em rios. Já para subir ao topo e descer, leva-se pelo menos três dias de caminhada por trilha.

7. Educação indígena
Os povos indígenas têm assegurado por lei o acesso à educação diferenciada que respeite as tradições, a cultura e a língua dos povos.

São Gabriel da Cachoeira ficou conhecida nacionalmente pelo pioneirismo na implementação deste ensino, embora a qualidade dele hoje seja alvo de crítica por especialistas e por entidades representativas.

De acordo com a Associação de Professores Indígenas do Alto Rio Negro, apesar dos problemas de estrutura, praticamente 100% dos professores da cidade são indígenas.

8. Uma escola a cada 439 km²
Com dimensões superiores a muitos estados brasileiros, e com muitas comunidades indígenas em terras isoladas, segundo a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), um dos desafios da educação em São Gabriel da Cachoeira é construir e cuidar da manutenção das escolas em áreas de difícil acesso.

Segundo o Inep, a cidade conta com 248 escolas. Pode parecer muito se comparado, por exemplo, com Louveira (SP), que tem o mesmo número de habitantes e 26 instituições de ensino. Mas, considerando a área das suas cidade, São Gabriel tem uma escola a cada 439 quilômetros quadrados, enquanto Louveira tem uma escola a cada 2 quilômetros quadrados.

9. Ideb
Apesar de ser uma região que tradicionalmente valoriza o ensino - até pelo histórico de colonização pelos Salesianos, que têm como lema evangelizar pela educação -, São Gabriel apresenta desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) abaixo da média nacional.

Em comparação com Campinas, por exemplo, a pontuação da cidade amazonense é significativamente menor, sobretudo nos anos iniciais no ensino fundamental. Veja o gráfico, abaixo.10. Escolaridade
Apesar da nota abaixo da média o Ideb, São Gabriel da Cachoeira tem, segundo a professora e pesquisadora do Alto Rio Negro da Universidade Federal do Amazonas, Ivani Ferreira de Faria, o maior nível de escolaridade entre as populações indígenas do Brasil.

De acordo com ela, é muito comum indígenas com mais de um curso superior por ali. A explicação, para a estudiosa, seria o reflexo da colonização salesiana e também a questão da falta de oportunidades de emprego na região.

Esse interesse pode ser a explicação também para o fato da cidade ter concentrado a maior parte das inscrições para o primeiro vestibular indígena da Unicamp.

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2018/11/28/unicamp-cheg…

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