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Uma obra acima de qualquer suspeita

OESP, Economia, p.B2
Autor: SKAF, Paulo
25 de Jan de 2006

Uma obra acima de qualquer suspeita
Opinião
Paulo Skaf
Hoje, ao contrário de poucas décadas atrás, quando o acesso à informação era restrito, todo cidadão tem uma rápida resposta para a pergunta: qual o caminho para minimizar a miséria e o desequilíbrio social? Desenvolvimento, empregos e renda. Para isso, precisamos ser tão competitivos quanto outros países que contam com eficaz infra-estrutura de logística. Esta questão é particularmente significativa para São Paulo, cuja indústria responde por 43% do produto interno bruto (PIB) estadual, que, por sua vez, participa com aproximadamente 33% do PIB nacional. O Estado é responsável por 28% das importações e 46% das exportações brasileiras para o Mercosul. Parte expressiva dessa produção circula pelas Marginais, ruas e avenidas da capital e região metropolitana. A cidade é responsável por 25% da frota nacional de veículos. Em números absolutos, são cerca de 6 milhões de automóveis, ônibus, caminhões e utilitários, ou um carro para cada dois habitantes. O setor de logística movimenta algo em torno de US$ 100 bilhões por ano em toda a cadeia - fornecedores, armazenagem e distribuição. É transportado anualmente 1,2 bilhão de toneladas de cargas no Brasil. Assim, é fácil concluir que todos os produtos que passam pela Grande São Paulo, independentemente da origem, são inflacionados pelo item "transporte". A morosidade na distribuição de mercadorias aumenta a cada ano na região. Isso representa inegável ônus para indústria, atacadistas, distribuidores, varejistas e - o mais grave - o consumidor final. Em processo de licenciamento ambiental, o Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas é estratégico para a implementação do transporte intermodal, viabilizando a transposição ferroviária do Brasil Central ao Porto de Santos. É um empreendimento nacional, pois facilitará o fluxo de cargas destinadas à exportação. Concluídos os seus 170 quilômetros, haveria uma redução de 30% nos custos de transporte e logística e de cerca de 15% no tráfego na capital. A importância do Rodoanel, obviamente, não pode ser pretexto para que se desprezem, em sua edificação, os preceitos mais contemporâneos de proteção ambiental na região a ser cortada por seu traçado, na qual há mananciais hídricos, áreas de relevância cultural e comunidades indígenas. Quero crer que já se esgotaram as discussões sobre a necessidade e a viabilidade da obra em um sem-número de audiências. Nunca na História do País um projeto foi tão democraticamente discutido. Diversos avanços técnicos foram agregados ao projeto em razão do processo de licenciamento ambiental, tornando-o adequado às especificidades da região. Atingiu-se nível de amadurecimento técnico e institucional suficiente para uma decisão racional, permitindo a realização da obra e seu devido acompanhamento pelos órgãos competentes e, sobretudo, pela sociedade. A obra está orçada em R$ 2,5 bilhões, dos quais 25%, ou R$ 660 milhões, destinados às compensações ambientais. O empreendimento comprometerá 287 hectares de vegetação; já estão projetadas, porém, a sua substituição por outros 1.017 hectares e a criação de dois parques, que somam 600 hectares, além da recuperação do Parque do Pedroso, com 580 hectares, e da construção de barragens de contenção para evitar que detritos atinjam a Represa Billings. A obra reduzirá significativamente a poluição atmosférica da área urbana, que tem nas emissões dos gases poluentes veiculares e materiais particulados a sua principal causa. Diminuirá o tempo de trânsito e a taxa de congestionamento na cidade de São Paulo, implicando ainda diminuição dos riscos de acidentes com produtos perigosos. O acesso às informações deu uma importante contribuição: praticamente desapareceu o conceito de crescimento desenfreado sem estudos prévios que determinem os impactos das obras de infra-estrutura no meio ambiente. É com base nessa consciência e na constatação de que o Brasil precisa encontrar caminhos para se desenvolver que a sociedade deve cobrar a realização da obra. É assim que se promove a competitividade nas nações civilizadas e democráticas. A construção do Rodoanel é, sem dúvida, um símbolo de respeito aos princípios do desenvolvimento sustentado, necessário à qualidade de vida das gerações futuras e da atual.
Paulo Skaf, empresário, é presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

OESP, 25/01/2006, p. B2

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